Que tem autoentusiasta de todo tipo não é novidade para mim. Sei muito bem como determinados carros podem suscitar paixões das mais arrebatadoras, assim como sei que, como todo sentimento, é difícil de explicar e pode ser absolutamente inútil tentar entender. Não há unanimidade entre as preferências, muito pelo contrário. Felizmente ninguém é obrigado a ser fã de nada e a diversidade de gostos entre marcas e cores de veículos ou mesmo entre hobbies é grande. Quem sou eu para criticar coleções? Justo euzinha, que coleciono patos sem sequer saber como comecei nem por quê. Apenas posso dizer que gosto e que tenho algumas centenas. Ou a coleção de carrinhos de Fórmula 1 que tenho junto com meu marido? Tem gente que não acha a menor graça em corridas de carros, outros que acham perda de tempo e de dinheiro investir em algum hobby. Eu não. Acho importante termos algum passatempo.
Por que um Mustang provoca reações tão fortes? Por que há pessoas apaixonadas por Ferrari? Ou por Aston Martin? Ou Lamborghini? Sinceramente, não sei nem tenho as habilidades para entender — ou sequer questionar. Aliás, nem quero. Justamente o charme dos sentimentos e dos gostos pessoais é que cada um tem uma percepção diferente — e é bom que assim seja. Com carros ou motos é claro que é igual.
Por isso não critico quem reforma carros e motos para que fiquem como aqueles usados pela polícia de Nova York e gosta de sair com eles pela cidade (foto de abertura). Trata-se de um grupo não muito grande, mas que tem levantado comentários pela cidade de São Paulo, especialmente quando andam juntos São fãs de seriados de polícia que reformaram seus veículos, incluindo a pintura, para que fiquem iguais aos do Departamento de Polícia de Nova York. Eles até mesmo usam uniformes que copiam os dos originais.
Confesso que as roupas idênticas às dos profissionais “de verdade” e a pintura nos veículos, emulando exatamente o logotipo e as inscrições da famosa NYPD, me confundem um pouco na questão legal. Afinal, assim como já critiquei neste espaço, carros com luzes e sirenes que imitam os da verdadeira polícia para se beneficiar e “cortar” o trânsito, usar acostamento e mesmo forçar que lhes cedam espaço, andar com um veículo caracterizado como uma força da lei me provoca dúvidas. Por isso, vamos direto ao espóiler: no Brasil, passar-se por policial é crime, mas neste caso há uma zona cinzenta: como estas pessoas não se fingem de policiais brasileiros, não haveria crime. A rigor, também, se eles não tiram qualquer vantagem disso, como os mencionados “trios elétricos”, não há maiores problemas. Imagino que seja como alguém dirigir por aí um carro super esporte com um macacão de piloto de Fórmula 1. Bem, mais ou menos parecido.
Mas se eu acharia divertido andar num carro desses, colocar o uniforme estaria fora de cogitação (foto 3). Deve ser pelo mesmo motivo que não tenho personalidades paralelas nas minhas redes (anti)sociais e nunca quis participar de iniciativas no sentido de me dar a ilusão de ser outra pessoa, como o Second Life ou mesmo jogos de RPG (Role Playing Games). Numa interpretação totalmente rasa e superficial, um dos motivos é que estou satisfeita com quem sou e não quero ser outra pessoa mas, novamente, entendo quem faz isso desde que saiba que não é real. Se não, é caso para psicólogo ou psiquiatra tratarem. Uma coisa é você se fantasiar de bombeiro e outra é você se fantasiar de bombeiro porque acredita que é um bombeiro.
Na maioria dos casos, estes fãs que emulam objetos da polícia de Nova York usam marcas e modelos iguais aos originais, sobretudo o Ford Crown Victoria. Compram versões civis dos veículos e dedicam-se com afinco a procurar acessórios em sites específicos. Não raro eles fazem as adaptações pessoalmente.
A tarefa de replicar carros e uniformes de polícia é levada muito a sério. Johnny Brito, entrevistado pela agência Reuters, disse: “Muita gente aborda e vem falar em inglês conosco, então você tem que desempenhar um pouco, para falar um pouco de inglês” . Bem, aí eu já acho que tem gente que confunde, mesmo. Mas o fato de que alguns pensam que se trata de alguma ação conjunta entre policiais brasileiros e norte-americanos não deixa de ser algo a ser estudado em profundidade.
Mudando de assunto: sempre achei o Grande Prêmio de Mônaco imperdível. Muito mais pelo charme daquela lindíssima cidade de Monte Carlo do que pelo circuito em si. A corrida de domingo passado foi tão sem graça que sequer a revi, como faço quase sempre. Gostei muito do Vettel e, claro, do Russell que para mim foram os dois destaques do dia. Verstappen mereceu ganhar e este ano parece uma pessoa diferente, muito mais maduro. A pergunta que gostaria que David Coulthard tivesse feito a ele era: você tem recebido conselhos do seu sogro?
NG
A coluna ” Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.