Quando o Parlamento Europeu decidiu em 2020 proibir a venda de carros novos com motor a combustão na região a partir de 2035, muitos, como eu, anteviram problemas sérios para a indústria automobilística e a cadeia de suprimento. Esse problema se chama disrupção e as consequências só poderiam ser funestas, como já estão sendo.
Passados pouco mais de três anos os efeitos da disrupção já são do conhecimento geral. Desemprego significativo, fechamento de fábricas de automóveis, a indústria sem certeza de que rumo tomar e gastos de bilhões de euros para a forma de propulsão dos automóveis passar da combustão para a eletricidade, sem contar o que está sendo investido na construção de novas fábricas de baterias.
A disrupção sempre me pareceu um plano de “progressistas” para causar um caos socioeconômico e mostrar que o capitalismo fracassou. Tudo escorado no “combate” um inimigo chamado dióxido de carbono (CO2) e seu aliado metano (CH4), tidos como causadores do efeito estufa que esta levando ao aquecimento da Terra, responsável pelas mudanças climáticas classificadas com “catastróficas”.
A ciência afirma, em consenso, que gases de efeito estufa criam uma capa térmica na atmosfera que impede a dissipação, no espaço, do calor produzido pelo sol e pela atividade humana, explicando o porquê do aquecimento do planeta. Mas nunca vi, apesar de procurar bastante, como gases incolores como esses podem barrar dissipação de calor se ela ocorre até nos elementos sólidos.
Mas admitamos toda essa mecânica como verdadeira, que a propulsão elétrica á única solução para salvar o planeta (e a civilização): o xis de questão são as consequências dessa disrupção artificial.
A frota mundial de carros de passageiros e veículos pesados é de 1,47 bilhão e tem crescido à razão de 90 milhões por ano. Desse 1,47 bilhão16 milhões são carros elétricos e híbridos (1,1%). Portanto, a menos que a partir de 2035 nenhum carro a combustão rode mais, o efeito estufa continuará a se intensificar.
Isso independentemente das variações da temperatura terrestre causadas pelos fenômenos cíclicos El Niño e La Niña, erupções vulcânicas, grandes incêndios florestais e a vultosa e mundial queima de fogos de artifício nas comemorações de passagem de ano e numa variedade de eventos e festejos.
Também, da queima de carvão e gás natural nas usinas termelétricas e do processo de extração de lítio e cobalto para as baterias dos carros elétricos.
Salta à vista a relação custo-benefício totalmente desequilibrada — alto custo, nenhum benefício — resultante da imposição da propulsão elétrica pelo Parlamento Europeu daqui a dez anos.
E o carro elétrico?
Considero-o uma alternativa perfeitamente cabível desde que não se queira fazer dele um supercarro em desempenho e a necessidade de potentes motores e gigantescas e pesadas (e caras) baterias, que pode se valer da energia elétrica gerada por placas fotovoltaicas no próprio imóvel, mediante razoável investimento contra custo zero da energia para rodar e ainda lucrar com a venda de energia gerada e não utilizada para a rede de distribuição.
Tem suas vantagens no uso, especialmente urbano, é indiscutivelmente agradável de dirigir, diminui a necessidade de uso dos freios com o efeito frenante da regeneração de energia ao levantar o pé do “reostato” ou frear com o pé direito. Seus únicos problemas reais são o pequeno alcance combinado com a necessidade de fazer “plano de voo” nos percursos extraurbanos, contando com carregadores no caminho e, por enquanto, preço.
O carro elétrico não precisa ser impositivo. O mercado sempre soube e sempre saberá escolher.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.