Durante a Segunda Guerra Mundial, que durou de setembro de 1939 a agosto de 1945, as corridas de automóveis foram prejudicadas em todo o mundo, pelo trauma provocado pelo conflito e também pela indisponibilidade do transporte marítimo, o que provocou a escassez de petróleo.
No Brasil, por decreto do presidente da República, o gaúcho Getúlio Vargas, foi imposto em 1941 o necessário racionamento de gasolina, o que obrigou uma parcela de motoristas a converterem seus carros para funcionar com gasogênio (gás obtido por meio da queima de carvão ou de lenha).
Não existia a tecnologia atual, pela qual a Scania e a Iveco investem e se destacam com a preferência pelo GNV (gás natural veicular), enquanto outras empresas privilegiam a eletricidade.
Gasogênio é um equipamento que produz gás combustível para alimentar motores de combustão interna. Converte matérias-primas sólidas e líquidas em gás.com a geração de monóxido de carbono, nitrogênio, dióxido de carbono, hidrogênio e metano.
A gaseificação foi uma tecnologia importante e comum amplamente usada para gerar gás combustível de carvão, principalmente para a iluminação pública e residencial durante o século 19 e início do século 20. Quando os primeiros motores de combustão interna com base no ciclo Otto tornaram-se disponíveis na década de 1870, começaram a substituir as máquinas a vapor pelos motores primários em muitos trabalhos que requerem força motriz.
A adoção do gasogênio foi acelerada após a patente do motor Otto expirar em 1886. O potencial e aplicabilidade prática da gaseificação para motores de combustão interna foram bem compreendidos desde os primeiros dias de seu desenvolvimento.
Para ser utilizado, o gasogênio requeria um equipamento, instalado geralmente na traseira dos veículos (foto de abertura), que produzia o gás para o funcionamento do motor e garantir o deslocamento dos automóveis e também de caminhões, tratores e diferentes máquinas operatrizes. Era um grande equipamento que produzia o gás para o funcionamento do motor.
Naturalmente, não havia nenhuma preocupação com o meio ambiente e parte dos proprietários de veículos decidiu optar pela instalação do sistema para se locomover com seus veículos.
Foram poucos os proprietários que se arriscaram a usar o equipamento pela conscientização ecológica, mas a maioria não gostou do volumoso aparelho instalado na traseira do veículo, com peso total que chegava próximo a 100 kg e que, além de mau aspecto estético, alterava as reações dos automóveis pela inadequada distribuição de peso, o desagradável aspecto visual e a dificuldade de gerar o gás necessário para o funcionamento do motor.
Um morador próximo de onde minha família residia foi um dos que decidiram instalar o gasogênio em seu Ford 1936, único do bairro, e apesar de minha tenra idade de 7 anos, sentia satisfação em ajudá-lo, todas as manhãs, girando a ventoinha que mantinha o processo de queima do carvão para gerar o gás que alimentava o motor.
Por ser um processo demorado, depois de alguns dias o simpático vizinho acabou fazendo como a maioria dos proprietários de automóveis: recorreu a cavaletes de madeira para manter o carro suspenso, sem contato com o solo, para não estragar os pneus que perdiam pressão pelo longo período imobilizado. E esperar pelo fim da guerra fazendo uso dos bondes e dos ônibus que existiam para chegar ao local de seu trabalho.
A atividade que também fez uso do gasogênio foram as corridas de automóveis porque, rapidamente, os mecânicos especializados revelaram a sua competência ao adotar o novo equipamento pela inexistência de outros combustíveis até que a guerra e o racionamento terminassem.
Algumas grandes empresas nacionais interessaram-se pela produção do sistema de gasogênio que se transformou em uma oportunidade de negócio e além delas, outras de pequeno porte surgiram por todo o território nacional. E até o piloto Chico Landi criou uma empresa fabricante do gasogênio.
Os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul, pela tradição automobilística, destacaram-se na disputa de corridas com o equipamento e desde essa época foi criada uma esportiva rivalidade entre o gaúcho Catharino Andreatta e o paulista Chico Landi, que foram os mais vitoriosos em suas regiões.
A primeira corrida de automóveis equipados com gasogênio foi realizada no Rio Grande do Sul, com vitória de Norberto Jung, da família proprietária da revenda Ribeiro Jung, representante da Ford. Essa corrida inaugural foi disputada no dia 18 de julho de 1943, há 81 anos.
A Ford, com a instalação da pioneira fábrica de veículos no Brasil em 1921, iniciou a venda do gasogênio em 1940 com garantia de assistência técnica em todo o País por intermédio de sua ampla rede de revendedores.
A General Motors também realçava a sua rede de revendas e concessionárias presentes em todos os estados brasileiros. Além da Ford e da General Motors, o gasogênio também foi produzido por outras empresas, como a Tecnogeral, fabricante de armários de aço, que procurou atrair os clientes realçando a beleza do equipamento e a novidade do alcance de 100 quilômetros.
O equipamento produzido no Brasil foi regulamentado pela Comissão Nacional do Gasogênio, por ter apresentado avanços técnicos importantes como manômetro no painel e filtro de segurança, e há registros de que os aparelhos produzidos no Brasil eram mais evoluídos tecnologicamente que produtos importados.
Apesar da rivalidade esportiva que existiu entre o gaúcho Catharino Andreatta e o paulista Chico Landi eles foram os maiores vencedores de corridas com carros equipados com motores alimentados por gasogênio. Mas o paulista conquistou o apelido de “Rei do Gasogênio”, pelas vitorias nos campeonatos de 1943, 1944 e 1945.
LCS
A “Coluna Luiz Carlos Secco” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.