A conta bancária está baixa para um zero-quilômetro, mas apareceu um usado atraente que cabe no bolso. Pelo menos era o que você pensava até começarem a pipocar os gatilhos mandados fazer pelo antigo dono.
1 – Airbag: Não existe reparo para a bolsa inflável. Se foi inflada num impacto ou por qualquer outro motivo, tem que ser substituída. Como é cara, muitos recolocam a tampa, sem nada dentro, e dão um jeito apagar a luz de alerta de problema do dispositivo que existe no painel (foto acima).
2 – ABS: Outro sistema eletrônico com elevado custo de reparo. Solução do proprietário anterior mau-caráter? Deixa o defeito e manda apagar a luz de alerta, pois o freio do carro continua atuando bem. O novo dono só vai perceber a falta do ABS quando as rodas travarem inesperadamente numa freada de emergência.
3 – Válvula termostática: Quando emperra fechada, o líquido de arrefecimento não circulará pelo radiador e irá ferver, levando o motor a superaquecer Ao invés de substituí-la, é simplesmente eliminada. O problema do aquecimento se resolve, porém o motor passa a trabalhar em temperatura inferior à ideal em situações como descida de serra ou em dias frios, funcionando mal, consumindo mais combustível e diluindo o óleo no cárter.
4 – Pneu frisado: Numa olhada rápida, estão ótimos. Para depois se perceber que os sulcos foram criminosamente aprofundados, tornando o pneu suscetível a esvaziamento súbito..
5 – Aquecimento do interior: Os dutos de água do sistema de aquecimento interno se enferrujaram, racharam e ela passou a vazar na cabine. Ao invés de reparar, isola-se o sistema. O novo dono só vai perceber que o aquecimento não funciona quando o inverno chegar…
6- Manchão: A banda de rodagem do pneu se danificou, sem possibilidade de reparo. Primeiro gatilho: colocar uma câmara de ar, alterando a característica do pneu de não perder ar se perfurado por pequenos objetos. O segundo gatilho é colar um grande pedaço de borracha interno, desbalanceando fortemente o conjunto e tornando o balanceamento difícil ou impossível.
7 – Roda reformada: Roda de liga leve se quebrou num acidente. Ao invés de uma nova, ela é recuperada com solda. Que pode apresentar fissuras internas, invisíveis a olho nu. Mas que, num esforço maior, pode se romper, com consequências imprevisíveis..
8 – Sem garantia: É usado, mas ainda tem garantia de fábrica. Mas não foi levado à revisão obrigatória na concessionária, ou teve instalado acessório não homologado, por exemplo. Uma vez que a obrigação não foi cumprida, a garantia já era….
9 – Acionamento elétrico dos vidros tipo um-toque: Não é de fábrica, mas colocado depois, fora da concessionária. Pode não contar com a (obrigatória) estratégia antiesmagamento, com chance de provocar um acidente grave ou mesmo fatal.
10 – Viscosidade: Motor muito velho, problemático ou fumacento? Basta colocar um óleo bem mais viscoso (grosso) para mascarar a deficiência.
11 – Sonda lambda: Ela detectou um problema e fez acender uma luz no painel. Solução: aplicar o “delete a sonda” que apaga a luz sem descobrir a causa. Vale também para o carro que teve o catalisador eliminado.
12 – Câmbio ou diferencial: Está com barulhos comprometedores? Nada como um grafite bem aplicado para rodar mais alguns quilômetros…
13 – Disco de freio: As pastilhas (baratas) foram trocadas. Mas o disco de freio (caro) continuou mesmo danificado na superfície de atrito ou fora de medida, espessura inferior à mínima.
14 – Vela ou cabo: Problema? Basta substituir apenas aquela vela ou cabo, mesmo sabendo que — em curto prazo — outros vão causar falhas também.
15 – Correia dentada: Troca-se a correia dentada mas, eventualmente, pode ser necessário trocar também o rolamento do esticador. Como é mais caro, deixa pra lá…
16 – Vazamento: Ar-condicionado vaza gás refrigerante e o reparo pode custar muito. Mas, uma carga para quebrar o galho por algumas semanas (ou dias) custa pouco…
17 – Óleo: Luz da pressão de óleo se acendeu. E não é o nível, é problema grave no motor. Solução simples: “jump” para apagá-la…
18 – Pintura: Reparo malfeito. Porém, nada de refazê-lo, fica mais “em conta” aplicar ceras especiais que despistam a pintura fora do padrão.
19 – Amortecedor: O novo é caro, recondicionado é barato, mas este não tem a mesma carga do original, além de nada garantir que a haste não venha a se romper, desarmando completamente uma suspensão McPherson…
20 – Câmbio automático: Começou a dar uns trancos e/ou não passar as marchas. Reparo tem custo elevadíssimo. Aditivo “lubegard” é baratíssimo e alivia o problema por mais alguns quilômetros.
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BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor
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