Na semana passada perguntei por que o VW Fusca é adorado até hoje e conclamei que leitores e leitoras dessem sua explicação. E elas chegaram em grande número. É disso que trata a coluna desta semana.
Mas antes disto vou falar da foto de abertura. Ela mostra exemplos de declarações mais do que explícitas de adoração pelo VW Fusca, pois estas declarações são indelevelmente marcadas na pele na forma de tatuagens. Chamo a sua atenção para a tatuagem que está no centro da fotomontagem, ela é acompanhada por um refrão de uma música alemã que diz: “Ich liebe dich für immer” (Eu te amo para sempre) exatamente em linha com o mote destas duas matérias. Há uma quantidade imensa de tatuagens neste sentido, até caberia um estudo sobre isso no futuro…
Antes de iniciar a publicação de postagens eu gostaria de agradecer a todos que colaboraram com este trabalho publicando suas respostas tanto na matéria como em redes sociais onde ela foi divulgada.
Fernando Moreira
Gromow, uma das maiores virtudes do Fusca, a sua simplicidade, hoje é rejeitada pelos compradores de carros atuais. Mas é aí que vem um dos motivos da adoração pelo carro, uma vez que qualquer um consertava um Fusca enguiçado na rua. As campanhas publicitárias da época de sua comercialização, sempre usando o bom humor, também ajudavam a aumentar a admiração por ele. O arrefecimento a ar do motor, quando a maioria dos carros arrefecidos a água ainda não usavam o sistema selado, obrigando seus proprietários a estarem sempre controlando o nível de água no radiador. Mas o que realmente desperta a simpatia pelo Fusca, principalmente nos dias de hoje, é o desenho de sua dianteira, sem grades de refrigeração e que parece sempre estampar um belo sorriso para quem o observa, e os vincos no capô que lembram um desenho estilizado de um coração. Existe simpatia maior do que um belo sorriso? E para mim, que sou crítico dos desenhos de vários modelos atuais com grades cada vez maiores e que enfeiam a sua aparência. Por isso, sempre gostei das frentes dos carros antigos da Volkswagen, como Variant/TL, Brasília e SP2, com seu estilo limpo, sem grades aparentes.
Um grande abraço.
Helmuth Gair
Eu sinto saudade diariamente do meu primeiro carro, um 68, comprado em estado de coma. Mas arrumei toda mecânica dele, tudo e fui muito feliz até o dia da venda. Que saudade…
Alexandre Zamariolli
Além de tudo isso, ele deu a mais de vinte e um milhões de pessoas a liberdade de irem onde, e quando, bem entendessem.
Programador Maldito
Eu, como atual proprietário de um Fusca 1974, digo que surpreende a simplicidade e facilidade de manutenção. O carro já está com quase 50 anos e provavelmente vai rodar mais 50. É um projeto simples e eficiente.
Marcelo R.
Gromow,
É um carro que está na memória afetiva de muitas pessoas, inclusive na minha. Foram vários anos e vários exemplares onde eu cresci, literalmente, dentro do “chiqueirinho” na traseira do carro, ajudei meu pai nas manutenções feitas na garagem de casa e, cercado pelas bagagens da família, no banco traseiro, viajei muito, no ritmo “devagar e sempre”, que era o permitido pelo valente boxer “miletrezentos”, da maioria dos que foram comprados pelo meu pai. Tudo embalado pelas modas de viola, que ele gostava de escutar no toca-fitas e pelas citações dele, fazendo referência às famosas propagandas da década de 1960: “O ar não ferve!”, “Invista em um negócio que não quebra!”, enquanto o 1300 deixava para trás os carros novos e modernos, na época, encostados no acostamento com seus capôs abertos e aquela fumaceira vinda do sistema de arrefecimento devido à água que ferveu. Se eu fosse ter um hoje, deveria ser um 1300 L 1974, branco, ou algum modelo até os 1970 1ª série, com o volante branco e as ferragens internas na mesma cor, que eu considero um conjunto muito bonito.
