Com tantos carros elétricos que estamos vendo serem lançados no mercado, aparece a pergunta para todos: é realmente diferente dirigir um carro elétrico comparado com os tradicionais de motor a combustão? A resposta é sim e não.
Por exemplo,, ao apertar o botão ‘Start’ acontece apenas a energização do sistema de alimentação do motor, nada se escuta. Sente-se falta do ruído característico de acionamento do motor e seu rosnar ao entrar em funcionamento. Ao dirigir, é preciso ficar mais atento a pedestres, ciclistas e fauna urbana pelo fato de carros elétricos não emitirem ruído. Durante o uso do Jaguar I-Pace, por exemplo, vi um pássaro se chocar contra o para-brisa enquanto o veículo estava a 30 km/h. Esse problema é grave e a indústria automobilística está buscando soluções que minimizem esse riscos.
Outra diferença logo sentida para quem não tem experiência com o sistema desliga-liga motor nas paradas (Start-Stop) é o carro parar e não se sentir o motor funcionando em marcha-lenta. É estranho no começo, mas logo se acostuma.
Desafios da engenharia
Em um encontro com engenheiros/dirigentes de vários fabricantes e fornecedores com jornalistas promovidos pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) no final de 2019, ficou claro que atualmente o foco da engenharia é a busca pela redução ainda maior dos níveis de emissões de poluentes, que no final do dia trará a desejada economia de combustível.
O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), iniciado nos anos 1980 entrou na sua 6ª fase em 2014, sendo que a cada fase já completada houve um decréscimo significativo dos níveis de emissões de gases por quilômetro rodado. O nível 7 que entrará em vigor a partir de 2022 trará mais uma redução em todos os parâmetros, que se voltássemos a 1980 todos diriam que seria impossível alcançar esse novo limite. Mas o aparecimento de inúmeras tecnologias, assim como as melhorias do combustível, permite se chegar lá.
Para 2025 o programa contempla a fase 8, na qual os fabricantes serão medidos não por modelos, mas sim corporativamente. O que significa isso? Cada fabricante será medido pelo conjunto de carros fabricados e vendidos, e a média ponderada terá que atender os novos limites.
É uma cópia do Corporate Average Fuel Economy (CAFE) adotado há muitos anos nos Estados Unidos, o Consumo de Combustível Médio da Empresa, no caso fabricante de automóveis.
A solução imediata para essa equação é aumentar a oferta de carros que não emitem gases poluentes para a atmosfera: os carros elétricos.
Um parêntese: aqui entra uma discussão de se o importante é analisar as emissões em toda a cadeia produtiva, chamada do poço (de petróleo) até a roda, ou se apenas o que é emitido pelo cano de escapamento do carro. No caso do Proconve, os limites são para o que é emitido pelo carro, portanto vamos ficar por aqui. No futuro podemos voltar a falar mais sobre o tema do poço até a roda.
Carro elétrico
O que faz realmente diferença para o consumidor nos carros elétricos é sua economia no custo para rodar com energia elétrica em vez de com combustível. Ainda joga contra o carro elétrico o longo tempo de recarga da bateria (que já está ficando menor) e a disponibilidade de estações de carga (que já vem aumentando). Esses dois fatores impedem que você se mova da mesma maneira que se faz hoje com um carro de motor a combustão interna.
O caminho para o futuro já está traçado e não se espera um retorno, veja o que todos os fabricantes estão investindo na eletrificação. Obviamente, em um carro elétrico teremos que mudar os nossos velhos hábitos de uso e mudar nosso modo de dirigir. A partir do momento em que absorvermos esta transformação, poderemos voltar a ter prazer em dirigir e economizar um bom dinheiro.
Adeus conta-giros
No quadro de instrumentos há mudanças significativas. O conta-giros dá lugar a um indicador de consumo instantâneo de energia; o marcador de volume do tanque de combustível é substituído pelo indicador de carga da bateria; a indicação de autonomia, frequentemente apresentada nos dados do computador de bordo, passa a ficar mais à vista do motorista.
Divertido e útil é o gráfico que ajuda o motorista a entender seu nível de economia e cuidado ao dirigir, ou se está jogando energia fora desnecessariamente — tal como num carro convencional, só que modo mais acentuado no carro elétrico.
Esqueça os conceitos de rotações por minuto e termômetros de água ou óleo ou pressão do lubrificante,. Em um carro elétrico o importante — e crucial — é monitorar a autonomia residual com a carga da bateria, e o nível de energia gasto a cada aceleração.
Desempenho
Ao contrário do que se possa imaginar, os carros elétricos podem entregar conforto e desempenho similar ou melhor que seus irmãos de motores a combustão. O torque está disponível imediatamente. Ao pressionar o pedal da direita é como acender um interruptor de luz, a resposta é imediata. E o impressionante é que essa entrega acontece desde 0 km/h, sem o inconveniente escorregamento do conversor de torque.
