Era assim que o motor boxer 2.1 litros arrefecido a água era denominado: WBX 4 2100 E/4 Kat. A sigla WBX vem de Wasserboxer que quer dizer exatamente motor boxer com esse tipo de arrefecimento. O “4” indica o número cilindros, 2100, a cilindrada em centímetros cúbicos arredondada, o “E,” de Einspritztung (injeção), o segundo 4 diz que a injeção é multiponto, e Kat, Katalysator, que dispensa tradução.
A mudança para o arrefecimento a água dos motores boxer ocorreu em meados de 1982 porque eles não atendiam mais aos limites de emissões vigentes. Mas isso nas Kombis T3, pois na Alemanha o Fusca já havia saído de linha em janeiro de 1978.
Os motores Wasserboxer da Volkswagen foram fabricados entre agosto de 1982 e julho de 1992 na configuração tradicional dos motores boxer da Volkswagen com quatro cilindros horizontais e opostos dois a dois e se destinavam exclusivamente para as Kombis T3 produzidas em várias execuções.
Havia duas versões de motor, a saber de 1.915 cm³ e de 2.109 cm³. O diâmetro dos cilindros era igual nas duas alternativas: 94 mm; já o curso dos pistões era de 69 mm (1.915 cm³) e 76 mm (2.109 cm³). A carcaça era fundida em liga de alumínio, material bem mais resistente que a liga de magnésio dos motores arrefecidos a ar. Os cabeçotes também eram fundidos em liga de alumínio.
As alternativas de potência dos motores de 1.9 litro variavam de 60 cv a 83 cv dependendo da alimentação, seja por diferentes tipos de carburadores ou de injeção eletrônica (no caso Digijet) e de demais características específicas. Já a potência dos motores de 2.1 litros variava de 87 cv a 112 cv dependendo do tipo de injeção eletrônica usada, Digijet ou Digifant, e de demais características específicas. A diferença entre as duas injeções eletrônicas era a Digijet ser analógica e a Digifant, digital, além de incluir controle eletrônico da ignição.
Veja algumas fotos de um motor Wasserboxer com injeção eletrônica (Fonte: site The Samba):
E a história dos motores boxer arrefecidos a água não parou por aqui, ela continuou na Oettinger.
WBX 6 Oettinger
A ideia de um motor boxer de seis cilindros arrefecido a água para as Kombis T3 nasceu na Volkswagen, que desenvolveu o projeto, mas as perspectivas de vendas em pequenas quantidades tornaram o projeto inviável do ponto de vista da grande empresa.
Como havia uma excelente colaboração com a Oettinger, a Volkswagen confiou a ela desenvolver o projeto até o final e produzir o motor em pequena escala, para uma venda futura através das concessionárias VW na Alemanha.
Gerhard Oettinger assumiu os documentos de projeto e os componentes de produção de Wolfsburg, retrabalhou os moldes de fundição para as duas metades da carcaça do motor de liga de alumínio, novamente pegou sua arma milagrosa, o virabrequim de aço cromo-molibdênio (que tinha contrapesos especialmente calculados para um funcionamento suave) e, finalmente, substituiu o coletor de admissão por uma versão retrabalhada.
Com isto o resultado inicial foi: o motor WBX 6 de 3.164 cm³, 165 cv e torque máximo de 26.5 m·kgf a 3.800 rpm. O motor estreou no Salão de Frankfurt de 1985. Oettinger desenvolveu um sistema de freio a disco nas quatro rodas apenas para este carro, bem como um sistema completo de modificações para garantir a segurança do veículo após a instalação do motor WBX 6 feita em sua empresa.
A Kombis T3 com o motor WBX 6 eram vendidas nas concessionárias Volkswagen, onde a especificação do veículo era definida com o cliente. Havia uma versão automática topo de linha, com câmbio VW especialmente reforçado para suportar o motor de 175 cv a 5.000 rpm com torque de 28 m·kgf a 3.800 rpm, e que era capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 11,8 segundos. A velocidade máxima era de 180 km/h.
A outra versão, considerada econômica — com uma taxa de compressão mais baixa para permitir o uso de gasolina comum de 91 octanas RON — vinha com um câmbio manual de cinco marchas e tinha 140 cv a 5.000 rpm; um torque de 23,4 m·kgf a 3.600 rpm; era capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 12,5 segundos e chegar a 165 km/h. Depois foi desenvolvida uma versão Syncro — como é chamada a tração 4×4 na Volkswagen.