Obrigado por me fazer desenterrar essas lembranças! :)
Telmo Ryoiti
Se tem algo que admiro nos Fuscas ou qualquer um dos VW arrefecidos a ar, é a simplicidade com eficiência. Soluções simples de suspensão, motor e transmissão que agem com extraordinária eficiência, combinadas com robustez. Nada de invencionices, firulas ou complicações. Automóvel como tem que ser. E acredito eu que na época em que o Fusca esteve em seu auge de vendas nos Estados Unidos, que foram os finais dos anos 1950 e ao longo dos anos 1960, muitos americanos estavam se cansando das firulas estéticas e de invencionices sem necessidade que recheavam os carrões americanos dessa época e estavam desejando algo simples e prático. Para esse público, o Fusca era perfeito. E essa busca pelo simples e eficiente, tendência essa que marcaria a década de 1960, talvez explique o estrondoso sucesso do Ford Mustang logo no seu lançamento. Quero deixar claro que Fusca e Mustang não podem ser comparados, até porque são categorias de veículos completamente diferentes, mas o ponto em comum deles é que são carros simples e que cumprem com eficiência seu propósito de levar pessoas de um lugar para outro de forma confiável e sem apresentar problemas.
Fat Jack
O Fusca chegou à grande fama, carinho e, por que não dizer, amor devido à grande confiabilidade e valentia do conjunto, à capacidade de enfrentar terrenos difíceis assim como extrema capacidade de permanecer rodando mesmo sob difíceis condições sempre foram marcas registradas do modelo desde a década de 50 e 60. Eu costumo dizer que Fusca tem que ter para entender. Me espelho na minha própria história para dizer isso, na década de 90 sem ter tido nenhum Fusca eu achava o carrinho curioso e por não conhecer suas qualidades não entendia como alguém podia gostar tanto de um carro com tamanho externo de um Escort e pouco mais da metade do seu espaço útil além de mais barulhento e dono de uma visibilidade risível (onde se dirige inicialmente por instinto). Mas logo ao primeiro contato o danado do carrinho foi se mostrando mais e mais um baita escudeiro, um carrinho que devolve em milhares de quilômetros de paz cada real investido em sua manutenção.
Não tem ar, não tem direção assistida, não tem travas ou vidros elétricos, não tem frescura nem supérfluos, mas garantidamente vai e volta contigo de um jeito que quando você menos percebe já é capaz de numa viagem deixar todos os luxos citados acima para ir com ele.
Marco Rebuli
“Por que razão o Fusca é tão adorado?”
“Volkswagen” significa “carro do povo” … e pronto!
Roberto Alvarenga
É a caneta BiC dos carros. Simples, funcional, e sobretudo inteligente. Por isso eu gosto!
BlueGopher
A capacidade de ir a qualquer lugar sem ficar pelo caminho.
Estradinhas de terra esburacadas, subidas enlameadas, nada segurava o Fusca. O motor e a tração traseira e a parte inferior plana que às vezes fazia o papel de uma prancha de surfe nos piores lugares eram os grandes responsáveis por estas características.
Ainda hoje aqui pelo interior, ainda é o carro usado por muitos pequenos produtores rurais.
E, claro, se quebrar, até no bar da esquina há alguém que sabe consertá-lo, se for preciso.
Fórmula Finesse
Bom, falando por mim, primeiramente porque tenho ainda lembranças da batucada seca junto à vigia traseira, quando eu cabia no chiqueirinho e ficava batendo com as mãos no forro que recobria a lata, como se fosse um tambor;
Depois, pois foi provavelmente o primeiro carro que tive instruções de direção mais sérias (o primeiro mesmo, foi um Gol Copa);
Mais adiante, foi meu primeiro provedor de liberdade, meu e somente meu;
Era gostoso de guiar apesar do desempenho do pífio motor 1300, eu já tinha acesso a carros bem melhores, em casa, mas o Fusca tem uma malícia mecânica só dele: a caixa de câmbio justa e perfeita que aceita qualquer tipo de troca, a batida seca do pedal de embreagem sendo solto, a direção leve e rápida comandando pneus estreitos, e o perigo iminente de rodar se você descarregar demais a suspensão traseira;
Mesmo andando pouco, sua tração traseira se prestava a muitas brincadeiras, o tipo de coisa que nenhum carro com tração dianteira vai te proporcionar, por mais potente que seja;
Meus primeiros namoros foram dentro dele, verdadeira cápsula do amor (céus, se é coisa de escrever?);
Ele era diferente e é ainda hoje, peculiar demais e ainda barato, uma experiência incrível para quem gosta de dirigir, qualquer passeio é divertido, virtudes e deficiências enriquecendo o ato de guiar;
Acho que basicamente é isso, nunca foi meu carro preferido, mas adoraria voltar a dirigir um…tem gosto de retorno para casa, é sempre legal voltar;
Adonias Miranda Souza
Existem explicações tanto objetivas quanto subjetivas para explicar o Fusca, e talvez as subjetivas, por envolver emoções tanto conscientes quanto inconscientes, expliquem melhor do que se vê ao se olhar para um Fusca, ao que não se vê, mas se sente, do desenho de linhas arredondadas que, segundo a ciência, tem um efeito positivo quando se olha para algo com essa característica, o que já coloca uma vantagem nessa empatia inconsciente com o Fusca. A simplicidade, praticidade, durabilidade e, queira ou não, uma beleza única… Todos estes fatores têm um poder consciente ou não de fazer o Fusca ser amado sem ser odiado!
