A Farus foi, literalmente, uma empresa de família, fruto da paixão de Alfio e Giuseppe Russo, pai e filho que curtiam carros. Inicialmente, a família Russo (daí vem o nome Farus, FA de família e RUS de Russo), era proprietária de uma metalúrgica produtora de componentes para a indústria alimentícia (Italmecânica), mas a paixão pelas “macchinas” falou mais alto, e em 1977 tiveram início os estudos para a fabricação do primeiro esportivo, na cidade de Belo Horizonte, MG.
Esses estudos levaram à produção dos primeiros protótipos em 1979: o Farus ML 929, um cupê de dois lugares fora-de-série de alta tecnologia, construído em compósito de fibra de vidro sobre um chassi próprio em duplo”Y”, com suspensão independente nas quatro rodas e motor disposto transversalmente entre eixos na traseira. Para a época, uma novidade dentre os construtores fora-de-série, onde a maioria ainda utilizava o chassi do VW Brasília com motor traseiro arrefecido a ar . O ML 929 usava o motor 1300 com carburador de duplo corpo e câmbio de 4 marchas do Fiat 147 Rallye. Outra novidade, pouco comum na época, foi a adoção de freios a disco nas quatro rodas.
O Farus estava realmente um passo à frente de seus concorrentes de pequena produção, e passou a ser produzido sob encomenda a partir de meados de 1980, onde o interesse foi tão grande que, no ano seguinte, ganhou uma linha de produção em série, com capacidade de montar até 15 unidades por mês. Com faróis escamoteáveis, lanternas traseiras do Corcel II e duplo porta-malas (dianteiro e traseiro), o ML 929 vinha com equipamentos como ar-condicionado, vidros elétricos, bancos forrados em couro e teto solar na versão mais luxuosa.
No Salão do Automóvel de 1982, a marca apresentou o modelo TS 1.6, com a mesma concepção visual do ML 929. Esse carro atendia as expectativas de quem queria um desempenho mais acentuado: em vez do motor 1300 Fiat, era adotado o 1600 utilizado pelo VW Passat TS, que na época dispunha de bons 80 cv (potência líquida), e o câmbio de 4 marchas também vinha do VW esportivado.
Construtivamente, algumas mudanças: em vez do conjunto motor-câmbio serem posicionados transversalmente, a nova mecânica VW era longitudinal, com o câmbio para trás e o motor para frente, como no Passat. Agora tínhamos um conjunto longitudinal, entre eixos, colocado na traseira, fato que resguardava a boa dinâmica do Farus. No Farua TS 1.6, o ar-condicionado passava a ser de série e as lanternas traseiras, antes do Corcel II, agora eram do VW Voyage, para se diferenciar da versão anterior com motor 1300.
Em 1984, também na exposição do Salão do Automóvel, aparecia o Beta, oferecido com carroceria cupê ou conversível, motor 1,8 do Monza posicionado transversalmente entre eixos, e até opção de câmbio automático. Como sempre, junto com a nova mecânica, vinham as novas rodas e algumas leves modificações no exterior. Dois anos depois, o motor 1,8 foi substituído pelo 2-litros, também do Monza e, no Salão do Automóvel de 1988, o conjunto mecânico voltou a ser VW, com motor AP 2000 carburado e câmbio manual de 5 marchas do Santana.
Em 1989 a Farus chegava com sua última criação. Batizado de Quadro, o modelo era inspirado no Audi quattro dos anos 80 (daí a origem do nome Quadro), e fugia do conceito construtivo da fabricante: nol lugar de motor central e apenas dois lugares, o Quadro era mais convencional, com tração dianteira, quatro lugares (2+2), chassi tubular periférico e freios a disco apenas nas rodas dianteiras. Com lista de equipamentos similar aos modelos anteriores, o Quadro mantinha poucos detalhes do Beta, e já usava lanterna traseira do VW Gol.
Algumas curiosidades da Farus são a série especial Gucci do TS 1.6, feita em parceria com a grife italiana em 1982, que se diferenciava por ter um acabamento mais refinado, além de som estéreo e ar quente. No mesmo ano, o projeto Fargo (furgão, picape e van para cerca de 15 passageiros), utilizaria motor Fiat diesel (de exportação), mas o projeto não foi concluído; e a parceria contratual malsucedida com uma importadora dos EUA em 1986, que planejava levar para lá uma grande quantidade de unidades de Farus, mas todas equipadas com um motor Chrysler 2,2, o que acabaria dificultando o processo de fabricação, exigindo uma fábrica nova e maior. Graças a essa parceria, a Farus acabou aparecendo no Salão de Nova York de 1987, onde seus modelos foram bem aceitos no mercado americano, mas, no final, o negócio acabou não se concretizando.
Em 1990, a Farus foi comprada da família Russo por um grupo empresarial paulista, que assumiu o comando da empresa. O que eles não contavam era que, meses depois, as importações seriam reabertas, o que prejudicou diretamente as pequenas fábricas dos carros fora-de-série nacionais, incluindo a Farus.
Oficialmente, a empresa mineira faliu em 1991, com aproximadamente 1.200 carros produzidos ao todo, deixando órfãos aqueles que curtiam as tecnologias construtivas daqueles interessantes esportivos feitos por uma família italiana.
DM
A coluna quinzenal “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
FICHA TÉCNICA FARUS ML 929 | |
Motor | Fiat Fiasa, 4 cilindros em linha, central-traseiro transversal, comando no cabeçote, correia dentada, carburador duplo, gasolina |
Cilindrada (cm³) | 1.297 |
Diâmetro e curso (mm) | 76 x 71,5 |
Potência bruta (cv/rpm) | 72/5.800 |
Torque bruto (m·kgf/rpm | 10,8/4.000 |
Câmbio | Transeixo traseiro Fiat, 4 marchas e ré |
Suspensão | Independente McPherson dianteira e traseira |
Direção | Pinhão e cremalheira |
Freios | Disco nas quatro rodas |
Pneus | 185/70R13 |
Construção | Cupê 2+2, chassi de viga em “Y”, carroceria em compósito de fibra de vidro |
Dimensões (mm) | |
Comprimento/largura/altura (mm) | 4.000/1.683/1.100 |
Distância entre eixos (mm | 2.400 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 932 |
Capacidade do tanque (L) | 80 |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 17,1 |
Velocidade máxima (km/h) | 150 |
Consumo cidade/estrada (km/l) | 8,6/13,5 |
Fonte: Carros na Web |
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