Com este surpreendente e delicioso causo damos sequência à apresentação de causos de meu livro “EU AMO FUSCA II – Uma coletânea de causos de felizes proprietários de Fusca”. Desta vez é o causo do Gervásio Guedes Moreira Júnior, um pescador inveterado que relatou sua experiência muito especial com seu fiel Fusca
O Fusca e a branquinha do Irineu
Gervásio Guedes Moreira Júnior
No ano de 1982, eu e um amigo fomos para o rancho de pesca de meu pai, que ficava nas margens do rio Paranapanema perto da cidade de Angatuba, no interior de São Paulo. Na época eu tinha um Fuscão 72 que era a minha paixão, porque sempre considerei o carro mais valente que já tive, pois andava em qualquer estrada, subia qualquer ladeira de barro ou não, e passava em qualquer buraco que eu encontrasse no caminho.
Depois de uns dois dias pescando por lá, resolvemos ir até uma vila (que hoje é uma cidade) chamada Campininha do Monte Alegre, para tomar umas e jogar conversa fora. Papo vai, papo vem, conhecemos um pessoal e eles ficaram com a gente a noite toda, e lá pelas 3 da manhã, quando já íamos embora, eles pediram uma carona porque moravam num sítio perto da vila.
Depois de deixá-los em casa, procuramos o caminho de volta e pegamos a estrada, só que estava garoando e estávamos meio sonolentos. Rodamos até às 5 da manhã e percebemos que estávamos perdidos naquelas estradas de terra que pareciam todas iguais, e o pior, a gasolina tinha acabado. Como não havia nada por perto, só mato, resolvemos dormir no Fuscão e esperar amanhecer.
Quando o dia clareou, saímos à procura de ajuda. Depois de uns dois quilômetros achamos um boteco na beira de estrada, contamos o nosso problema e ficamos sabendo que estávamos a uns 20 quilômetros de Campininha e o posto mais perto ficava na entrada de Angatuba a 50 km dali. Nesse momento, começou a bater o desespero por não saber o que fazer.
O dono do bar falou que o pessoal dos sítios da região, quando não tinha gasolina para ligar as bombas de água, usava uma cachaça fabricada por ali conhecida como a “branquinha do Irineu” e que dava para quebrar o galho. Discutimos o problema e resolvemos arriscar pelo menos até chegar ao rancho (se é que chegaríamos) onde tínhamos um pouco de gasolina para o motor do barco.
Compramos uns 5 litros da pinga e fomos para o carro, colocamos um pouco no tanque, mesmo com medo dele explodir e tentamos dar a partida, e para nossa surpresa o motor pipocou, tossiu, engasgou, mais pegou, e nós ficamos tão contentes que até tomamos um gole da branquinha e lá fomos nós em direção ao rancho com o mapa na mão e pinga no motor.
A cada 10 km colocávamos mais um pouco no tanque do Fusca e aproveitávamos para encher o nosso também.
Enfim, depois de muito custo chegamos, os três no rancho, com certeza alcoolizados, e até hoje me vem a certeza de que o Fusca não gostou muito quando coloquei gasolina no seu tanque, e ele parecia que ficava triste todas as vezes que ele via eu e meu companheiro tomarmos a “branquinha do Irineu” que havia sobrado.
E desde aquele dia, todas as vezes que eu saía para beber com os amigos, sempre colocava uma dose de branquinha no motor do meu Fusca, só pra ver a sua cara ficar alegre outra vez…
Como de costume, procurei contato com o Gervásio Guedes Moreira Junior — para saber um pouco de sua vida e apresentá-lo aqui na coluna — iniciando a procura através do Facebook. Com tristeza eu soube que ele havia falecido no dia 30 de maio de 2019. Ele era um renomado dentista e dava aulas no Senac Saúde, em São Paulo. Tinha a pescaria como hobby. Era amado por sua família e amigos. Sem esquecer de seus clientes que deixavam muitas mensagens de agradecimento em sua página do Facebook. E ele tinha um amor especial por seu netinho.
Quando eu recolhi os causos para o Livro II fiz contato com os autores dos causos mais no sentido de obter a correspondente autorização para a publicação dos causos. Mas agora, quando alguns dos causos deste livro estão sendo publicados aqui, eu procuro contato com os autores para poder obter mais dados de modo a apresentá-los aos leitores e leitoras desta coluna.
AG
A foto de abertura foi pesquisada na internet e não tem uma ligação direta com o causo apresentado, é uma mera ilustração.
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A coluna “Falando de Fusca & Afins” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.