Nas tribos 4×4 a marca Land Rover é respeitada desde 1948 quando apareceu o Land Rover Série 1, e de lá para cá só aumenta o número de simpatizantes e entusiastas. A nova geração do Defender apareceu por aqui em 2020 com a versão 110, de 4 portas, bem apresentado pelo editor de fora de estrada do AE, Luís Fernando Carqueijo. Nesta semana recebi para avaliações a nova versão 90, mais curto que o 110 e com apenas duas portas, que visa atender um nicho de mercado bem especifico de estilo de vida. Segundo o marketing da Jaguar Land Rover do Brasil, o novo Defender 90 deverá ser utilizado primordialmente por solteiros ou casais sem filhos, ou que os filhos já saíram de casa. O objetivo é focar nas pessoas que gostam de um design diferente e inovador e que o preço a partir de R$ 545.950 não importe. É para aquele que bate o olho e pensa, eu quero este carro. Agora, se terá coragem de colocá-lo nas trilhas, não tenho tanta certeza assim…

Se preferir, assista primeiramente ao vídeo gravado na região da Curva AE em Araçariguama, SP:

Capacidade off-road

Muitos entusiastas do Defender clássico criticam a “gourmetizada” dada nesta nova geração e mesmo sem o terem avaliado se tornaram haters do novo modelo, mas ao se absterem do que o antigo oferecia e focar em tudo que o novo Defender traz, é difícil perder uma discussão em favor do novo. A tecnologia chegou para ajudar e não para concorrer com o Homem. A GM já usava o slogan “Tecnologia a Serviço do Homem” nos anos ’80, quando a eletrônica embarcada não chegava aos pés da que está disponível hoje.

O Defender 90 vem equipado com o novo sistema Terrain Response 2 que permite aos motoristas mais experientes escolher as condições de direção para o trecho à frente, enquanto os motoristas inexperientes podem deixar no modo automático e o próprio veículo detecta a condição de piso e faz a configuração mais adequada. E foi nessa condição que fiz praticamente toda avaliação deste carro por uma semana, afinal eu me considero com pouca experiência em terrenos que exigem tração 4×4.

Por questões de logística de nossa equipe, gravamos o vídeo na região da Curva AE, mas foi na região de Joaquim Egídio em Campinas, SP que explorei todos os recursos 4×4 do suve. Foram mais de 50 quilômetros rodados em estradas e trilhas de terra da região, por Pedreira e Jaguariúna, e não teve um momento em que senti dificuldades para transpor obstáculos. Como havia chovido na véspera, não faltaram trechos alagados, embora não com os 900 mm de profundidade que o Defender 90 pode enfrentar. O snorkel, tubo de admissão de ar em posição elevada na coluna dianteira esquerda, é um acessório mais para dar tranquilidade ao motorista, pois não aumenta a capacidade de imersão, mas evita admissão de água no caso de aparecer uma marola, e ajuda a captar ar mais limpo ao trafegar por trechos de muita poeira.

Ao ver as fotos e até mesmo o carro ao vivo, não parece que é tão alto, mas ao acessar o interior se percebe o quão útil é o estribo, outro acessório que faz parte do pacote Explorer desta versão testada. Ao estacionar na garagem de casa o tamanho ficou mais evidente. Os 38 graus de ângulo de entrada, no para-choque dianteiro, aumentam ainda mais essa impressão de altura do carro, e esse ângulo, associado aos 31 graus de ângulo de transposição e 40 graus de ângulo de saída. permitem enfrentar muitos desafios pelas trilhas da vida. A distancia livre do solo é de 291 mm, deixando clara sua vocação e DNA.

Aumentando ainda mais toda essa sensação de carro alto, o bagageiro de teto é bem robusto, podendo suportar até 300 kg de carga estática. É muito útil para montar uma barraca e passar uns momentos ali em cima, seja para uma noite ou apenas para apreciar o pôr do sol. Para acesso ao teto há uma escada na lateral esquerda. E na lateral direita uma caixa porta-objetos chama a atenção, mas a fragilidade dessa caixa não me permitiria colocar equipamentos essenciais nela.

