Difícil entender a despreocupação do motorista com a manutenção do carro, que pode lhe custar uma boa grana ou até a própria vida. E está enganado quem acha que o desmazelo é só no Brasil, pois é o mesmo no Primeiro Mundo.
Pesquisa publicada esta semana realizada pela empresa inglesa Kwik Fit revelou que um em cada cinco donos de automóveis (19%) na Inglaterra não verifica o nível de óleo do motor. Deles, 8% sequer sabem como efetuar esta avaliação e os outros 11% sabem, mas não a fazem. A Kwik Fit é uma grande rede de postos de serviços e troca de óleo com mais de 600 pontos no Reino Unido.
Teoricamente, os motoristas deveriam verificar o nível do óleo semanalmente, como recomendam os especialistas no assunto. Mas a pesquisa revelou que apenas 8% deles o fazem, mesmo assim num intervalo dobrado, ou seja, quinzenalmente. Outros 62% só verificam o nível cada três meses. E, pior, 8% confessam só puxar a vareta uma vez por ano.
Homem mais cuidadoso que mulher
Há diferenças entre homens e mulheres. Apenas 2% dos primeiros dizem não saber como conferir o nível do óleo, mas o percentual cresce para 14% junto ao publico feminino. E também na faixa etária: 6% dos proprietários de automóveis acima de 55 anos afirmaram não saber como fazer a verificação, percentual que subiu para 10% entre 18 e 34 anos de idade.
A Kwik Fit acredita que muitos motoristas perderam o hábito ou reduziram a frequencia de verificar as condições do automóvel porque o utilizaram muito menos durante a pandemia.
É difícil explicar o quase desprezo de tão elevada parcela de motoristas por um item dos mais importantes (talvez o mais…) na manutenção do automóvel. Óleo insuficiente é fatal para o motor. E, com prazo vencido também, pois costuma provocar a temida borra.
Não tenho conhecimento de nenhuma pesquisa similar por aqui, mas tenho certeza de que a situação no Brasil deve ser semelhante, ou pior. Como jornalista especializado, me assusto com a quantidade de donos de automóveis sem a menor ideia a respeito de procedimentos básicos de manutenção. E confessam cometer as mesmas barbaridades dos ingleses.
A situação só não é pior graças aos frentistas que, enquanto abastecem o carro, se oferecem para levantar o capô e verificar os níveis dos fluidos. O óleo do motor integra a lista que engloba também o líquido de arrefecimento do radiador, o fluido de freio e embreagem hidráulica, o de limpeza do para-brisa, etc.
A troca regular do óleo só acontece durante o período de garantia, nas revisões realizadas na oficina da concessionária. Depois, é uma incógnita. Depende de o dono do carro continuar levando-o nela ou em outra oficina independente de bom nível. Caso contrário, o carro roda até deixar o motorista na mão por falta de manutenção. E ainda enfrentar uma conta amarga, por puro desleixo.
Pneu explode depois de vencido
Estimo — com poucas chances de errar — que mais de 95% dos motoristas nem imaginam que pneus não duram indefinidamente: mesmo que o carro rode muito pouco, tipo 2 ou 3 mil km por ano, eles devem ser substituídos entre 5 e 6 anos de fabricação. Tem motorista que se exalta e argumenta ser um absurdo jogar fora um pneu “cheio de borracha” e que só rodou 15 mil km. Já vi motorista substituir na estrada pneu furado pelo estepe “novinho”, sem nenhum uso, mas há quinze anos no porta-malas. Pronto para estourar….
Estou certo também de que mais de 99% dos motoristas não sabem identificar a data de fabricação de um pneu, apesar de muito simples: na banda lateral tem a sigla DOT seguida de algumas letras e, ao final, quatro dígitos. Por exemplo, 1320. Significa que o pneu foi produzido na 13ª semana de 2020. Alguma dificuldade?
Óleo e pneu apenas simbolizam a desinformação do brasileiro a respeito dos procedimentos mínimos necessários para manter seu automóvel em condições de rodar.
Sem atormentá-lo com problemas técnicos que o deixam a pé na beira da estrada. Ou de segurança que podem levá-lo ao hospital (ou cemitério).
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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