Washington Sidney Silva
Se pararmos para pensar o que nos atrai num carro, vamos chegar em números de potência e torque, design, espaço interno (ou o Sport Utility Vehicle — Veículo utilitário esporte — que alguém próximo comprou). Mas no mundo real o que faz a gente admirar um carro é o quanto ele atende às nossas necessidades. Eu tenho quase 30 anos, seria mais normal achar legal um elétrico com central multimídia, mas desde pequeno eu via que a recomendação para primeiro carro ao tirar habilitação, carro para trabalhar e não gastar o carro mais novo da casa, carro para quando tudo aperta e você precisa vender seu auto mais moderno, era um Fusca.
Simples de consertar (a história do alicate e o rolo de arame), não chama atenção, não dá para tomar muita multa, barato de IPVA… Tudo apontava para ele. É semelhante ao que senti pelo meu primeiro carro, mesmo com meus abusos, sobreviveu, me levou aos lugares, às experiências inéditas, quebrava pouco e quando acontecia era barato consertar. Hoje tenho um carro mais novo, mas bate a saudade do meu 1300 a álcool apertadinho…,
Esse carinho vem por conta de ele ser igual aquele amigo que você liga às 3 da manhã pedindo ajuda para alguma coisa, e ele te atende e ajuda. Mesmo que você tenha ficado meses sem mandar um “como estão as coisas?”. O Fusca resolve o problema, mesmo com diversos defeitos, mas no final você sabe que ele cumpre a função básica dele sem exigir muito de você.
Eduardo Sérgio
As coisas boas da vida não existem para ser compreendidas, e sim para ser apreciadas e usufruídas, especialmente se apresentadas sobre quatro rodas.
Daniel Girald
A concepção eficiente sem extravagâncias, e a aptidão para enfrentar condições ambientais severas que a princípio pareceriam intransponíveis para outros veículos de tração simples, certamente foram favoráveis à “fuscalização” de um Brasil ainda predominantemente rural. E pelo que me foi dito recentemente por uma idosa, o tamanho do Fusca ainda é bastante conveniente para uso urbano.
Heloi SF
Quando criança e adolescente, não tinha nenhuma admiração pelo Fusca e seus derivados “a ar.” Mas amadureci e o encanto veio.
É como amar uma mulher: não têm explicação. Tu gostas e ponto final.
Carlos Spindula
Tenho imensa admiração pelo Fusca, não adoração, mas ótimas lembranças, pois meu pai teve vários e após 1970 sempre os Fuscas 1500 e depois o Brasília. Lembro de pequeno andar no chiqueirinho ou ir com ele no banco da frente segurando no “pqp” do painel (alça do painel). No Brasil o Fusca tornou-se icônico como símbolo de transporte e ascensão social, compartilha alguns dos motivos desse amor com os apresentados nos EUA, mas aqui os automóveis sempre foram extraordinariamente caros e os Fuscas eram os mais acessíveis deles todos, resistentes, duráveis e fiéis.
