Parece um refrão da indústria automobilística mundial, carro barato não dá lucro, então o negócio é partir para carros de menor produção mais caros, mais lucrativos. Mas quem advoga tal estratégia não explica como foi possível a Ford crescer tanto calcada no minimalista modelo T e a Volkswagen, no Fusca. Ou a Fiat da família Agnelli, ou a Renault mesmo sendo estatal entre 1945 e 1996. Desnecessário dizer que ‘Volkswagen’ é uma expressão em alemão que significa ‘carro do povo’ e que foi concebido para as famílias com até três filhos aproveitarem o país nas suas novas autoestradas trafegando a 100 km/h rodando pouco mais de 14 quilômetros com um litro de gasolina.
Nos anos 1930 todas as grandes fabricantes europeias de carros grandes (e caros), à exceção da Rolls-Royce, se mexeram em direção aos carros de baixo preço, populares. Até mesmo a Daimler-Benz com o Mercedes-Benz 130 H (H de Heckmotor, motor traseiro). A Adam Opel AG, maior fabricante alemão e que pertencia à General Motors Corporation desde 1927, lançou o popular Kadett em 1936, O Fiat 500 e o Citroën 2CV começaram a ser projetados em 1936. A Renault lançou o pequeno Juvaquatre em 1937 e o 4 CV, em1946. E assim foi, a história está repleta de exemplos de carros populares, todos destinados a estarem ao alcance do público de menor poder aquisitivo. Comum a todas essas fabricantes, o crescimento verificado.
Mas dão pouco lucro…
A ideia das fabricantes atuais até que faz sentido — matematicamente. Menos volume, preços mais altos, maior lucro por unidade. Mas tenho impressão de que elas não consideraram um ponto muito importante: haverá quem esteja disposto pagar mais para ter seu automóvel ou disponha de recursos para isso? Disposto a aceitar passivamente a estratégia “isperta?
Lembro-me perfeitamente de Carlos Tavares. presidente e executivo-chefe da Stellantis, no dia do anúncio da nova fabricante juntando PSA Peugeot Citroën DS Opel e FCA Fiat Chrysler Automobiles, em 21/01/2021, falar sobre esta “estratégia” — para alguns dias depois, em declaração pública, mudar o tom para “não é bem isso”…
Se a indústria acha que pode abrir mão de carros mais simples, com motores de aspiração atmosférica, câmbio manual e “kit dignidade” (multimídia e ar-condicionado), com câmbio manual, está completamente enganada. Também, deve parar de “dar pelota” para os NCAP e seus protocolos mirabolantes, que só encarecem os carros, como não haver aviso de cinto de segurança desatado prejudicar as “estrelinhas” Do jeito que vai a indústria caminha para o desastre Ao contrário das fabricantes que nas décadas de 1930 e 1940 viram o filão à espera e o atenderam.
O mais intrigante disso tudo é que nunca foi tão fácil ter uma linha de modelo diversificada graças principalmente ao projeto com auxílio de computador e à automação dos processos de produção. Vinte anos atrás ou menos levava duas horas para trocar uma ferramenta de estampagem na prensa. Hoje, alguns minutos. A produção na linha de montagem é de absoluta precisão graças aos controles em tempo real proporcionados pela informática.
Se na mesma linha da GM em São Caetano do Sul, nos anos 1990, via-se Corsa, Vectra. Kadett e Omega de todos os níveis de acabamento, câmbios manuais e automáticos, motores a gasolina e álcool, hoje a diversidade de produtos é ainda mais fácil
Quem tiver conhecimento da gama de modelos Audi, BMW, Mercedes-Benz, Peugeot, Renault e Volkswagen, para citar algumas marcas, tomará um susto. com o numero de modelos e versões.
Será tão difícil e oneroso produzir carros que mais pessoas possam comprar?
BS
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