O título é inspirado num magnífico livro de ficção publicado em 1960 e que se tornou best seller, intitulado :”Anatomy of a murder”, de autoria de Robert Traver que, se não me engano gerou um filme. O autor esmiúça todos os detalhes durante o julgamento das circunstâncias em que ocorreu o crime,.
Foi este aspecto, de esmiuçar, que me inspirou a escrever este artigo que, praticamente complementa o meu anterior. Tudo é originário da omissão dos responsáveis pela política e o ensino do controle do trânsito, ignorando a filosofia que deve orientar a ação de controlá-lo, antes de se aplicar a ciência.
A ignorância do conselho basilar de “meu guru” Sir Alker Tripp, lendário diretor de trânsito de Londres na década de 1930, de priorizar as medidas construtivas antes de utilizar as restrições legais, tornaram quase nulos,os efeitos das autuações do Código que o regulamenta, no que concerne a segurança e a utópica paz no trânsito.
Henry Barnes, diretor de trânsito de Nova York por oito anos nas décadas 1950 e 1960, já nos alertava que: “trânsito é povo em movimento cumprindo as três funções do urbanismo”.Assim sendo, não foi por acaso que o Hand Book of Traffic Engineering, publicação básica do Instituto dos Engenheiros de Tráfego dos Estados Unidos, em seu capítulo dedicado ao estudo do comportamento do motorista, enfatiza: ”Quanto melhor conhecer os hábitos doa habitantes na cidade onde irá trabalhar, mais fácil será a sua tarefa”. Por isso, vamos analisar a anatomia do acidente, verdadeira pandemia que atinge primordialmente os jovens.
Comecemos citando as reações que comandam o comportamento do motorista, um “primata condicionado”, vítima maior desta doença.
Ele está comandado, quando ao volante, pelo principio do P.I.E.V., onde “P” é de percepção, “I” é de inteligência, “E” é de emoção e “V” é de volição. Portanto, se ele é o maior interessado pela sua segurança, por que se comporta erroneamente e morre?
È preciso que se dê a ele uma sinalização que o irá condicionar às condições da pista e da situação do tráfego para que ele, de fato, a perceba e tenha tempo de percebê-las, considerando a velocidade máxima permitida. Sinalizar uma redução de velocidade numa rodovia sem anteceder a sua execução com uma pré-sinalização de aviso, constitui uma armadilha para o motorista.
Tal medida, levada ao exagero nas rodovias britânicas, nunca foi usada no Brasil. Afinal, é preciso que se tenha em mente que o motorista é o maior interessado, pela sua segurança, caso não esteja embriagado.Aliás, o alto nível de acidentes por embriagados (8%), acusado em nossas rodovias, se acrescido da desobediência dos motoristas ao Código de Trânsito, pelo mesmo motivo, (8,9%), alerta que algo está errado na fiscalização.Por que, nas rodovias pedagiadas, não se testa a alcoolemia do motorista nos postos de pedágio, por amostragem, pela observação de seu procedimento.Além do que o nível de tolerância zero é outra agressão do Código, uma vez que os médicos o condenam considerando que até 0,2 por cento de teor alcoólico,nada acontece.
Quanto à Inteligência, ela se faz presente no grau de habilidade de dirigir, e sendo o motorista o maior interessado em sua segurança, o acidente é provocado por ele quando sua inteligência é superada pelas reações da Emoção e Volição provocado pelas causas mais diversas, sendo a principal a ingestão de álcool acima do tolerado pela medicina especializada.
Quanto à Emoção, ela é fruto de sermos latinos, num país tropical e com um tráfego urbano de baixíssimo rendimento na sua mobilidade, tudo contribuindo para ele “ir à forra” nas rodovias ou nas vias expressas urbanas., onde a tolerância dos limites de velocidade é mais ampla, embora ela tenha diminuído nos últimos anos. As estatísticas comprovam o que aqui afirmo..
Finalmente a Volição, a vontade forte, atuando junto com a Emoção, domina o comportamento, obliterando a Inteligência.
Presidindo este ambiente macabro, as enormes deficiências de nossas rodovias, principalmente a covardia política de não proibir o tráfego de veículos lentos nos fins de semana ou feriados em rodovias de duplo sentido, prática adotada nas excelentes rodovias alemãs há mais de 40 anos, a fim de não atrapalhar a circulação de automóveis em rodovias sem limite de velocidade. Tal falha operacional mais ocorre em Minas Gerais, que possui vasta malha rodoviária em mão dupla e lidera sempre as estatísticas de acidentes, logicamente por ultrapassagens indevidas.
Infelizmente , como se diz num fado “tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado” que tem sempre, em sua maioria, uma mensagem melancólica., como esta que agora lhes enviei..
CF
Celso Franco escreve quinzenalmente aos sábados no AE sobre questões de trânsito.