Motorista brasileiro é tão desinformado sobre combustíveis que às vezes nem sabe qual o ideal para seu carro.
1 – Para que gasolina aditivada? É tão importante que nos principais países toda gasolina é aditivada. Era para ser assim aqui também a partir de janeiro de 2014, mas a medida determinada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) não foi adiante e acabou engavetada no governo Dilma Rousseff. Isso porque a gasolina tem um elevado teor de carbono, que provoca formação de depósitos na cabeça do pistão, câmara de combustão, dutos de admissão e escapamento, válvulas e eventualmente injetores, na queima normal da gasolina. Os aditivos dispersantes-detergentes evitam estes depósitos de carvão que, com o tempo, irão afetar o funcionamento do motor — causar a pré-ignição, prejudicar o desempenho e aumentar o consumo e as emissões, por exemplo. Motorista quem não tem confiança no posto, pode abastecer com a gasolina comum e ele mesmo aditivá-la, seguindo as instruções no frasco do aditivo. Há vários do tipo detergente-dispersante, um deles o ACDelco Flex Power. da GM.
2- Dinheiro no lixo? A desinformação é total: corre até a “informação” de que abastecer com gasolina premium é jogar dinheiro pelo escapamento. Só é verdade se o motor, pelas suas características, não requerer esse tipo de gasolina, caso dos motores de aspiração natural de taxa de compressão contida, como até 11:1, a maioria dos nossos carros — embora haja motores com taxa de compressão mais alta, como os Fiat Firefly 1-litro tricilindro e 1,3-litro quadricilindro. com 13,2:1, que mesmo assim não precisam de gasolina premium. Mas não é verdade no caso dos importados mais sofisticados ou esportivos com motores de elevada potência específica, especialmente os turbocarregados. Seus motores só entregam toda sua potência com gasolina de maior octanagem. Mas mesmo motores que foram projetados para ela podem usar a comum e a comum aditivada vendida no Brasil sem risco de danos ao motor. Apenas não desenvolverão a potência declarada, além de virem a consumir pouca coisa a mais.
3 – Qual evitar? Muitos não acreditam, mas as nossas gasolinas comum e comum aditivada podem ser utilizadas em qualquer motor. Sua octanagem é a par com a dos principais países e até um carro importado e sofisticado pode ser abastecido com a comum/aditivada mesmo que a fábrica (ou as concessionárias) insistam na premium. Só para entender, na Europa há basicamente duas gasolinas, a Super de 95 octanas RON (a comum e a comum aditivada daqui) e a Super Plus, de 98 RON, esta a nossa premium, caso da Shell Racing (as outras premium, a Petrobrás Podium e a Ipiranga Octapro são de 102 e 103 RON, respectivamente). O motor pode perder alguma potência com gasolina comum ou comum aditivada, mas não há nenhum risco para a sua integridade. Evitar mesmo, só as mais baratas, pela maior possibilidade de serem adulteradas.
4 – Querosene – Até hoje ainda chegam perguntas à redação sobre a adição de querosene à gasolina para “limpar” o motor. Ele poderá é limpar o seu bolso, pois tem baixíssima octanagem. Se alguns postos contam com bombas de querosene é por ser recomendado — em algumas situações — nos motores Diesel. Principalmente para facilitar sua partida em temperaturas mais baixas.
5 – Aditivar a premium? – Muitos ficam em dúvida no posto, pois a palavra “aditivada” está nas bombas para diferenciá-la da gasolina comum. Mas, a palavra não aparece nas bombas das gasolinas premium, como a Podium (Petrobrás), Octapro (Ipiranga) ou Racing (Shell) pelo fato todas as gasolinas premium serem aditivadas.
6 – Gasolina “limpa”? Não, essa ainda não está disponível, pois todas as gasolinas comercializadas no mundo contêm um alto teor de carbono. A “limpa” ainda está sendo desenvolvida pela Porsche com a Siemens Energia e outros parceiros. Só começa a ser produzida — em pequena escala — no próximo ano, no Chile.
7 – Formulada ou refinada? Existe uma briga no mercado entre os postos chamados “Bandeira Branca” e os de marcas mais tradicionais e conhecidas como Petrobrás, Shell, Ipiranga, etc. Estes até anunciam “Não vendemos gasolina formulada”, alusão aos “Bandeira Branca” e insinuando que oferecem produto de melhor qualidade. Não é verdade, principalmente a partir do ano passado, quando a ANP passou a exigir densidade mínima da gasolina. Formuladas todas são, até as refinadas. O que interessa é a honestidade do dono do posto ou da distribuidora, de adulterar ou não seu produto.
8 – Por que importado bebe mais aqui? Quem dirige um automóvel no exterior (ou examina sua ficha técnica no país de origem) e no Brasil percebe que o consumo de gasolina aqui é maior. E de fato maior devido ao elevado percentual de álcool na gasolina, que pode chegar a 27,5% (sem adulteração…). O maior consumo deve-se ao menor poder calorífico do álcool, cerca de 30% menor que o da gasolina. Nos últimos anos os motores dos carros nacionais, todos flex hoje, vêm passando por aumento da taxa de compressão para reduzir o consumo tanto de álcool quanto da gasolina “alcoolizada”.
9 – Pior ou melhor? O tradicional “complexo de vira-lata” leva muitos a afirmarem que nossa gasolina é uma das piores do mundo. Mas, ao contrário, ela está entre as melhores, pelo menos quando deixa a refinaria. Se estiver adulterada, o assunto não é mais técnico, é de polícia. Ela tem elevada octanagem, entre as maiores do mundo. Quanto à densidade, ela hoje não deixa mais a desejar em nível internacional, desde que a ANP passou a exigir, no ano passado, densidade mínima de 715 g/L.
10-Tem validade? Sim, gasolina não é eterna e dura muito menos… do que remédio. Dizem os especialistas que seu prazo médio de validade é de 60 a 90 dias. Depois, perde suas características físico-químicas originais. Mas isso mudou depois da dessulfurização (redução de enxofre) da gasolina brasileira ocorrida em janeiro de 2014, quando ela passou de absurdas 800 partes por milhão (ppm) de enxofre para 50 ppm. A gasolina Podium já começou com 30 ppm de enxofre, por isso sua durabilidade é de um ano — o mesmo ocorrendo com toda gasolina brasileira de 2014 para cá. Os tanquinhos de gasolina para partida a frio dos carros flex agradecem..
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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