Para a implantação do motor WBX 6 vários componentes da T3 tinham que ser mudados e outros acrescentados, como mostra a foto abaixo:
Mais fotos de uma Kombi T3 WBX 6 do site Just Campers do Facebook:
WBX 4 Oettinger no Fusca
Enquanto a Oettinger desenvolvia o motor WBX 6, ela retrabalhou o motor Wasserboxer de quatro cilindros das Kombis T3 e o adaptou para ser usado em Fuscas, que em sua maioria eram cabriolés.
A implantação de motores WBX 4 em Fuscas era complicada. Nos Super Beetle havia a possibilidade de colocar o radiador de água na frente, embaixo da grade da saia dianteira das versões para os EUA — lá havia espaço suficiente para os radiadores de água e de óleo.
Com o início da era do VW Golf, a maioria dos preparadores alemães deu as costas ao Fusca. Na Oettinger, no entanto, ele não apenas permaneceu como parte do portfólio, mas também experimentou um retorno incrível anos depois.
Em 1987, o afamado preparador de Hessen implantou em VWs 1302/1303 os motores de quatro cilindros boxer arrefecidos a água da VW Kombi Caravelle com preparação Oettinger com 100 cv. Ele projetou novos suportes de motor para isso. Sistema de injeção, catalisador, tuchos hidráulicos — uma unidade tão moderna nunca havia acionado um Fusca antes disto. Foram doze cabriolés Ottinger (Fotos: site sebeetles.com):
O catalisador serviu como um pré-silenciador. A conexão com um silenciador traseiro compôs um som particularmente esportivo. O Beetle WBX 4, mesmo assim, era o mais silencioso de toda a família Okrasa. O radiador de água foi alojado na frente. A distribuição de peso se beneficiou desta construção elaborada.
O Beetle WBX 4 Okrasa acelerava de zero a 100 km/h em 10,5 segundos e atingia 165 km/h. Houve uma versão mais apimentada para exportação de 2.500 cm³ e 120 cv. A Volkswagen limitou a velocidade máxima estrutural do Beetle, sem modificações no chassi, a 165 km/h.
Na Alemanha, você só poderia usar a motorização topo de linha se a Oettinger também modificasse o chassi e passasse as rodas para 7Jx15 (offset 16) e instalasse um sistema de freio repotenciado (padrão Porsche 944).
Para concluir, a história do rei da Espanha
Mas ainda havia algo acontecendo: um dos destaques no Salão de Frankfurt de 1987 foi um VW Beetle conversível com motor WBX 6, boxer de seis cilindros arrefecido a água da VW Kombi T3 Carat, que Oettinger havia desenvolvido para o Grupo VW para produção em série. Com 175 cv, este veículo único atingiu uma velocidade máxima de mais de 200 km/h.
Visitando o Salão, o rei Juan Carlos da Espanha ficou tão impressionado com o estande dos preparadores de Hessen que o próprio Gerhard Oettinger, dois anos depois, deu de presente ao monarca madrilenho a coroação absoluta em termos de VW Beetle,: ele colocou em frente do Palácio La Zarzuela, em Madrid, um showcar conversível, agora com um motor de 3,700 cm³ e 190 cv!
Deu vontade de ser o rei da Espanha…
Esta matéria é uma continuidade da matéria “Preparação Okrasa para VW” e mostra mais uma faceta da Oettinger, desta vez até na fabricação de uma série limitada de motores da linha WBX — Boxer arrefecido a água para veículos Volkswagen.
É possível que alguns apreciadores de raiz dos motores VW Boxer arrefecidos a ar venham a torcer o nariz para esta linha de motores arrefecidos a água, mas no caso da Kombi, como veículo ainda estava em produção, era uma necessidade imposta pelas regulamentações ambientais.
Porém, no caso do VBX 6 e do WBX 4 (este adaptado para o Fusca) o alto custo destes motores em si e de sua adaptação aos veículos restringiu a sua aplicação. Pelo preço de um cabriolé Super Beetle com motor WBX 4 era possível comprar um Porsche 911. Isto mostra quão restrito era o mercado destes carros e porque se estima, hoje em dia, que foram feitas somente doze conversões.
Mas o fato é que a foto de abertura, que sempre foi tratada como absurdo, passou a não o ser mais…
AG
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