A compra não é racional, é emocional. Por isso, o freguês não se preocupa com o consumo, manutenção, pneus…
O consumidor sempre encontra uma desculpa racional para justificar a compra motivada pela emoção, status, ou para estar na moda.
Durante os anos ‘1970/80, nosso mercado foi o único no mundo a exigir automóveis de duas portas. Explicação racional, nenhuma. Tinha madame com motorista que fazia contorcionismos para se acomodar no banco traseiro de um Opala…cupê.
Mais recentemente, a paleta de cores dos automóveis no Brasil sofreu com a ditadura do PP (só carro preto ou prata). Súbita alteração nas tendências cromáticas levou o brasileiro a se deleitar agora com o branco e vermelho.
Mas a moda é dinâmica e o novo sinal de sucesso atualmente é apartamento com Espaço Gourmet e suve na garagem…
Embora os utilitários esporte — esporte no sentido de lazer — naveguem na contramão da história, da política ambiental, dos esforços para redução de consumo e emissões e de um veículo mais adequado às atuais demandas do planeta, ele vieram viram e venceram.
Maiores, mais elevados, pesados, compridos e menos aerodinâmicos, gastam mais combustível, poluem mais e sua estabilidade depende de controles eletrônicos. Alguns, como o Toyota RAV4, dão vexame no teste do alce mesmo repleto de eletrônica. Até lava-jato cobra mais quando chega um suve…
São mais difíceis de manobrar e exigem vagas maiores em estacionamentos e garagens. E coitado de quem estiver hoje num desses automóveis obsoletos e caretas que ainda insistem em circular por aí: atingido por um desses monstrengos, são raras as chances de sobrevivência.
Apesar da pretensão e aparência de desbravador de rincões, são raramente dotados de tração integral. Até dispensável, pois se limitam a levar crianças para a escola e fazer compras no shopping.
Mas tem uma (frágil) argumentação em seu favor: proporcionam maior visibilidade e ultrapassam incólumes os obstáculos de nossas vias, tanto buracos quanto lombadas.
Apelam também ao duvidoso argumento de acomodar melhor a família, muito embora não levem vantagem nenhuma ao compará-los com as peruas, ou station wagons — camionetas de uso misto, seu nome oficial, Eliminadas do mercado pelos suves, algumas oferecem até maior capacidade de bagagem. Sumiram também os hatches médios e os sedãs lá vão pelo mesmo caminho.
Há também a questão de ao volante de um suve, as mulheres acharem que se empoderam.
Embora construídos com arquiteturas semelhantes às dos automóveis e equipados com mesma mecânica, as fábricas conseguem vendê-los por preços mais elevados, contabilizando lucros muito maiores com os suves.
Vieram para ficar ou trata-se apenas de um modismo?
Quem responde é o chefe de design da GM nos EUA, uma das marcas que estão abandonando outros modelos para se dedicar aos suves: ele disse — “na lata” — não acreditar que a moda dure mais que dez anos.
Aliás, a mania lá nos EUA é pior e engloba também as picapes: campeãs de vendas há muitos anos, tem pai de família com esposa e três filhos que não abre mão da sua. Com cabine simples para motorista e dois passageiros…
Eu detesto suves e adoro automóveis. Não troco meu sedã, que anda agradavelmente grudado no chão, com um enorme porta-malas e sem dependência da eletrônica nas curvas, por suve nenhum deste mundo.
E me divirto quando alguém que tenha aderido ao modismo quase cai para trás quando chega a conta da troca de pneus, pois ignoravam que os dos suves custam, em geral, o dobro dos utilizados pelos automóveis.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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