Começo o texto dessa semana com uma pergunta: o que é ser simples para você? Essa questão pode ter várias respostas diferentes, de acordo com diferentes pessoas. Porém a indústria automobilística brasileira já chegou ao limite dessa palavra durante a década de 60 e o lançamento de alguns carros extremamente espartanos.
A ideia naquela época era criar algo que fosse acessível ao maior número de consumidores. Para isso a Caixa Econômica Federal abriu um financiamento especial em 48 vezes juntamente com algumas das fabricantes para proporcionar uma opção de pagamento facilitado a esses clientes de baixa renda.
Algumas opções logo surgiram no mercado. A Willys lançou o Gordini “Teimoso”. A Vemag lançou a “DKW Pracinha”. A Ford, por sua vez, lançou o Galaxie apelidado de “Pé de Camelo”, mas que certamente não combinava com a ideia e muito menos com a proposta luxuosa original do modelo.
A Volkswagen, por fim, lançou uma opção que se tornaria a referência máxima em qualquer coisa com acabamento simples; o Fusca “pé de boi”. Esse apelido dado pela criatividade do povo brasileiro logo se tornou sinônimo de qualquer coisa que fosse feita a toque de caixa.
Esta versão não trazia conjunto de setas, apenas uma saída de escapamento e se caracterizava também pelos para-choques pintados de branco e não cromados. Externamente ainda vale salientar as calotas de roda brancas em vez de cromadas e os vidros que eram mais finos do que o modelo 1200 convencional.
Na parte interna a ideia de simplicidade chegava a ser ofensiva. O forro cobria apenas uma parte do teto e toda a parte traseira do “chiqueirinho” ficava com a carroceria exposta. Além disso no painel apenas um volante simples, sem o símbolo da Volkswagen, e o velocímetro. Não havia tampa no porta-luvas e tampouco marcador de combustível. A verificação feita através de uma vareta graduada inserida no tanque e o motorista dispunha de uma reserva de 5 litros dos 40 do tanque, suficientes para rodar em torno de 50 quilômetros, sistema de todos os Fuscas até 1960..
Na parte mecânica o conhecido motor com 1.192 cm³ de cilindrada e 30 cv (36 cv potência bruta SAE) que possibilitava um desempenho melhor do que a versão convencional por conta do menor peso dessa versão. Afinal, alguma coisa interessante ele tinha que apresentar.
Hora de andar. Virou a chave e o som característico do motor boxer arrefecido a ar invadiu o habitáculo. E não é força de expressão nesse caso. Com camadas de acabamento a menos o ruído interno é um pouco mais elevado do que nos outros Fuscas.
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O Pé de Boi se movimenta com agilidade. A diferença de peso conta a seu favor. Como eu disse dois parágrafos acima, ele já vinha preparado de fábrica com alívio de peso. Alguns deles até foram usados em provas de automobilismo com a troca do motor por algo um pouco mais potente. Rendiam bem.
Andar com um Fusca tão simples e sem o marcador de combustível é algo estranho. Mas não era uma exclusividade do Volkswagen. Algumas versões do Porsche 356, seu irmão por parte de pai, também não traziam este acessório fundamental. Porém ao contrário do nível do óleo, o nível do combustível me parece algo mais importante para verificação em tempo real.
O modelo foi lançado em 1965. A ideia inicial que encontramos pesquisando em alguns livros é que sua produção terminou no ano seguinte. Porém, falando com especialistas vemos que a Volkswagen ofereceu esta versão mais simples até o final da década.
Do ponto de vista histórico, andar em um deles é uma experiência muito bacana. Encontrar também um exemplar como esse todo original não é uma tarefa fácil. Isso porque muita gente, já na época, equipava o modelo para que não parecesse tão simplório. Dessa forma os originais acabaram ganhando valor por conta de sua importância histórica e até mesmo por fazer parte do folclore automotivo nacional.
GDB