Inspirado nos especiais de construção privada que eram equipados com motores Porsche, o 550 foi introduzido pela primeira vez no Salão de Paris de 1953. Construído para correr e vencer, o projeto era cheio de propósito. No entanto, 67 anos depois, as curvas provaram ter envelhecido muito bem mostrando que também era um carro incrivelmente bonito. Na pista há um sentimento de arte cinética.
O 550 foi um verdadeiro matador de gigantes com seu motor boxer de 1,5 litro superando muitos carros de corrida de maior cilindrada, ajudando a aumentar a presença da Porsche nas competições, iniciada com o cupê 356.
Gradualmente, o 550 foi sendo desenvolvido e as vitórias clássicas em Le Mans e o sucesso na Carrera Panamericana, no México, se seguiram rapidamente. Hoje a Porsche usa o nome Targa em sua linha de modelos por um bom motivo: o carrinho de corrida de peso leve deu à Porsche sua primeira vitória na classificação geral em uma prova que reunia os principais carros esporte, a Targa Florio de1956, na Sicília. Venceu os “locais” Ferrari e Maserati com seus carros de competição de maior cilindrada.
Motor Fuhrmann
Os engenheiros da Porsche haviam planejado um motor totalmente novo para impulsionar o Spyder na exaustiva Carrera Panamericana, mas os primeiros testes determinaram que o motor boxer de quatro cilindros e 1,5 litro arrefecido a ar do Dr. Ernst Fuhrmann, Tipo 547, não estava totalmente pronto. Assim, os primeiros chassis foram equipados com motores Porsche de comando de válvulas na carcaça convencionais. Logo, no entanto, a confiabilidade foi garantida e o novo ‘Four-Cam’ (quatro comandos de válvulas) seria instalado em todos os 550s, 550As, RSKs, 356 Carreras e 904s que viriam a seguir.
Este motor maravilhoso, mas complexo, era chamado de “motor de gaveta” porque seus desenhos de engenharia eram rapidamente escondidos na gaveta da mesa de Fuhrmann sempre que Ferry Porsche entrava em seu escritório. Era uma unidade toda em liga leve de 1.498 cm³. Suas duas árvores de comando de válvulas em cada cabeçote eram acionadas a partir do virabrequim roletado patenteado da Hirth, por uma série de árvores e engrenagens cônicas.
A duração dos comandos e os tempos de abertura e fechamento de válvulas levou dezenas de horas de trabalho para ser estabelecidos corretamente, mas uma vez que todo o trem de acionamento foi finalmente definido, o motor de alta rotação ficou totalmente confiável.
Apresentava lubrificação por cárter seco e duas velas de ignição por cilindro. Com taxa de compressão de 9,5: 1 e respirando através de dois carburadores de fluxo descendente Solex PII de corpo duplo, este motor produzia uma potência de 110 cv a 6.200 rpm com torque de 11,8 m·kgf a 5.000 rpm. Em um carro que pesava apenas 590 quilogramas (relação peso-potência de 5.36 kg/cv), os 550s tinham rápida aceleração e eram capazes de atingir velocidades máximas de 210 km/h, dependendo da relação de câmbio empregada.
Fora das pistas de corrida, a associação com James Dean sempre significou que o 550 também era um ícone da moda. Conhecido como “Pequeno Bastardo”, ele será sempre lembrado por milhões como o carro que tragicamente o tirou de nós tão cedo. As imagens de James e seu 550 são relembradas em todo o mundo.
O Porsche 550 Spyder desta matéria, tão lindamente capturado em fotos por Stephan Bauer, foi recentemente colocado à venda pela Auxietre & Schmidt, sediada em Munique e Versalhes. Christophe Schmidt, da Auxietre & Schmidt, está hipnotizado por sua beleza: “Para mim, o 550 Spyder é a quintessência dos carros da Porsche. Realmente me fascina como eles construíram seu primeiro carro de corrida de verdade com o único propósito de vencer corridas e, em seguida, ele acaba sendo um dos os carros mais bonitos já construídos.”
O chassi 550-0050 é um dos únicos dos 90 exemplares construídos de fábrica. Concluído em 28 de junho de 1955, foi entregue a Jim Cook, que correu com o carro ao lado de C. Pitt Browne até 1965. Em meados dos anos 80 o carro estava em Las Vegas, antes de seguir para o Japão.