O resultado é uma aceleração estonteante, e deixa qualquer um boquiaberto. Os modelos mais potentes já apresentados pelos fabricantes podem fazer o 0 a 100 km/h em menos de 5 segundos.
Uma desvantagem ainda é o peso consideravelmente maior do veículo elétrico, o que exige freios mais potentes e maior cuidado com a suspensão para assegurar estabilidade adequada em curvas.
Prudência
É óbvio que todo esse desempenho não pode ser utilizado a todo momento, pois não podemos nos esquecer que a maior parte da energia da bateria é gasta para acelerar a massa do veículo. Você não vai querer correr o risco de ver o indicador de autonomia em nível muito baixo rapidamente. O ideal é aprender a acelerar gradualmente até a velocidade de cruzeiro e a partir desse ponto manter uma aceleração constante. Em geral, 90~120 km/h são velocidades mais eficientes para os veículos que já avaliei.
Todo carro elétrico (e híbrido) tem a propriedade de ao locomover sem que se esteja usando potência, isto é, acelerando, o motor (elétrico) inverter seu funcionamento e passar a ser gerador, a gerar energia elétrica, usada evidentemente para carregar a bateria, Mesmo ao usar o freio ocorre essa função.
O segredo é se adiantar nas ações no trânsito, tentando se antecipar o mais possível às diminuições de velocidade do tráfego à frente, ou se ver na necessidade de reaceleração forte. Por exemplo, tirar o pé do acelerador ao se aproximar de um sinal que está prestes a ficar vermelho irá evitar uma frenagem mais brusca onde o tempo de recuperação de energia é menor, pois os freios convencionais tiveram que ser acionados. Deixar a velocidade cair por si só faz o motor elétrico virar um gerador.
Após um tempo de uso essas simples ações ficam naturais no seu estilo de condução. Dirigindo com o modo “alta regeneração” ou “one-pedal” (um pedal) ativado, o carro começa a frear imediatamente ao levantar o pé do pedal do acelerador e, consequentemente, transformar a energia de movimento em energia elétrica, carregando as baterias.Isso a cada aliviada no pedal do acelerador. O pedal de freio será necessário apenas para a parada completa do veículo, ou em alguns casos para mantê-lo parado.
Aproveitar inércia, recuperar energia
O modo de dirigir precisa de adaptações quando se está ao volante de um carro elétrico. Essa mudança pode ser se acostumar com o silêncio durante uma viagem ou por ficar de olho no consumo de energia, e dessa forma encontrar a maneira mais econômica de dirigir. Em um dado momento você verá que está dirigindo com mais suavidade, mais relaxado ao volante e explorando cada movimento no embalo ou pequena descida para aumentar a carga da bateria e, consequentemente, a autonomia total.
Vários modelos estão equipados com um modo “B” (Brake – Freio) de condução, onde aumentando a resistência eletromagnética do motor elétrico consegue-se maior recuperação de energia nas desacelerações, além de aumentar o efeito freio-motor do carro.
As velocidades médias tornam-se menores, não porque os carros elétricos não podem atingir as velocidades maiores, mas simplesmente porque quando você vê o quanto de energia é gasta em cada aceleração rápida, instintivamente começa a ser mais gentil com o pedal do acelerador.
Estudo da rota
O último capítulo dessa mudança é o estudo da rota. Nem sempre o caminho mais curto é o mais eficiente do ponto de vista de energia. É necessário avaliar as oportunidades e diferenças de rotas nos deslocamentos diários. Uma rota com uma subida muito longa irá consumir muita energia que pode não ser recuperada na descida. Adotar caminhos com menores subidas, mesmo que seja mais longo, pode ser uma solução eficiente.
Para longas jornadas — acima de 300 quilômetros — a preocupação é totalmente diferente. Com um carro elétrico você precisa estudar os pontos de parada para recarga da bateria, e além da disponibilidade de estação de recarga é necessário saber qual o tipo de carregador disponível, para poder calcular o tempo da parada.
Hoje já existem carregadores que conseguem prover 80% da carga da bateria em 30~45 minutos para alguns carros. Uma parada para um lanche com a família em um posto de estrada leva em média esse mesmo tempo. Portanto, não é necessário ficar ao lado da estação esperando a carga. O carro pode ser posicionado, o cabo elétrico é conectado ao carro, seu plugue fica travado com a chave do carro para impedir brincadeiras ou vandalismo de desconectar o cabo. Ao final do lanche é só desplugar o cabo e pegar o carro para dar continuidade à viagem.
Uma dica importante, tenha sempre um plano B, pois sempre há a possibilidade de algum imprevisto, como o carregador estar ocupado com uma fila para utilizá-lo. Portanto, o plano alternativo pode ser a salvação para que todos cheguem ao destino — mesmo que seja no dia seguinte.
Assista ao vídeo:
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