Tanto a caixa externa quanto a estrutura da escada e o estepe colocado junto à porta de carga prejudicam muito a visibilidade 360 graus, mas para compensar isso a Land Rover utiliza a tecnologia Clear Sight Ground Vision, ou “capô transparente”, que ajuda o motorista e enxergar à frente, revelando na tela da central multimídia as áreas que ficam escondidas pelo capô. E para trás utiliza sistema semelhante com imagens projetadas no espelho retrovisor interno, ficando livre das barreiras de encostos de cabeças do banco traseiro e da limitação do vidro vigia traseiro.

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No conforto e desempenho da suspensão o Defender 90 utiliza o melhor de dois mundos. Suspensão independente nas quatro rodas com braços triangulares sobrepostos na dianteira e multibraço na traseira, com vários elementos em alumínio, trazendo a leveza que vemos em carros esporte, e peças com geometria de alta rigidez torcional e flexional, necessárias para suportar os esforços da utilização fora de estrada. As molas são pneumáticas por meio de quatro bolsas de ar associadas a amortecimento adaptativo, capazes de monitorar o piso trafegado e a maneira de conduzir a uma taxa de 500 Hz (500 vezes por segundo), deixando o carro muito confortável por mais bruto e brusco que esteja o caminho. Esse sistema tem ainda a capacidade de elevar a carroceria em até 145 mm, e é todo gerenciado pelo sistema Terrain Response 2 no modo automático ou manualmente através de comando na central multimídia.

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Potência e consumo em alta

Para enfrentar os desafios de uma trilha, um dos principais requisitos é dispor de bastante força trativa, que é proporcionada pelo motor denominado Ingenium P300 a gasolina de quatro cilindros em linha, 2-litros turbocarregado de duplo-comando, 16 válvulas com variador de fase na admissão e escapamento, bloco, cabeçote e cárter de alumínio, e injeção direta, que entrega 300 cv a 5.500 rpm e 40,8 m·kgf entre 1.500 e 4.500 rpm. É o mesmo motor de outros carros da Jaguar Land Rover, entre eles o belo esportivo F-Type.

O câmbio automático epicíclico ZF de 8 marchas fica responsável por transmitir a potência ao sistema de tração integral, no melhor estilo de diferencial traseiro fixado no subchassi e com o inconveniente de variar a distância em relação ao solo quando da movimentação da suspensão, diferentemente do que acontece em veículos de eixo traseiro rígido, como o Defender clássico. Para toda tecnologia sempre existirão os haters e os lovers, mas os haters esquecem que neste moderno sistema, a carcaça do diferencial está a maior parte do tempo mais alta, e mesmo quando abaixa totalmente ainda está com boa altura livre do solo.

Adicionalmente ainda conta com a caixa de transferência com reduzida com acionamento eletromecânico feito através do painel de controle. A troca de marchas em modo manual é feita exclusivamente pela alavanca seletora.

A força desse conjunto permite acelerar o suve de 2.140 kg de 0 a 100 km/h em 7,1 segundos, um valor até surpreendente e talvez desnecessário, mas que traz prazer ao dirigir. O coeficiente de arrasto aerodinâmico (Cx) 0,38, associado à área frontal corrigida de 1,194 m², não ajudam no desempenho para velocidade máxima (191 km/) e, principalmente, consumo de combustível. O valor homologado junto ao Inmetro é de 6,1 km/l no uso urbano e 6,8 km/l no rodoviário. No trecho entre São Paulo e Campinas pela rodovia dos Bandeirantes a 120 km/h o consumo foi de apenas 8,0 km/l, mas o tanque de 90 litros ajuda quando se necessita maior alcance. Certamente os apêndices externos (caixa lateral, bagageiro e escada) do carro testado colaboram muito para esse mau resultado.

Interior funcional

O acesso ao banco traseiro é facilitado pelo basculamento elétrico do encosto dos bancos dianteiros, mas mesmo nessa condição não é uma atividade fácil para qualquer um. O espaço para as pernas e conforto geral no banco traseiro é bom para duas pessoas. Os bancos dianteiros são bem desenhados e bem confortáveis, com ajustes elétricos e memória que gravam inclusive a posição do volante de direção na altura e distância, ajudando na busca da melhor posição de dirigir.

Beleza e funcionalidade são os destaques do quadro de instrumentos. A sua visibilidade é muito boa e a operação dos comandos no painel central é intuitiva mesmo com alguns botões tendo funções duplicadas. O mesmo acontece nos botões do volante de direção, que após algum tempo já fica automática a comutação entre as duas funções.

