O mercado de automóveis vai mal, obrigado, mas com perspectivas razoáveis. É o que sinaliza o mercado pós-pandêmico. Que muitos resolveram chamar de “novo normal”, seja lá o que isso possa significar…
O italiano Antonio Filosa, que comanda a FCA na América do Sul, em entrevista na semana passada para a CNN Brasil, acionou sua bola de cristal para prever o comportamento do setor neste futuro que, imagina-se, seja menos sombrio do que se imagina. Disse estar otimista (mas não muito…), apesar de possíveis retrações provocadas por um novo comportamento do consumidor, ou seja, a adesão ao car sharing, à locação, ao home office, às reuniões online, à bicicleta elétrica e sabe-se lá que outras opções que prejudicam a venda de automóveis.
A se confirmarem essas tendências, com uma inevitável queda no volume de consumidores, Filosa acena com hipóteses que seriam um contraponto a estas previsões negativas. Nas teorias da física, é o que se chama de “a cada ação existe uma reação igual e de sentido contrário”…
As hipóteses levantadas pelo “big shot” da FCA formam um tripé que injetaria ânimo no setor:
1. Demanda reprimida. Durante os meses da pandemia, muitos clientes abonados, em condições financeiras de renovar a garagem, se retraíram e consideraram mais adequado aguardar os acontecimentos. Até por estarem literalmente isolados e privados do sagrado direito de ir e vir, com seus habituais destinos lacrados pelo Covid-19.
Um efeito psicológico reforça este argumento: a sensação de muitos que, tolhidos de sua liberdade e seus prazeres durante meses, vão acionar com mais entusiasmo seu “animus comprandi”. Se o mundo voltou a se abrir— é o que pensam — não vou deixar por menos e gozar de tudo a que tenho direito. E com muita força…
2. Home office. Uma considerável parcela do público procurava, por uma questão de praticidade, morar nas proximidades de seu local de trabalho. A uma ou duas estações de metrô, por exemplo. Ou mais perto ainda. Mas a pandemia provou não ser determinante a necessidade presencial na loja ou no escritório. Muitas vendas, negócios ou reuniões na empresa ou entre duas delas estão sendo realizadas online. O que não significa o fim do relacionamento “olho no olho”, mas que vai ocorrer com menor frequência.
Com a redução da presença no local de trabalho, o funcionário pode imaginar um “deslocamento habitacional”, ou seja, sair em busca de um local mais aprazível para morar. Trocar o apartamento no centro da cidade por outro, ou por uma casa, em condomínios campestres, por exemplo. Neste caso, a família que não tinha carro na vaga, passaria a encarar a possibilidade de comprá-lo. A que se contentava com um único, passa a pensar no segundo.
3. Privacidade: Um batalhão de trabalhadores que sempre se utilizou do transporte coletivo e jamais pensou no individual, pode mudar de ideia. Muitos que tinham dúvidas entre a posse ou não de um carro ou moto, receberam um bom estímulo para refletir sobre suas vantagens. A pandemia foi mais um argumento para os benefícios de se contar com seu próprio veículo. E a outra parcela, que nem cogitava desta hipótese, passou a considerar o sacrifício financeiro para reduzir os riscos sanitários de se utilizar de um ônibus, trem ou metrô.
Além disso, as fábricas não entregaram os pontos e, com ou sem Covid-19, não interromperam o programa de lançamento de novos modelos. Só na semana passada, o grupo Caoa apresentou o Arrizo 6, a Volkswagen iniciou a pré-venda de seu novíssimo utilitário-cupê-hatch-crossover-suve Nivus. E a Fiat atacou com a Nova Strada. Todos, naturalmente, online.
Finalmente a associação dos fabricantes (Anfavea) estima que o governo federal está sensibilizado para— direta ou indiretamente —apoiar o setor e amenizar o tamanho do tombo na produção e vendas este ano.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.