Luiz Felipe
Acredito que é tudo uma questão de durabilidade, levando em consideração sua venda aqui no Brasil. Nós brasileiros nunca tivemos um poder de compra comparado ao de países como Estados Unidos, onde é normal ter mais de um carro para mais de uma finalidade, por isso sempre preferimos um carro que aguente as estradas de terra de um passeio no campo, tenha uma boa economia para o trânsito na cidade e que esteja em pleno funcionamento quando se precisa levar a família para passear. O Fusca sempre foi sinônimo de “carro indestrutível”, tal qual é o Uno, mas diferente do “tanque de guerra” da Fiat, o design do Fusca sempre manterá um legado maior no imaginário dos entusiastas em geral, tanto que quando se pensa em carro clássico indestrutível e confiável, é quase certeza que venha Fusca na cabeça.
Maycon Correia
Alexander, eu falar de Fusca não é bater na mesma tecla de sempre, pois como faz parte da minha vida desde o dia que eu saí da maternidade (dentro de um VW Fusca 1600-S que meu tio tinha na época) até o primeiro carro que eu me lembro de ter andado (um 1986 novinho que meu pai tinha em janeiro de 1987) e ser o meu primeiro carro. Aquele 1500 de 1970 que trato com carinho e afeto como se fosse gente. Cada vez é uma história diferente, um “causo” novo e coisas a acrescentar.
Eu acho que as novas gerações gostam do Fusca por achar ele simpático e com traços de ser vivo, tanto que com meu carro já percebi crianças dando oi e tchau para ele parado. Meu afilhado de quase 4 anos é fanático pelo meu carro, uns primos bem mais novos que eram crianças nos anos 2010 a 2015 alugaram tanto os filmes do Herbie que ganharam a coleção completa do dono da locadora!
Ele traz lembranças de tempos que nem recordávamos, como agora eu lembrando de 1998 pintando o assoalho do Fusca 1962 que meu pai restaurou, ou de dezembro de 1993 quando levamos o nosso recém-comprado “Itamar” bege Athenas para a revisão gratuita de 2.500 km. Lembranças do pai saindo cantando pneu com aquele carro e parece que foi agora pouco, aquele 1300 1981 do meu avô paterno que em 1993 ostentava as placas amarelas com plaqueta de licenciamento de 1982 que dizia BR282 SC. Saindo do Fusca e não indo muito longe, quando andava com meu padrinho na Kombi 1993 dele e ouvia aquele “clac clac” de abrir e fechar a porta, ou ouvia a buzina que era a mesma da Kombi “coruja” 1974 escolar que passava na frente de casa todo dia ou a dele 1993 novinha na época aquele “BIMP” inconfundível.
São as doces lembranças que vão manter o Fusca vivo por mais algumas gerações.
Abraço e obrigado por essa linda matéria.
Ronaldo Berg
Talvez a resposta esteja neste quadro (recebido por WhatsApp):
Virgínia Oliveira
Nós amamos o Fusca porque vai em qualquer lugar faça chuva ou faça sol. Tenho um para ser ressuscitado, 1962. (recebido por e-mail)
Carlos Machado
O Fusca foi feito para o povo. (recebido por e-mail)
Sim, a pergunta é recorrente todas as vezes que sou entrevistado pela mídia, e os entrevistadores esperam uma resposta única e cabal, só que ela não existe. Cada um de nós tem a sua resposta, como ficou mais uma vez evidente nas participações acima. E isto é mais do que justificado, cada um de nós tem uma percepção personalíssima do “fenômeno Fusca”. Mas entre os que gostam de Fusca há um ponto em comum, que, desculpem a redundância, é o fato de gostar de Fusca, independentemente de tantas conjecturas.
AG
NOTA: Nossos leitores são convidados a dar o seu parecer, fazer suas perguntas, sugerir material e, eventualmente, correções, etc. que poderão ser incluídos em eventual revisão deste trabalho.
Em alguns casos material pesquisado na internet, portanto via de regra de domínio público, é utilizado neste trabalho com fins históricos/didáticos em conformidade com o espírito de preservação histórica que norteia este trabalho. No entanto, caso alguém se apresente como proprietário do material, independentemente de ter sido citado nos créditos ou não, e, mesmo tendo colocado à disposição num meio público, queira que créditos específicos sejam dados ou até mesmo que tal material seja retirado, solicitamos entrar em contato pelo e-mail alexander.gromow@autoentusiastas.com.br para que sejam tomadas as providências cabíveis. Não há nenhum intuito de infringir direitos ou auferir quaisquer lucros com este trabalho que não seja a função de registro histórico e sua divulgação aos interessados.
A coluna “Falando de Fusca & Afins” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.