Há algum tempo participei de uma conferência pela internet com o pessoal da AADEA – Asociación Amigos del Escarabajo de Argentina (Associação Amigos do Fusca da Argentina). Nesta ocasião conheci Martin Cáceres, que ficou de enviar a história de seu Fusca, e isto ocorreu recentemente.
Na foto de abertura vemos o VW Fusca do Martin em ação no Rali de Mina Clavero de 2021; adiante ele conta a história dele.
Um Salzburg Beetle em Córdoba
Meu nome é Martin Cáceres, moro na província de Córdoba, Argentina, onde trabalho como advogado. Na minha província, uma das modalidades do desporto motorizado mais importante é sem dúvida o rali.
Isso serviu para unir minha paixão pelo Besouro ao esporte automotor. Daí surgiu a ideia de fazer uma réplica do primeiro besouro que correu em rali pela escuderia interna da Porsche Austria GmbH & Co OG, de Salzburgo, na Áustria, alcançando um grande sucesso e que apresento a vocês a seguir.
Naquela época, a participação era com uma equipe austríaca que começou a competir com sucesso em sua categoria, juntando-se ao sueco Harry Kalstrom e ao inglês Tommy Fall, nos bólidos que ficaram conhecidos como os VW Beetle de Salzburgo. Eram carros preparados para competição com detalhes que os destacavam dos demais.
Os VW Beetle de Salzburgo tiveram um desempenho muito bom em ralis mundiais, como o de Elba, na Itália, e Acrópole, na Grécia, tanto que chamaram a atenção dos executivos da Volkswagen. E isto foi o pontapé inicial para a criação da divisão Volkswagen Motorsport, visando as competições internacionais, isto com a primeira geração do Volkswagen Golf.
Para realizar a minha réplica utilizei como base um Volkswagen Fusca 1980 no qual tentei respeitar e preservar os grafismos, o motor e os instrumentos utilizados nas competições da época.
Atualmente utilizo a minha réplica de VW Beetle de Salzburg para participar de ralis de regularidade e em eventos nos quais prestamos homenagem aos pilotos e navegadores da especialidade e o fazemos com um time que formamos com um grupo de amigos, e que chamamos de “Iconos del Rally” (Ícones do Rali).
Fechando a apresentação das fotos, uma que mostra um momento especial: tendo o várias vezes campeão de rali na América do Sul e participante do Rali Dakar, Claudio Bastos, como navegador:
Segue um vídeo (09:15) com uma interessante entrevista (em espanhol) com Martin Cáceres, cujo mote foi: “Me Gusta Lo Que Hago” (eu gosto do que faço):
Os Salzburg Beetles
Sete litros — essa é a quantidade quase inacreditável de óleo de motor contida em cada um dos motores de corrida extensamente modificados dos lendários Salzburg Beetles derivados de VW Beetles 1302 e 1303, o que transformaria o modelo em um ícone de rali no início da década de 1970. Mas isso não é tudo: predominantemente modificados no comando de válvulas, estas de admissão aumentadas, além de carburadores do Porsche 912 e mais tarde do Porsche 904, estes Besouros de corrida preto e prata da Porsche Salzburg catapultaram o modesto Volkswagen de formato esférico para o reino do esporte automobilístico.
As fotos que se seguem são de um Salzburg Beetle original derivado de um VW 1302-S e que pertence à Schwab Collection que é uma coleção particular dedicada à preservação de carros de rali clássicos. Esta coleção pertence a Michael Schwab e fica na cidade de Maria Enzersdorf, na Áustria.
A história começou em 1965, quando Louise Piëch — filha de Ferdinand Porsche, mãe de Ferdinand Piëch e chefe da Porsche Áustria, deu sua permissão para a criação de uma divisão interna de esporte a motor, na esperança de que qualquer potencial sucesso esportivo tivesse um efeito positivo sobre a imagem e reputação das marcas Volkswagen e Porsche. Gertiard Strasser, chefe da divisão esportiva de corrida, Paul ‘Pauli’ Schwarz, feiticeiro dos motores, e oito funcionários cuidadosamente selecionados, começaram a dar ao Besouro verdadeiros genes esportivos.
De uma perspectiva puramente visual, os Salzburg Beetles eram um verdadeiro deleite no estilo da época — e eram inconfundíveis: com pintura metálica prateada e o capô dianteiro e a tampa do motor em preto fosco esportivo, os potentes Besouros alpinos também traziam uma faixa vermelha e branca, de ponta a ponta dos carros, representando as cores soberanas da Áustria. Havia também uma imponente (e eficaz) bateria de faróis auxiliares montados no para-choque dianteiro.
‘Pauli’ Schwarz cuidou do lado técnico das coisas. Ele inicialmente encomendou um sistema de lubrificação de cárter seco para os Besouros de Salzburg e aumentou a capacidade do óleo do motor de 2,5 para os já mencionados sete litros. Como tal, não havia risco de os pilotos rápidos de repente ficarem sem lubrificação ao fazerem curvas em alta velocidade com alta mudança de carga. O motor foi aumentado até o limite de cilindrada de 1.599 cm³ usando cilindros e pistões sobremedida de 85,9 mm de diâmetro ante os originais de 85,5 mm. Cabeçotes usinados aumentaram a taxa de compressão de 7,3 para 9,1: 1. Os dutos de admissão foram alargados; as válvulas de admissão passaram de 35,5 mm para 40 mm de diâmetro. Do lado do escapamento, os dutos foram polidos, mas as válvulas permaneceram inalteradas. As bielas e o virabrequim foram balanceados. A formação da mistura ar-combustível foi feita inicialmente por dois carburadores duplos Solex do Porsche 912; mais tarde, usando dois carburadores Weber 46 IDA também duplos. do Porsche 904.
Para coroar a conversão do motor, ‘Pauli’ Schwarz poliu a árvore de comando de válvulas em segredo — supostamente no seu porão privado e à prova de som. Além disso, ainda havia espaço atrás da grade da saia dianteira para um radiador de óleo do Porsche 908. Todo o esforço foi recompensado com 120 a 128 cv a 7.000 rpm do motor 1600 do Besouro, que provia potência palpável já a partir de 2.000 rpm.
Com ênfase entre 1971 e 1974, um total de onze Salzburg Beetles participaram no cenário do rali internacional. Foram 15 vitórias na classificação geral — incluindo a vitória no campeonato nacional austríaco em 1971 e 1972, o Rally Jänner (os Besouros de rali terminaram de primeiro a quinto, com três primeiros ocupados por Salzburg Beetles) e a vitória geral no Rally dell’lsola d’Elba em abril de 1973, um evento que fazia parte do campeonato europeu de rali — transformou os bólidos prateados e pretos em lendas.
Em 1974, em plena crise energética, a produção do Beetle acabou em Wolfsburg, e os modelos arrefecidos a água começaram a prevalecer. A divisão de esportes a motor da Porsche Salzburg fechou suas portas. Muitos dos Salzburg Beetles originais ainda existem hoje e podem ser encontrados nas mãos de entusiastas.
Para completar esta descrição um vídeo (05:07) apresentando (em inglês) o exemplar de Salzburg Beetle que pertence ao acervo Volkswagen Classics:
Aqui vai o meu agradecimento ao Martin Cáceres por ter enviado a sua história com seu Fusca especial e pela colaboração prestada durante a edição — nosso contato foi feito por WhatsApp.
Esta é mais uma história “importada”, no caso de um país vizinho, mas, como o Fusca é de abrangência mundial, temos histórias de países bem distantes para contar. Aguardem as cenas dos próximos capítulos!
AG
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