Agora é a vez do executivo-chefe da Stellantis, o português Carlos Tavares, alertar que os custos da eletrificação para a indústria do automóvel podem implicar questões sociais, com cortes de postos de trabalho. Em outubro último o presidente executivo do grupo Volkswagen, Herbert Diess, indicou, numa reunião interna, que existirá o risco de ocorrerem até 30 mil demissões num futuro, dentro do grupo que ele dirige.
Tavares (foto de abertura) deixou um aviso sobre o rumo que a rapidez exigida da indústria para a transição para a eletrificação está obrigando a pesados investimentos e custos altíssimos. Disse sem meias-palavras que esses custos estão além dos limites que podem ser suportados, e que esse peso pode acabar também por recair em cima dos postos de trabalho.
Durante evento promovido pela Reuters, ele declarou: “O que foi decidido foi impor a eletrificação à indústria automobilística. Essa imposição acarreta um custo adicional de 50% em relação a um veículo convencional. Portanto, temos de assimilar 50% de custo adicional em cada carro”.
Esse custo adicional de 50% não pode de forma alguma ser transferido para o consumidor final, pois, “a maior parte das classes médias não conseguirá pagar esses novos carros à venda”, declarou Carlos Tavares na Reuters Next.
E mesmo num cenário em que os fabricantes estejam dispostos a diminuir as margens de lucro ao vender menos carros, eles continuarão caros, e isso poderá cortar postos de trabalho. Tavares disse que “primeiro perdemos a base de clientes e depois temos de encolher a empresa, o que vai originar, claro, questões sociais”.
Carlos Tavares explicou que os fabricantes precisam de tempo para testar a nova tecnologia, pois forçar a velocidade será contraproducente, já que trará todo o tipo de problemas, como os da qualidade e da confiabilidade”.
O executivo revelou que o seu grupo tentará evitar cortes aumentando a produtividade mais rápido do que é normal no setor. “Nos próximos cinco anos, temos de assimilar 10% de produtividade por ano, isso numa indústria que está habituada a oferecer um aumento anual de 2 a 3%”. Finalizando, disse: “O futuro dirá quem vai conseguir assimilar isto e quem falhará. Estamos colocando a indústria nos seus limites”.
AB