Em março do ano passado deparávamo-nos com os primeiros dias de pandemia, pouco se sabia a respeito aqui e no mundo, com contaminação em alta, óbitos e desconhecimento do potencial de devastação do vírus, optou-se por um pacote de ações que vinham da Idade Média. Esse era o princípio dos lockdowns que se espalharam em um sem-número de países.
As paralisações no comércio e indústria se estenderam por várias semanas e meses e as reaberturas vieram irregulares e de modo gradual. Neste começo desse ano, assim que a segunda onda se espalhou na Europa e EUA, sabíamos aqui não seria muito diferente, como acabou não sendo, porém as novas variantes mostraram-se mais rápidas no contágio e nos ataques ao indivíduo e a letalidade voltou a aumentar. Assim como veio a saturação nos sistemas de saúde de todo o país, coisa que no ano passado não aconteceu, a despeito de a disponibilidade total de leitos de hospitais ser menor que hoje. Tudo aquilo que não queríamos e poucos esperavam.
A linha em vermelho do gráfico acima aponta este ano estamos no patamar de 7.700-8.000 emplacamentos diários.
O setor automobilístico, que já vinha sendo afetado pela falta de componentes, altas nos custos de matéria-prima e a conhecida escassez de semicondutores, tomou um baque adicional quando alguns fabricantes decidiram interromper produção para evitar agravamento nos contágios nos chãos de fábrica. As paralisações de produção causadas pelos semicondutores em falta se estenderam por mais fabricantes e aqueles que não precisavam parar pelos chips pararam pelo vírus.
Os números do mês de março não refletem ainda o total do impacto, uma vez que cada fabricante vem reagindo diferentemente e de acordo com as circunstâncias que em particular o afetam e com disponibilidades distintas de estoques de veículos, porém as tabelas de vendas de modelos e ranking de marcas não mostram nada mais que o tumulto que tomou conta do setor e de nosso país. Não há vencedores, todos perdemos.
Sabe-se que a carência de semicondutores afeta em maior proporção os modelos que têm maior conteúdo eletrônico vindo da Ásia e essa situação de irregularidade na cadeia de suprimentos deve estender-se para além da amenização dos efeitos do covid neste ano.
Joga a favor de uma retomada do mercado o aumento do ritmo de vacinações diárias, que à medida que mais vacinas se façam disponíveis permitirá a recuperação das atividades econômicas produtivas e de comércio se acelerem. Hoje o Brasil está em cerca de 760.000/dia de média de injeções de anticorona, com previsão de atingir 1,1 a 1,2 M/dia até junho. Era para estarmos melhores, mas não abordaremos aqui os motivos do por que não estamos.
A reunião do mês da Anfavea, ocorrida no último dia 7, fala de uma melhora de panorama, quando comparado com março do ano passado. Todas as mídias do setor que acesso regularmente comparam este março com março do ano passado, trimestre contra trimestre, mas pensando bem não creio essa comparação nos sirva de muito, nem de algo. Se lembrarmos bem, o Brasil começou a parar na 2ª quinzena de março de 2020 de forma acelerada e abrangente e neste ano isso não se repetiu, quando muito foram parciais e tampouco devem durar o mesmo tempo. Enquanto escrevo esta coluna já se vê reaberturas do comércio, serviços e indústria. Não vejo utilidade em comparar qualitativamente nem esses dois meses de março, tampouco os primeiros trimestres, apenas reportar os números, acompanhar lançamentos e novas estratégias, quando for o caso.
Nota-se sim, a ex-FCA, agora, diria, o lado ítalo-americano da nova Stellantis, bastante agressiva. Ela foi menos afetada que os outros pela falta de semicondutores, não paralisou produção por vírus em março e segue a sua cronologia de novos lançamentos inalterada. A alta do dólar também a afetou em menor proporção e por consequência, seus preços não tiveram mesmos patamares de majoração que outros fabricantes com maior conteúdo importado em sua linha de produtos. Essa combinação favorável de fatores a fez abrir uma liderança que é rara de ver.
As vendas diretas que andaram abaixo de 40% nos automóveis nos primeiros dois meses, voltaram a superar esse patamar, mais precisamente, 41,69%. Reflete a volta às compras das tradicionais clientes desse modal, as locadoras. Ainda assim foi inferior a março de ’20, 44,94%. Vale a menção de que as boas vendas da nova Strada, em torno de 9~10 mil unidades mensais faz com que a participação de comerciais leves no bolo total aumente. Como vendas diretas de comerciais ficam em torno de 65~70%, o total de vendas diretas aumenta proporcionalmente.
Abril deve ser um mês ruim para produção e vendas, como os números da primeira quinzena nos apontam. Que venham as vacinas!
Ranking do mês e do trimestre
Como já explicado, março contra março não nos dá muita visão de como andou ou anda o mercado, vale o registro que a Fiat liderou com 38.043 unidades, seguido de longe pela VW, com 32.643 e mais distante ainda a GM, com 23.239. A americana anunciou paralisação de suas atividades produtivas das fábricas de Gravataí por quase 60 dias, São Caetano também para outro tanto e São José dos Campos também. Das três grandes foi seguramente a mais afetada pela crise dos semicondutores.
No trimestre a Fiat faturou 102.437 unidades e fechou na liderança também. A Jeep saltou mais uma posição no ranking, para 7º, com somente dois modelos, encostando na Renault.
O modelo mais vendido do mês foi o Hyundai HB20, 8.012 unidades emplacadas, seguido do Onix, com 7.933, Gol, 6.891. Chama a atenção que cinco dos dez mais vendidos no ranking são suves, respectivamente Tracker, Renegade, Creta, T-Cross e Compass.
O trimestre teve o Onix na liderança, com 28.761 licenciamentos, seguido pelo HB20, com 23.665, o Renegade num surpreendente 3º lugar, com 19.111.
Espera-se boa resposta do mercado para o novíssimo Corolla Cross (foto de abertura) e também há altas expectativas para o novo entrante do segmento, o VW Taos, que deve ser apresentado em maio próximo.
Que nossos leitores sigam se cuidando, se vacinando assim que possível e seguiremos junto a vocês.
Até o mês que vem!
MAS