Combustível sintético, esta é a solução para que os veículos com motores a combustão continuem sendo utilizados para sempre. E com baixíssima emissão de carbono.
Esta “gasolina” não obtida a partir de combustível fóssil foi desenvolvida pela engenharia da Porsche e a fábrica-piloto, construída no sul do Chile (foto de abertura), já começou a produção em dezembro (veja matéria no AE em 21/12). O plano é produzir 130 mil litros em 2023, só para abastecer os veículos de competição da marca e os carros de teste. Mas, em dois anos, o volume produzido sobe para 55 milhões de litros e, até 2027, evolui para 550 milhões de litros anualmente. Uma gota no oceano, se imaginarmos as centenas de bilhões de litros necessários para abastecer toda a frota mundial.
Mas o plano é de construir outras fábricas: as próximas seriam na Austrália e Estados Unidos. A ideia é substituir a geração eólica pela solar em locais com menor intensidade de ventos. A empresa criada para a produção é a HIF (Highly Innovative Fuels), que tem participação da própria Porsche (12,5%), Siemens Eletrica, Exxon Mobil e outras.
Como é produzido este combustível chamado “e-fuel”?
A gasolina é formada por cadeias de hidrocarbonetos, ou seja, composta basicamente de hidrogênio (H2) e carbono (C). Ela pode, portanto, ser obtida sem necessidade do petróleo, a partir de reações químicas com estes dois componentes.
A operação exige a presença de água, dióxido de carbono (CO2) e vento.
O H2 é obtido através da hidrólise da água (H20). Faz lembrar a famosa picaretagem dos “geradores de hidrogênio” oferecidos na internet para se utilizar no automóvel. Com uma diferença essencial: o hidrogênio obtido é o “verde”, ou seja, a eletricidade para a eletrólise vem de uma turbina eólica (da Siemens). O sul do Chile (Magallanes, na Patagônia) foi escolhido por ser uma região de ventos abundantes o ano inteiro. Além do H2, o oxigênio obtido na reação é devolvido (“limpo”) para a atmosfera.
O carbono é obtido pelo processo de captura do CO2, uma operação que “limpa” a atmosfera por se utilizar do dióxido de carbono, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa.
As moléculas de H2 e C formam o metanol sintético que dá origem ao “e-fuel”, ou e-gasolina.
Então, a fábrica de Horu Oni (sul da Patagônia) é ecologicamente correta e, além de não poluir, ainda limpa o meio ambiente.
A gasolina sintética pode ser utilizada em qualquer motor a combustão e a emissão de poluentes é cerca de 90% inferior à dos derivados do petróleo. Mas pode-se dizer que se aproxima do “carbono zero,” pois seu processo de obtenção “limpa” o ambiente com redução do efeito estufa.
Existem várias outras aplicações do “e-fuel”, inclusive em aviões e navios, onde a alternativa da energia elétrica é quase impossível pelo peso das baterias.
Além disso, o hidrogênio “verde” pode ser utilizado em diversos outros setores da economia, para produzir o e-metanol e a e-amônia (para fertilizantes, entre outros). Vale destacar que, das emissões de CO2 no planeta, apenas 40% se originam da queima de combustíveis de origem fóssil nos transportes, pois 60% vêm da indústria, mineração, construções e outras.
Como disse Michael Steiner, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Porsche, “o problema da poluição não é o motor, mas o combustível”. E enfatiza que a empresa continua focada no carro elétrico que brevemente representará 80% de sua produção. “Mas — disse ele — o 1,3 bilhão de automóveis que rodam hoje no mundo vão continuar a existir, circular e poluir a atmosfera. Este combustível vai contribuir para amenizar este problema”.
A Audi (assim como a Porsche, do grupo VW) também desenvolve um combustível sintético, com um conceito um pouco diferente pois utiliza etanol e biomassa para produzir a gasolina, chamada R33 Blue Gasoline (por conter apenas 67% a partir de combustível fóssil). Já o R33 Blue Diesel é obtido com 26% de combustível parafínico renovável (como, por exemplo, o HVO – óleo vegetal hidrotratado) e 7% de biodiesel. Ambos reduzem em cerca de 20% as emissões de carbono. Produção ainda experimental e está abastecendo apenas os carros da linha de montagem, de sua frota e de competição. Assim como a Porsche, ela tem seu principal foco no desenvolvimento de elétricos, mas avança também em combustíveis “limpos” para os motores a combustão.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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