O volante de quatro raios e as alavancas de seta e limpador do para-brisa parecem meio antiquadas no primeiro contato. A alavanca de câmbio posicionada à frente, junto com o painel de comandos encobre a visualização de alguns comandos, mas nada que comprometa o uso geral do carro.

A posição da central multimídia sugere que ela poderia deslizar ao longo do painel de instrumentos, mas isso não é possível. Ponto positivo para o grafismo da tela e facilidade de leitura e interpretação de todos os ícones tanto na central quanto no painel e volante.

O acabamento dos painéis internos de porta mescla chapa metálica, com peças plásticas rígidas e peças almofadadas, e toma um ar despojado ao utilizar parafusos aparentes nas portas e no console central. O ar-condicionado de comando automático e digital tem duas zonas e consegue separar bem o desejo de cada ocupante, e com a cabine relativamente pequena tem ótima eficiência.

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A versatilidade de basculamento do encosto dos bancos traseiros permiti acomodar cargas maiores, minimizando a frustação do tamanho diminuto do porta-malas de 397 litros. A abertura lateral da tampa do porta-malas é outra solução providencial, caso contrário apenas jogadores de basquete conseguiriam alcançar a borda da tampa aberta para fazer o fechamento. Mas sendo um projeto originado na Inglaterra, a abertura da porta é para a calçada, poderia ter sido invertida como foi feito com a posição de dirigir.

Exterior simpático

A equipe de Design da JLR foi muito feliz no desenho desta nova família Defender, que desde o lançamento do 110 já me pareceu simpático e atraente, mesmo não sendo um apreciador fervoroso da marca ou do conceito 4×4. É aquele desenho que te convida a chegar perto para ver melhor, ou até mesmo se afastar para apreciar o conjunto todo. Eles conseguiram fazer um desenho de linhas retas, como era o Defender clássico, introduzindo modernidade com as concordâncias arredondadas e sem encher de frisos ou elementos de jewell effect (efeito joia) apenas para chamar a atenção e que certamente dificultaria a manutenção em caso de uso fora de estrada.

O desenho das rodas de liga de alumínio com cinco raios é simples, moderno e esportivo, e ainda tem a vantagem de ser fácil de limpar após uma semana de trilhas. Os pneus 255/60R20 Goodyear Wrangler All Terrain Adventure foi uma decisão acertada da JLR, pois confere melhor capacidade de tração em terrenos de baixa aderência, sem comprometer o ruído interno com uma rodagem áspera.

Esse conceito das rodas grandes posicionadas muito próximo às extremidades do veículo fica bonito e causam um efeito interessante: ao entrar em um trecho alagado as rodas lançam a água para frente e para cima, e como o ângulo de ataque é generoso essa água sobe à frente do veículo, e o carro em movimento recebe toda essa água no para-brisa. Chega a ser divertido fazer isso em cada poça d’água.

A iluminação pelos faróis em LED matriciais com facho alto automático é muito boa e as lanternas traseiras são embutidas na carroceria para menor risco de quebrar em contatos com troncos de árvores.

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Conclusão

Sem sombra de dúvida, o novo Defender 90 teria lugar na minha garagem dos sonhos, e assim que acertar as seis dezenas da Mega-Sena em um único cartão, pois semana passada acertei os seis, mas em cartões diferentes, buscarei o meu na concessionária mais perto de casa.

O rústico do interior não empobrece, pois está ali para dar praticidade na utilização. O piso todo emborrachado sem carpetes ou tapetes é justamente para o proprietário não ter medo de enfrentar trecho de lama e facilitar a limpeza posterior. Os para-lamas aparentes do lado de fora remetem à tradição da versão clássica e reforçam a imagem de robustez do desenho exterior.

É realmente um suve para um nicho de mercado, tanto que seu preço está cerca de R$ 15 mil abaixo da versão 110 que oferece maior praticidade com 4 portas, mais espaço interno, com a mesma capacidade fora de estrada. Chegou para conquistar os admiradores da marca com nostalgia e tecnologia sem precedentes.

GB

Ficha técnica e lista de equipamentos estão após a galeria de fotos:

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