Muitos pensam que tanto faz cv (cavalo-vapor) ou hp (horsepower) como unidade de potência, mas há diferença. Uma potência expressa em cv é 1,39% maior do que em hp, ou seja, cv = hp x 1,0139.
Em baixas potências a diferença não é tão perceptível. Um Fusca 1200 de 30 cv tem potência de 30 ÷ 1,0139 = 29,6 hp. Mas quando se trata de 500 hp, por exemplo, são 507 cv. Talvez seja por isso que se diz que “os cavalos alemães são mais fortes” (German horses are stronger)…
Essa pequena diferença complica a vida sabe de quem? Dos alemães. Lá a ´potência é dada em PS (Pferdestärken, cavalos de força), que é o mesmo que cv. O PS só é grafado em maiúsculas porque em alemão os substantivos têm inicial maiúscula. Quando uma ficha técnica é traduzida para o inglês, o que é bastante comum, vem o problema, pois eles têm que usar o hp, e PS é diferente de hp…
Nos EUA, hp é em maiúsculas, como na foto de abertura. Nos anos 1950 os carros da Nascar tinham que ostentar a potência no capô.
A salvação é o quilowatt (kilowatt em inglês), de símbolo kW em qualquer língua, é simplesmente quilowatt, independe de “cavalos”.
A compilar a ficha técnica em inglês e informar a potência em kW — é a unidade oficial de potência pelo Sistema Internacional, SI — os fabricantes alemães podem exprimir corretamente a potência em horsepower (hp), uma vez que kW dividido por 0,7457 converte para hp.
Mas para línguas que usam o “cavalo”, como português (cavalo-vapor, cv) ou francês (cheval-vapeur) é só trocar o PS por cv ou ch, pois a grandeza é exatamente a mesma.
Aqui no AE relutamos em informar potência em kW (quando vem numa ficha técnica) por estarmos habituados com potência em cv, mas na Austrália, por exemplo, a imprensa só usa kW. A única potência em kW fácil de decorar a correspondente em cv é 100 kW, que é 136 cv.
A propósito, kW dividido por 0,7355 converte para cv.
Torque em N·m
Igualmente, o Sistema Internacional determina que torque é expresso em newtons·metro (N·m), estando o quilograma-força·metro (kgf·m) em desuso.
Uma explicação importante. O leitor ou leitora sabe que no AE usamos m·kgf em vez de kgf·m. Quando comecei a trabalhar na GM em maio de 1997 como gerente de imprensa e compilei minha primeira ficha técnica, recebi os dados da engenharia e lá estava torque em m·kgf. Achei que estava errado e “corrigi” para kgf·m. Quando a ficha técnica foi para a engenharia para aprovação, um engenheiro me telefonou e disse que torque de motor era mesmo em m·kgf para diferenciar de torque de aperto, em kgf·m. Apenas preciosismo, porque sendo torque o produto de uma força por uma distância, a ordem dos fatores não altera o resultado.
Como 1 mkgf é igual a 9.806 N·m, quase dez vezes mais, ou 1 N·m é praticamente 0,1 m·kgf, fica mais fácil uma conta mental.
A VW alemã, inteligentemente — ou espertamente — passou há sete anos a denominar comercialmente seus motores pelo torque em N·m seguido de três letras, como informamos nesta matéria. adotando-a ao redor do mundo. Claro, um número maior causa mais impacto, como 250 TSI em vez de 25,5 (m·kgf) TSI. Mais ainda do que um emblema onde se lê “1.4”…
Potência bruta e potência líquida
A potência, independentemente da unidade, pode ser bruta ou líquida. O Fusca 1200 tinha potência bruta de 36 cv, enquanto a potência líquida era, como dito acima, 30 cv. Os “40 hp de emoção” do Renault Gordini eram 32 cv.
Na verdade, são duas as maneiras de se saber a potência de um motor A bruta é medida com o motor no dinamômetro de bancada (motor fora do carro) desprovido de todos os seus órgãos auxiliares como gerador de energia elétrica (antes dínamo, hoje alternador), filtro de ar, sistema de escapamento, embreagem ou conversor de torque fixado ao volante do motor, além de serem feitos ajustes individuais do avanço de ignição a cada intervalo de 500 rpm ou 1.000 rpm.
Na potência líquida o motor é medido conforme funcionará no carro e sem correção de avanço ponto a ponto. Isso leva a números de potência bem diferentes. Como o Passat TS, 96 cv potência bruta e 80 cv potência líquida. Ou o Maverick 302 GT, 199 cv/135 cv.
Até 1971 as potências nos EUA eram todas SAE brutas. Quando passaram a SAE líquida a redução de potência, numérica apenas, foi significativa, decepcionante até. O Brasil demorou a usar potência líquida (norma NBR 5484), só ocorrendo em 1996, e assim está até hoje.
É importante saber que a única medição, de fato, feita no dinamômetro é força, em kgf ou newtons, desenvolvida pelo motor em funcionamento com acelerador todo aberto (TPS 100, de throttle position sensor 100%), a rotação do motor mantida sob controle, pelo operador, por um freio hidráulico ou, como é atualmente, pelo efeito frenante de um motor elétrico gerando energia. Uma vez de posse da força ao longo da faixa de rotação as forças são multiplicadas pela constante 0,7162 m para se conhecer o torque. E a potência, resultado da multiplicação de força (e não do torque) pelas rotações.
BS
(Atualizada em 15/5/22 às 20h55, segunda linha de texto, estava 3,9%, o certo é como está agora, 1,39%)