O Peugeot 3008 nunca esteve no topo da lista dos suves médios mais procurados ou mais desejados no Brasil, mas depois de passar uma semana dirigindo esse modelo com o novo facelift e com todo conteúdo de segurança e conforto, começo a questionar a razão do carro estar tão escondido no mercado. Afinal, é um suve de porte médio com bom conteúdo tecnológico e que certamente agradaria a todos que buscam um carro com essa característica de conforto e uso familiar. O Juvenal Jorge fez a avaliação da versão Griffe em 2018 e agora é chegada a vez de conhecer em detalhes a nova  versão GT Pack, a topo da gama.

Em virtude de ser importado da França, o imposto de importação, o frete marítimo e cotação elevada do dólar acabam afugentando os consumidores devido aos valores praticados. Atualmente a Peugeot oferece apenas duas versões no mercado brasileiro, ambas com motor 1,6-l turbo e câmbio automático com os seguintes preços encontrados no website da marca:

3008 Griffe – R$ 229.990
3008 GT Pack – R$ 249.990 (versão testada)

Se preferir, assista primeiramente ao vídeo gravado na região de Joaquim Egídio em Campinas, SP:

Motor THP

O motor de 4 cilindros em linha de 1,6 l e turbocarregado é a única opção de motorização para o 3008 em suas duas versões. Trata-se do motor THP (Turbo High Pressure – alta pressão de turbo) já utilizado em vários modelos da Peugeot e Citroën e também BMW, visto que esse motor foi um desenvolvimento conjunto entre os dois fabricantes. Bloco e cabeçote em alumínio, 16 válvulas com duplo comando no cabeçote acionado por corrente com variação de fase na admissão e escapamento, injeção direta (de gasolina) e interresfriador que entrega a potência máxima 165 cv a 6.000 rpm e o torque máximo de 24,5 m·kgf ocorre a partir de 1.400 rpm.

Mais do que a potência e torque máximo, o que agrada nesse conjunto é sua dirigibilidade e sua força em acelerações parciais, condição esta em que estamos sempre dirigindo um carro. É inevitável que haja a comparação  pelos valores máximos de torque e potência, mas é nas condições intermediárias que encontramos o prazer de dirigir. E isso o 3008 entrega com maestria.

O câmbio automático de 6 marchas da Aisin está conectado ao motor por conversor de torque e fornece tração nas rodas dianteiras. A calibração de troca de marchas em qualquer das condições de condução (Normal, Eco ou Esporte) são perfeitas e não encontrei hesitação ou “buracos” na aceleração ou redução de marcha. O modo manual pode ser ativado através de botão no pomo da alavanca, e as trocas de marchas são sempre feitas pelas borboletas atrás do volante e solidárias à coluna de direção, não acompanhando o movimento do volante. Essa condição requer familiarização, pois para trocar marchas em curvas obriga-se a soltar uma das mãos do volante.

Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas

O desempenho geral do carro é agradável, e a sensação de aceleração é melhor do que os 8,9 segundos para cumprir o 0-100 km/h indicado pelo fabricante. A velocidade máxima é de 206 km/h, o que está de bom tamanho para um veículo com 1.587 kg de peso em ordem de marcha. E para parar toda essa energia cinética utiliza-se freio a disco nas quatro rodas, com ventilados na dianteira e piças deslizantes em todas as rodas. A modulação de resposta do pedal do freio é muito boa e agrada em qualquer velocidade.

O consumo de combustível é similar à média da categoria, onde no trecho de 120 km entre São Paulo e Campinas registrou 13 km/l. O número homologado junto ao Inmetro é  9,8 km/l no urbano12,1 km/l no ciclo rodoviário Ao final de uma semana de teste com 556 km percorridos, o consumo acumulado foi de 11,1 km/l.

Prioridade para o conforto

Apesar da designação GT Pack da versão testada, o que mais chamou a atenção foi o conforto de rodagem, ficando longe de ser um veículo esportivo como a sigla sugere. A começar pela calibração da suspensão. Nota-se que os engenheiros da Peugeot optaram por constantes elásticas das molas mais brandas, preferenciando o conforto de rodagem, e o mesmo acontece com  a calibração de cargas dos amortecedores. Em nenhum momento o veículo mostra característica de movimentação mais preso.

Essa opção de calibração deixou o carro confortável para a maior parte dos pisos que encontramos por aqui, porém ao trafegar em velocidades maiores, com o carro mais carregado, em ondulações, paga-se o preço de todo esse conforto, pois a amplitude de movimentação da suspensão é muito maior. Mesmo assim, o carro não muda trajetória e não se torna inseguro.

A arquitetura de suspensão dianteira e traseira segue o tradicional do segmento com McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, ambas com amortecedores pressurizados e molas helicoidais. A diferença na traseira é a viga em “U” do eixo ser hidroformada, conferindo maior robustez ao conjunto traseiro. Essa tecnologia dispensou a utilização de barra antirrolagem na traseira, encontrada apenas na dianteira. Permitiu também obter carga útil de 650 kg, por exemplo 350 kg de 5 passageiros mais 300 kg de carga no porta-malas, este de 520 litros de capacidade, outro destaque do 3008 no segmento.

Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas

E o conforto não se limita à suspensão, vem para dentro da cabine com ótimos bancos dianteiros recheados de recursos só encontrado em veículos do segmento premium, como massageador das costas para motorista e passageiro, ajustes elétricos no lado do motorista e extensor do assento para ambos os bancos, assim como o aquecimento.

Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas

O revestimento dos bancos em Alcântara traz conforto ao toque, maciez ao sentar, melhor resposta acústica pois reflete menos as ondas sonoras do que o couro, e principalmente beleza pelo desenho de costura adotado. Os bancos traseiros seguem a mesma padronagem dos dianteiros e incorporam engates Isofix para dois bancos infantis, além de ser bipartido 60:40 para maior flexibilidade de acomodação de carga e passageiros. O espaço e conforto para dois adultos no banco traseiro é muito bom, sendo que o terceiro ocupante fica com as limitações impostas pelo túnel no assoalho e formato elevado do assento e encosto.

Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas

Ruído e aspereza de rodagem são outros atributos muito bem resolvidos pelos engenheiros da Peugeot e que colaboram para o bom conforto a bordo. Os pneus 235/50R19 Continental ContiSport estão montados em rodas de liga de alumínio e praticamente passam despercebidos na avaliação.

Acabamento premium

Seja no interior ou no exterior do veículo a preocupação com o acabamento e harmonia entre cores e desenhos foi muito bem elaborado e executado. Esta versão GT Pack traz elementos escurecidos nos logotipos da marca e na designação do modelo. O teto, as colunas e os retrovisores são igualmente pintados em preto brilhante.

A grade do radiador apresenta uma inovação na construção sem moldura perimetral, e o desenho horizontal se “espalha” pelo para-choque, trazendo um detalhe inovador ao modelo. Os faróis são de LED e o complemento vertical forma a luz de rodagem diurna e seta direcional. Ainda na carcaça dos faróis encontra-se a luz de curva que é acionada ao esterçar o volante ou ligar a seta. O resultado prático desse bonito conjunto é que a iluminação é muito boa, trazendo segurança e conforto para trajetos noturnos, mesmo os mais longos.

Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas

A cor do carro testado é exclusiva da versão GT Pack, que além de bonita também foge do trivial branco, preto e prata do nosso mercado, e com isso o carro chama muito a atenção por onde passa. Não só pela cor, mas principalmente pelo seu bonito desenho e imponência.

Na traseira a lanternas de LED têm desenho escurecido e se fundem à barra horizontal da tampa do porta-malas que as conecta. Quando acesas formam um desenho luminoso atraente e de bem visual. Mais abaixo, no para-choque há duas saídas falsas de escapamento com molduras cromadas. Em um primeiro momento cheguei a pensar que eram funcionais.

Mas é no interior do carro que passamos a maior parte do tempo, e é ali que os designers da Peugeot dedicaram boas horas de trabalho para entregar um desenho bem integrado. Ao abrir a porta do motorista nota-se a integração do painel de instrumentos com o painel de porta do lado oposto, onde há uma continuidade de linhas muito bem executadas.

Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas

O console central apresenta um desenho voltado ao motorista com fácil acesso aos comandos da central multimídia de 10”. A operação da central torna-se mais intuitiva à medida que vamos entendendo que há comandos na tela e outros nos interruptores abaixo das saídas de ar climatizado, o que faz com que a central multimídia seja uma extensão dos comandos operacionais do carro, como ar-condicionado, sistema de navegação, sistema de som, configurações do veículo e telefonia.

O sistema de ar-condicionado de duas zonas frontais tem o complemento de saídas de ar climatizado na traseira, ajudando assim o rápido resfriamento da cabine, além do funcionamento silencioso e rápida resposta à mudança de temperatura externa ou alteração do nível de insolação.

Auxílios ao motorista

A central multimídia tem capacidade de espelhamento de telefone celular através de cabo USB para Android Auto e Apple CarPlay, e o sistema de som premium Hi-Fi Focal tem ótima resposta acústica.

O quadro de instrumentos é outra tela LCD de 12,3” configurável com várias opções de páginas e de informações que podem ser selecionadas através de menu na central multimídia. Destaque para opções de informações do desempenho do motor e aceleração lateral, além dos dados tradicionais computador de bordo, espelhamento digital da velocidade do veículo. Ajuda muito o sistema de leitura de placas de velocidade e sua apresentação ao centro do quadro de instrumentos, minimizando o risco daquela multa ao mudar o limite de velocidade das vias, situação muito normal nos dias de hoje, infelizmente. O sistema ainda faz a leitura e reconhecimento de placas de “Pare” e “Sentido proibido” (contramão), uma ajuda extra aos motoristas mais distraídos.

Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las e ler as legendas

O Peugeot 3008 nesta versão GT Pack vem equipado com controle de velocidade de cruzeiro adaptativo  sem a opção de ajustar a distância do veículo à frente como é visto em outros carros com esse sistema. O detector de obstáculo à frente incorpora sistema de frenagem autônoma de emergência com função para e anda com funcionamento entre 5 e 140 km/h.

A posição de dirigir requer alguns minutos e alguns quilômetros para se acostumar com o pequeno volante ovalizado de 350 mm no eixo horizontal por 340 mm no eixo vertical, e se o banco estiver bem posicionado na distância e altura, assim como o volante estando bem ajustado nos dois planos, a visualização do quadro de instrumentos é feita por cima do volante, diferente de outros veículos em que é feita por dentro do volante. O esforço para esterçar é baixo e confortável em todas as faixas de velocidade, com boa sensação de centro, o que deixa o carro fácil de ser conduzido e sem  cansar.

Conclusão

Parafraseando o Juvenal Jorge, o Peugeot 3008 é um carro com muita carronalidade, a personalidade dos carros. É bonito, atraente, anda bem, consome pouco, é bem confortável, tem ótimo espaço interno para ocupantes e bagagens. Um suve médio que após uma semana de uso ficou aquela decepção de ter que devolver.

Fica a dúvida se sob a bandeira da nova Stellantis a Peugeot terá força para investir na comunicação de marca para deixar o 3008 mais conhecido e talvez desejado pelos consumidores de suves médios, mesmo que isso possa custar algumas vendas do Jeep Compass, o líder de vendas desse segmento.

GB