No momento em que me sento ao computador para escrever minha coluna dominical estou ouvindo o desenrolar do Grande Prêmio de Mônaco. Isso mesmo, ouvindo, porque assisti à largada assisti até a 30ª volta de 78 e, com a corrida estabilizada, era hora de escrever.
Muitos criticam, e não é de hoje, essa corrida nas estreitas ruas do Principado, mas para mim ela tem um quê de especial. Não só pela inegável beleza e charme especial do lugar, pela tradição, mas também, e principalmente,, pela exibição de habilidade dos 20 pilotos no traçado de 3,340 quilômetros que inclui um túnel em curva — na verdade uma “curva reta” como a Tamburello de Imola.
Aliás, a curva Tamburello acabou com a construção de uma chicana depois do fatídico acidente de Ayrton Senna em 1/5/94 que nada teve a ver com a curva, uma “reta” na opinião de pilotos como o também tricampeão Nélson Piquet, pois podia ser feita, mesmo com piso molhado, de acelerador no fundo e sem precisar procurar a linha i9deakm a que resulta no maior raio possível.
Pilotar em Mônaco em alta velocidade para as condições — velocidade média do pole position Max Verstappen ontem foi de apenas 168.485 km/h — passando a centímetros das defensas metálicas requer habilidade especial, especialmente nos trechos rápidos onde a velocidade chaga a 290 km/h.
Condições parecidas ocorrem em Baku,, no Azervaijão, curvas ainda mais apertadas e estreitas e uma grande reta de 2,2 km onde os carros atingem 320 km/h ou pouco mais.,
Ouço muitas pessoas comentarem dificuldade de ultrapassagem em Mônaco e em alguns circuitos, esquecendo que corrida é muto mais do que isso, é um espetáculo de habilidade misturado com alta tecnologia e que, não raro, envolve questões pessoais ente pilotos e chefe de equipe.
Numa analogia com o futebol, não é por que uma partida terminou 0 x 0 que ela deixou de ser atraente e interessante.
Ajuda a compreender a Fórmula 1 em sua plenitude assistir à série do Netflix “Dirigir para viver” (original “Drive to survivw”, uma produção do canal de streaming que começou em 2018 e já está na quinta temporada, focando o campeonato do ano passado, bem recente e portanto ainda vivo na nossa memória.
Não é um documentário, tampouco encenação, com atores. Todos os personagens reais, mostrando o âmago das equipes, as famílias dos pilotos e dos chefes das equipes, testemunhos e depoimentos de jornalistas do setor, as tensões interpessoais, exatamente o mundo da Fórmula 1 como ele é.
Ajuda a quem acha que o chefe de equipe mandar pilotos trocarem de posição, como ocorreu no GP da Áustria de 2002, Barrichello tirar o pé do acelerador para Schumacher o ultrapassar e vencer, faz pare do jogo, algo perfeitamente natural
As tomadas de cenas são próprias, portando inéditas, sem relação com o que vemos na tevê. O realismo é total, verdadeiramente incrível.
O “Dirigir para viver”, de tão perfeito, fez aumentar exponencialmente o interesse dos americanos pela Fórmula 1, evidenciado pelo crescente público nos autódromos e circuitos, o que resultou em três das 24 etapas do campeonato deste ano serem no Estados Unidos (Miami, Austin e Las Vegas).
Termino após assistir à sempre maravilhosa e tocante cerimônia que antecede a largada da 500 Milhas de Indianápolis, regiamente transmitida pela TV Cultura, espetáculo que a TV Globo sempre nos negou.
Boa 500 Milhas daqui a alguns minutos e bom domingo.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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