No final dos anos 1980, o proprietário, um certo Sr. Yoshida, decidiu embarcar em uma restauração de fundo, na qual nenhuma despesa foi poupada. O carro possui um dossiê de restauração completo e original, que inclui centenas de fotografias e correspondências. Christophe acrescenta: “Mesmo que tenha sido realizada há 30 anos, a restauração neste 550 Spyder foi executada de forma profissional e meticulosa, como eu raramente vi antes. A cada duas semanas durante o processo de 4 anos, o proprietário do Spyder recebeu um conjunto de fotos com uma descrição detalhada de cada uma delas. Tudo está salvo em seis lindos álbuns de fotos em estilo japonês.”
Este carro teve alguns proprietários fascinantes em sua ilustre carreira. Por exemplo, o colecionador e entusiasta de Porsche, Claude Picasso — filho de Pablo Picasso. Claude Picasso inscreveu o carro na prova Targa Florio histórica e na primeira parte da corrida de Le Mans Classic em 2002. Em 2005 o carro foi leiloado em Paris e comprado por David Holder, presidente da Ladurée (padaria de luxo francesa fundada em 1862), que permaneceu como proprietário até que o carro fosse vendido ao seu atual proprietário em 2008. Desde então, o carro teve pouco uso e raramente foi visto em público.
O Porsche 550 é certamente um dos carros mais bonitos fabricados em Stuttgart e este exemplo tem uma boa história de corridas de época, mas não tão significativa quanto se você fosse se sentir mal adicionando mais alguns quilômetros a ele. Tendo vivido uma existência relativamente tranquila nos últimos anos, agora é certamente a hora de enviar este exemplo impressionante de volta aos holofotes com inscrições possíveis em alguns dos eventos de automobilismo mais prestigiados do mundo.
Agora a cereja do bolo! Bob Sharp conta sobre o primeiro 550 a vir para o Brasil:
Saibam que o segundo 550 fabricado correu no último Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no Circuito da Gávea, em janeiro de 1954, pilotado pelo alemão Hans Stuck, o mesmo Stuck que havia corrido em 1937 com o Auto Union C, V-16 6-litros com compressor, 550 cv numa disputa memorável com o italiano Carlo Pintacuda, de Alfa Romeo 8C 35, 8 cilindros em linha 3,8- litros com compressor, 450 cv, que venceu a corrida.
Vista geral da largada do último Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no Circuito da Gávea. A seta amarela indica o 550 pilotado por Hans Stuck (Foto do livro “Circuito da Gávea”, de Paulo Scali). Ferry Porsche incumbiu Stuck de vender o 550 aqui, pois a firma, ainda engatinhando na produção de veículos (começou em 1948) precisava desesperadamente de caixa. Não terminou a corrida, por travamento da bomba de óleo. Uma semana depois correu em Interlagos, onde chegou em primeiro na sua classe e em quinto na classificação geral. Comprou-o Ricardo Fasanello, da família das Casas Lotéricas Fasanello, que acabou batendo com o carro na rua.
O piloto paulistano Christian Heins comprou-o de Fasanello, e como tinha bom relacionamento com Ferry Porsche,, mandou o carro para a Alemanha para consertar. O carro voltou para o Brasil consertado, mas com outro motor, o Tipo 547 “Fuhrmann” de quatro comandos, o que aparece nas fotos.
O carro correu na Gávea e em Interlagos ainda com o motor 1500 de comando na carcaça, como nos 356.
Pois assisti a essa corrida pelo fato de a família morar a cerca de 400 metros do ponto da largada. Eu tinha feito 11 anos recentemente (novembro) e da casa, na rua Piratininga, até a rua Marquês de São Vicente, a dos trilhos de bonde, eram no máximo 50 metros.
Nesse ponto da largada, lado esquerdo do grid, menos de 50 metros subindo, ficava a Escola Pública Luiz Delfino, onde fiz o então curso primário, concluído em 1953. Nos treinos das corridas no Circuito da Gávea as aulas paravam e todo mundo corria para o muro para assistir. Como era bom ver tudo aquilo tão de perto!
Segue um vídeo (04:48 – em inglês) produzido pela Auxietre & Schmidt, com lindas imagens inclusive do Spyder andando na pista com seu incrível ronco.
Para concluir a matéria uma opinião da Revista Road & Track, edição de fevereiro de 1957: “Combinando desempenho incrível, manuseio sem falhas e freios excelentes, não é de admirar que o Porsche 550 Spyder. . . é o carro a bater. . . “
AG
(Atualizada em 9/11/20 às 23h50,, correção resultados nas corridas da Gávea e em Interlagos)
Matéria extraída (adaptada e ampliada) do site Classic Driver (classicdriver.com) de 03/11/2020
Por Tim Hutton — Fotos de Stephan Bauer
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