Duas fábricas já negaram parceria. E Herr Diess, manda-chuva da VW, diz não se preocupar com o “iCar”
Cheguei com meu iPad na redação para baixar um texto escrito em casa. Só quando o abri, me lembrei de não ter recarregado a bateria. Mas o pessoal disse para não me preocupar pois resolveriam o problema com alguns dos vários cabos e carregadores na redação.
Foi quando lembramos tratar-se de um aparelho da Apple: nenhum outro cabo se conectaria para recarregá-lo. E tive que reescrever a matéria.
Na semana passada, tive um problema com meu iPhone, e a oficina especializada disse que — aquele reparo — só na loja da Apple. O orçamento veio tão elevado que declarei finalmente minha independência da marca depois de muitos anos de fidelidade. Por um punhado de reais adicionais, tornei-me o feliz proprietário de um Xiaomi, celular chinês recomendado por vários amigos.
A Apple pretende produzir um carro e procura um parceiro entre as fábricas do setor. Seu raciocínio está correto, pois automóvel cada vez é mais um computador sobre rodas. A Apple domina como ninguém o software, mas não entende nada sobre fabricação de carros, uma das mais complexas operações industriais do mundo.
Então, a ideia de lançar seu próprio automóvel levou-a — corretamente — a confiar a produção de seus veículos elétricos a uma fábrica experiente nesta operação.
Porém, as duas primeiras (Hyundai e Nissan) procuradas não quiseram nem conversar, já que a condição é de o produto ter seu nome. (iCar, provavelmente…).
Por outro lado, Herbert Diess, presidente do Conselho da Volkswagen, disse — segundo a agência Reuters — que “A indústria automobilística não é um setor tecnológico que se assume num estalar de dedos”. E acrescentou que “não é surpresa essa ideia da Apple, pois ela tem know-how em baterias, software, design e um gigantesco saldo em caixa. Apesar disso, não estamos preocupados”.
Outras gigantes da informática como Google e Microsoft estão também de olho nesta oportunidade de participar do carro do futuro. E já estão estabelecendo algumas parcerias nesse sentido. Começar com um elétrico é a melhor receita para se adquirir know-how até chegar ao autônomo.
Eu pessoalmente jamais compraria um carro da Apple, baseado na minha experiência com iPhone, iPod, iPad e outras traquibandas da marca. Pois já estou imaginando o dono de um “iCar” encostando numa loja de pneus para trocar o jogo.
“Pois é doutor, agradeço sua preferência, mas os pneus para seu carro, só na loja da Apple”.
Na semana seguinte, ele ouve: “Desculpe doutor, mas não temos em estoque pastilhas de freio para seu carro. O senhor só vai encontrá-las na Apple”.
O dono do iCar só não será obrigado a abastecer com gasolina especial num posto da Apple pois ela só pretende produzir automóveis elétricos…
Mas, se eu bem conheço a Apple, ela vai tentar a mesma estratégia da Tesla, de obrigar seu carros a recarregarem a bateria somente em seus próprios eletropostos. A escravidão não muda: o cabo de recarga do iCar não se encaixaria nas tomadas genéricas. Nem o de outros veículos elétricos nas da Apple…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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