Quase dois anos de afastamento social compulsório. E a chance de duas semanas na praia, em férias: irrefreável compulsão de mineiro cercado de montanhas.
Casa alugada no litoral norte do Rio, bagagem acomodada no (imenso…) porta-malas do Passat e vamos aos 560 km que nos separam do mar. Tempo de viagem previsto pelo Waze de 7:00 (sem paradas) e a Cristina como navegadora…
Tantos anos sem viajar de carro que nem me lembrava dos obstáculos…
Crateras: omissão bem remunerada
A começar pelos pedágios, na BR-040 (Belo Horizonte-Rio de Janeiro). O primeiro deles logo com meia hora de viagem. Não era final de semana, nem horário de rush, mas longas filas nas poucas cabines (em operação). E, quanto mais longas, maior o número de simpáticas vendedoras do passe livre (Sem Parar). Faz até supor uma mafiosa integração entre a concessionária e a opção afixada no para-brisa.
Aí vem o capitulo das crateras. Você as percebe, mas nem sempre tem como escapar, pois pode ter outro carro ao lado. Mergulhei numa delas, profunda. A mais de 100 por hora é uma pancada forte, seca, sonora, que quebra roda, pneu e suspensão. Já fui me preparando para encostar e fiquei esperando a tremedeira do volante. E imaginando a mão de obra para remover toda a bagagem (na chuva) e retirar o estepe. Mas, roda original, pneu de perfil razoável e pressão 3 libras acima da recomendada, ainda não foi nessa…
Estrada regiamente pedagiada: R$ 0,15 por km. Custo de cerca de R$ 170 ida/volta (1.100 km). Difícil entender como, ao invés de uma manutenção de Primeiro Mundo, pois cobra como tal, tem-se que enfrentar tantas irregularidades no piso e sinalização deficiente, danificando veículos e ameaçando a segurança dos usuários.
Verdadeira vergonha a indiferença, descaso e omissão do governo federal, que só se preocupa em faturar, leiloar trechos de estradas entre empresas candidatas a concessionária e radares para flagrar motoristas distraídos. Acredite se quiser: num trecho da BR-040, próximo a Ewbank da Câmara, MG, máxima de 30 km/h...
Capítulo à parte são as “ondulações transversais”. Lombadas (ou quebra-molas) para reduzir a velocidade construídas por autoridades de trânsito incompetentes e sem criatividade. A maioria desrespeita a regulamentação do Contran, tanto em dimensões, como na distância mínima entre elas e nas vias em que podem ser implantadas. Entre outras irregularidades, sua exagerada altura que ultrapassa todas as normas, danifica cárter, travessa, silenciador e outros componentes da parte inferior do carro. Num ponto da estrada, uma lombada eletrônica exatamente acima da física, no asfalto…
O fascínio pela esquerda
Não bastassem o descaso e ânsia por faturamento do governo para implantar sua máquina de tortura para carros e motoristas, tem também a incompetência e ignorância dos que estão ao volante.
A começar com a inexplicável paixão pela faixa da esquerda, mesmo estando (muito) abaixo da velocidade máxima permitida. Entre outros, deparei-me com um Toyota Corolla nessa situação. Pisquei faróis. Nada. Liguei seta para a esquerda. Nada. Forcei a situação aproximando-me do “Vovorolla”, que finalmente rumou para a direita. Enquanto eu o ultrapassava, ele buzinava freneticamente, indignado por ter sido forçado a deixar a esquerda.
A viagem prevista para sete horas durou quase dez, pois um caminhão tombado na pista parou o trânsito mais de duas horas. Como o final já foi à noite, ainda tive o dissabor de enfrentar dezenas de motoristas com faróis altos ofuscando quem vinha em sentido contrário. E pelo retrovisor, os que iam à sua frente.
Não faltaram também, em trechos com chuva mais forte, idiotas acionando (irregularmente) o pisca-alerta com o carro em movimento e perturbando os demais.
Gran Finale: ao cruzar a cidade de Saquarema, próximo ao destino, mais um perigo: ao arrancar num semáforo que acabara de se tornar verde para mim, tive que frear subitamente, pois uma picape Renault Oroch, com o logotipo da Prefeitura local na porta, avançou o cruzamento no vermelho. Belo exemplo de falta de cidadania e desrespeito à legislação pela municipalidade de Saquarema. Coerente com a postura das demais autoridades de trânsito e administrativas nos níveis estadual e federal.
Cereja do bolo? A prefeitura de Arraial do Cabo não se envergonha de cobrar R$ 20,00 para se estacionar numa praia do Pontal de Atalaia. Até poderia, fosse um estacionamento organizado, bem calçado e sinalizado. Mas jamais nos toscos acostamentos com vasto matagal de uma estrada estreita, de terra, esburacada, sem demarcação de vagas, com carros atolando ou derrapando na lama e nas poças formadas pelas chuvas.
E la nave va…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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