Se a eletrônica, por um lado, trouxe mais segurança, conforto, desempenho e interatividade, é também responsável por uma parcela dos acidentes de trânsito. Pesquisas realizadas por institutos de segurança veicular em vários países registraram índices alarmantes de acidentes provocados pela falta de atenção do motorista.
Por incrível que pareça, as orientações do GPS por áudio são piores que as distrações ao celular. Aliás, quando se menciona a falta de atenção pelo motorista ao celular, deve-se observar que os sistemas “viva-voz” não resolvem o problema, pois a questão não está nem na mão segurando o aparelho, nem em se desviar o olhar para a tela do telefone. O motorista pode estar com os olhos na rua mas sua cabeça a milhares de quilômetros dali.
Segundo essas pesquisas, 70% dos acidentes são provocados por distração do motorista, superando todas as outras causas como o teor etílico, problemas mecânicos ou das estradas.
A eletrônica não é a única culpada pela distração do motorista. Sempre que vejo um filme com o artista ao volante se virando para conversar com o passageiro, me vem a preocupação de ele bater no carro à frente que tenha reduzido a marcha, parado na pista ou outro obstáculo.
Certa vez, viajando numa estrada da Alemanha, me deparei com um outdoor que tinha apenas a foto tirada da lateral de um carro mostrando o motorista com um cigarro na boca, um celular e uma garrafa de cerveja. E apenas uma pergunta embaixo: “E quem dirige?”
Mas a eletrônica agravou o problema com seus enormes painéis do tipo multimídia e comandos táteis. Ora, os motoristas tinham, no passado, apenas botões e alavanquinhas físicas tradicionais acionadas intuitivamente, sem exigir vários segundos de atenção para encontrá-los.
Agora, uma tela imensa costuma exigir vários toques até se deparar com os ajustes de qualquer coisa, inclusive do ar-condicionado. E para sintonizar uma rádio? Ah, que saudade dos dois botõezinhos, um de cada lado.
Surgiram vários aplicativos de extrema utilidade para o motorista. O Waze é um deles, perfeito para determinar o roteiro entre dois pontos. Mas, o Waze é “burro”, e ao indicar o caminho mais rápido, já sugeriu — no Brasil — rotas tão perigosas que motoristas foram abatidos por marginais em favelas temidas até pela polícia.
É o lado complicado da eletrônica. O mesmo que dificultou a vida dos desenvolvedores do carro autônomo: eles reconhecem que o motorista percebe se o indivíduo numa esquina vai atravessar (ou não) a rua. Sensores ou radares só indicam sua presença mas são incapazes de prever seu próximo passo.
Uma curiosidade revelada por estas mesmas pesquisas é que os motoristas dirigem com maior atenção quando estão acompanhados de crianças. Elas os fazem dirigir com maior cuidado, ainda que inconscientemente.
As fábricas estão plenamente conscientes destes problemas e desenvolvendo soluções para evitá-los. Duas alemãs de automóveis sofisticados, BMW e Audi, pensaram na mesma solução para dotar o carro de sofisticadas telas multimídia, algumas, como a que já equipa o novo BMW série 7, possuem quase um metro de largura, mas são instaladas atrás dos bancos dianteiros. Ou seja, acesso permitido apenas aos passageiros que vão atrás.
Mas todos estes problemas tecnológicos serão resolvidos, a médio ou longo prazo, quando chegarem os carros autônomos. Aí não haverá mais perigo algum de distração do motorista pois ele será dispensado de suas funções.
E o problema será outro: quem será responsabilizado no caso de uma “distração” dos computadores?
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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