No começo da década de ’70 a Volkswagen do Brasil recebeu carta branca para produzir e desenvolver modelos voltados para o mercado nacional. Essa, sem dúvida nenhuma, foi uma grande conquista para toda a equipe de designers e engenheiros que já trabalhavam adaptando projetos para o nosso mercado.
Nessa esteira surgiram alguns modelos extremamente interessantes. Um deles foi o SP2, com motor 1700, que também tem um uma versão chamada SP1, com motor 1600 um pouco menos potente — 54 cv ante 68 cv —, e se tornou um dos clássicos nacionais mais valorizados no exterior com o decorrer dos anos. Vale lembrar também do Karmann Ghia TC, que teve como inspiração o Porsche 911 e fez bastante sucesso no mercado.
Porém, falando em números totais de produção e também proposta para um público mais abrangente não há como se esquecer do Brasília. Esse modelo foi desenhado, testado e completamente desenvolvido no Brasil. Trazia um design bem acertado para A época bem como soluções que se encaixaram perfeitamente com o seu público-alvo.
A produção também reflete os números de seu grande sucesso no mercado. Lançado em 1973 logo caiu no gosto do público com as qualidades citadas e uma personalidade Volkswagen presente em cada parte do projeto. Mais de 950.000 exemplares saíram da fábrica da Anchieta para ganhar as ruas.
Um de seus diferenciadores mais interessantes em relação ao Fusca era o acesso ao motor boxer de 1,6 litro. Nesse caso não foi adotado o motor plano como na Variant e família TL,, e no SP2/SP1, mas uma configuração idêntica à do irmão que deu origem à série. Porém, mesmo assim o espaço podia ser bem aproveitado logo acima do motor para levar alguma bagagem.
De qualquer forma, hoje falaremos de preparação. No decorrer dos anos muitos consumidores utilizaram receitas variadas sejam elas aspiradas ou turbocarregadas. Esse motor sempre teve uma característica de ser bastante versátil quando a proposta era extrair um pouco mais de potência.
Dessa forma o carro recebeu um supercharger M45, modelo que já foi utilizado pela Mercedes-Benz em seus modelos Kompressor. O ajuste foi feito com uma injeção eletrônica programável e os números do dinamômetro são bem interessantes: 150 cv e 26 m·kgf de torque. Nada mau.
Saindo já notamos que ele é mais esperto desde as baixas rotações. Isso porque o supercharger (supercarregador em português) tem como característica principal o fato de ser acionando mecanicamente pelo virabrequim em vez de por uma turbina movimentada pelos gases de escapamento, como no turbocarregador (turbochargerr em inglês), que por sua vez aciona o carregador propriamente dito), o que proporciona farta potência desde os baixos giros. É uma vantagem em relação ao turbocarregador e que mostra o seu maior diferenciador.
Pisando fundo o sistema emite um ruído, um silvo bastante característico produzido pelos lóbulos contrarrotativos do supercarregador. Se os apaixonados por turbocarregadores apreciam, em sua maior parte, o som do espirro da sua válvula de prioridade, nesse caso o som estridente do sistema em funcionamento acaba sendo música para os ouvidos. É algo muito próprio e que vemos em modelos de série como o Mustang Shelby GT500, dotado de supercarregador.
Os engates curtos desse modelo de alavanca de câmbio fazem com que a condução seja bem divertida. Como já foi dito, as rotações sobem rapidamente e logo pedem mais marchas. Já o escapamento em inox traz um som encorpado, o que acaba chamando atenção na rua, juntamente com o ruído singular do supercarregador. É uma solução muito bem acertada a essa configuração mecânica.
Esse exemplar de 1977 na cor amarelo Java está equipado com rodas de 17 polegadas. Elas são um pouco grandes mas o acerto na suspensão mantém um certo nível de conforto. E o gerenciamento da injeção eletrônica programável é bem acertado, algo bastante comum nos projetos atuais.
O Brasília realmente fez história no mercado brasileiro e segue em projetos especiais como esse. O que mais gostei foi a ideia de potência bem ajustada às características do carro. Nada exagerado e proporcionando momentos de diversão nos passeios de fim de semana.
GDB