O leitor Marco Fritsch, de Porto Alegre, autor de matéria “Preservem os manuais“, publicada em 13/6 do ano passado, me escreveu na sexta-feira retrasada (10) contando que participará pela primeira vez de um track day no dia 4 de março próximo e me pediu algumas dicas sobre como dirigir num autódromo, algo que nunca ¨fez. Inclusive, sugeriu que essas dicas constituíssem essa minha coluna dominical, o que achei boa ideia por ser útil para outros leitores que estão pensando em fazer o mesmo. Portanto, aqui vão as dicas.
Dirigir num autódromo, supostamente em alta velocidade, é como fazer uma viagem em ritmo bem forte numa rodovia de pista dupla, ou seja, todos os carros trafegam no mesmo sentido. Entender isso é o ponto de partida.
Aa diferenças são a ausência de tráfego lento, como o de caminhões, bicicletas e pedestres. É pista livre. Mas pode haver eventualmente um carro lento devido a problema mecânico ou elétrico, e a um pneu furado. Mas esse “obstáculo”, nos track days bem organizados, é sinalizado por meio de bandeiras. Seus significados estão no Anexo H ao Código Desportivo Internacional da FIA. Estude-as e decore-as.
O carro
Todos os sistemas devem estar em ordem, não necessariamente “zero-km”. A menos que seja absolutamente necessário, não faça rodízio dos pneus: eles estão assentados nas respectivas posições e seriam necessários 150 a 200 quilômetros para assentarem novamente. Enquanto não assenta o pneu perde um pouco da capacidade de gerar força lateral. Com pista seca os pneus com meia vida ou até menos são os melhores. Já com pista molhada é o inverso, novos.
Infle-os pneus à pressão 20%-30% superior à de carro só com motorista, uso urbano. Deixe o estepe e macaco fora do carro, são pesos desnecessário.
O óleo do motor não precisa estar na marca superior da vareta Entre as duas marchas é mais que suficiente para assegurar a lubrificação do motor mesmo nas curvas. É desnecessário o óleo ser novo, “zero-hora”.
Abasteça com álcool ou gasolina de maior octanagem à venda (Petrobrás Podium, Shell Racing, Ipiranga Octapro). Não que mais octanagem aumente o desempenho, apenas evita-se qualquer risco de detonação que levaria o gerenciamento a atrasar a ignição como medida de proteção do motor, com a inevitável perda de potência.
Mande alinhar rodas deixando a convergência dianteira 1 mm divergente. E faça polimento da pintura para otimizar a aerodinâmica.
A pista
Suponho que você não conheça os limites do carro nas curvas. Portanto este sua estreia num track day será mais de aprendizado do que qualquer outra coisa. Vá aumentando a velocidade nas curvas gradualmente e chegará um momento em que você sentirá estar chegando perto dele.
Use apenas o freio para diminuir velocidade antes de uma curva, o motor (freio-motor) não serve para isso Entenda que reduzir marcha ou marchas serve unicamente para deixar o motor cheio para acelerar depois da curva.
Saiba que o momento de tirar o pé do freio após uma freada antes de curva é tão importante quanto o de pressionar o pedal. A tendência de que começa é frear demais o carro.
Saiba que o pedal de freio é para ser pressionado, e não apertado. Pode parecer contrassenso, mas os movimentos dos pés, como levantar o pé do acelerador, pressionar o pedal de freio e o de embreagem devem suaves,, nunca bruscos.
Conta-giros e rotação: leve a rotação até 10% acima da rotação de pico de potência antes de passar à marcha seguinte. Após duas ou três voltas você “decorará” o seu limite de giros nos vários pontos da pista e poderá esquecer o conta-giros. Isso para que seus olhos possam fazer o “punta-tacco” da visão, cuidar de três coisas com os dois olhos: ver a pista à frente, consultar os espelhos o tempo todo (certamente haverá carros mais rápidos que o seu) e varrer os instrumentos quando possível, como temperatura e pressão de óleo.
O tráfego
Essa é a parte mais difícil em qualquer corrida e num track day é igual, especialmente nas aproximações de curvas, tanto ao se estar procurando ultrapassar, quanto qual a atitude a tomar ao ver um concorrente querer fazer o mesmo em relação a você.
Enquanto você não tiver prática de pista procure facilitar ser ultrapassado, nada de “não deixo”. Você está ali mais para se divertir do que qualquer outra coisa. Mas esse facilitar se resume a trajetória, alterá-la. Nada de tirar o pé do acelerador.
Com o tempo você vai descobrir a maneira de ultrapassar na freada para a curva. No começo pode-se errar em entrar na curva em velocidade incompatível, o que nunca é bom pelas consequências que podem advir. Mas acaba-se aprendendo.
Dois últimos conselhos. Use calçados com a sola mais fina possível e dez minutos antes do início da largada esvazie a bexiga.
E não se assuste com a fortre elevação do batimento cardíaco prestes a largar, é totalmente normal
Como aprendi no filme “Caminhos sem volta”, de 1954 (eu com 12 anos), insuperável até hoje, não se deseja boa sorte a um piloto antes da largada, mas que “quebre o pescoço”.
Meu único irmão me desejou isso em todas as provas de que participei.
Nunca quebrei o pescoço!
Quebre o pescoço, Marco!
BS
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