No início da década de 1990 eu estava na Alemanha fazendo o meu segundo estágio naquele país. Depois de minha participação em junho de 1991 no 4º Encontro Internacional de VW Veteranos de Bad Camberg quando lancei a ideia do Dia Mundial do VW Fusca, eu fiquei amigo do saudoso Heinz-Willi Lottermann, que lançou estes encontros.
Depois do evento o Heinz-Willi me enviou um presente: o calendário VW europeu artístico de 1962, que eu decidi mostrar para vocês nesta matéria.
Na época o Heinz-Willi tinha uma concessionária V.A.G.- Volkswagen-Audi-Gemeinschaft (Associação Volkswagen-Audi) na cidade de Bad Camberg chamada Autohaus Lottermann KG. E eu morava na cidade de Erlangen. Como as fotos de detalhes do envelope mostram:
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A foto de abertura, que é a capa do calendário, já dá uma prévia dele e mostra um casal e seu VW Fusca tendo como pano de fundo a pintura “O Reno perto de Oberwesel” (Alemanha), de Johann Heinrich Schilbach (1798-1851). Aplicada ao calendário com a permissão de Franz Hanfstaengl, Munique, editor de arte.
Cada mês ocupa duas páginas do calendário. Na superior há uma fotocomposição, como a da capa, e na inferior aparece um mapa ressaltando a área para a qual a fotocomposição é dedicada, bem como o calendário daquele mês propriamente dito.
Janeiro
A pintura é de Veneza “A Bacia de San Marco” (Itália) por Canaletto (1697-1768). Com permissão de F. Bruckmann. Munique, editores:
O texto (em três idiomas) da ilustração da página de baixo diz:
Itália — Ninguém capturou melhor a beleza de Veneza e suas lagoas do que Antonio Canale, chamado Canaletto (1607 a 1768). Sua visão de Veneza é tão atemporal que o jovem casal com seu carro, personificando o presente, não dá uma nota falsa. A imagem de Canaletto mostra a vista da ilha S. Giorgio Maggiore através do Canale di S. Marco até o Molo, o porto. Canaletto usou um instrumento óptico feito por ele mesmo, a câmera óptica, ao pintar, o que lhe permitiu capturar paisagens da mesma forma que a câmera moderna (que em 1962 ainda era analógica).
Fevereiro
A pintura é “Manhã de estepe africana” (detalhe) por Werner Peiner.
Com permissão do editor de arte Franz Hanfstaengl, Munique:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
África — Não importa onde você entre nessa parte do mundo: ela é vasta e grandiosa! E sempre parece que tem seu próprio grande céu. Até mesmo o céu noturno tem seu próprio brilho e cintilação, as estrelas têm cores diferentes. A névoa das nuvens evoca imagens tão fantásticas quanto a miragem do deserto na enorme curvatura do céu. Aqui, na pintura de Werner Peiner, ela tem o azul da manhã, no qual as montanhas se erguem quase tão azuis. A pintura de Peiner mostra uma paisagem típica de estepe do leste da África e captura o momento que nenhum europeu que já tenha vivido essa experiência esquece: o momento em que uma manada de girafas deixa o abrigo da floresta de acácias e entra na estepe.
Março
A pintura é “Gansos selvagens migrando para casa” (Norte da Europa) por Karl Ewald Olszewski. Com permissão do editor F. Bruckmann, Munique:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
Países Nórdicos — Duas vezes por ano, em março e julho, você pode se maravilhar com esse espetáculo no norte da Escandinávia: o voo dos gansos selvagens. Em uma das vezes, eles voam para o sul, alguns deles até a Índia, e na segunda vez voltam para casa, no Norte. Desde tempos imemoriais, os amantes acreditam que podem ler certas palavras na imagem dos gansos voando: “Eu te amo quando cuido de você; “Você não me ama porque está indo embora”. Os poetas da Escandinávia dedicaram os mais belos poemas ao ganso selvagem. Ninguém estudou e capturou seu voo mais profundamente do que o pintor deste quadro de março: Karl Ewald Olszewski.
Abril
A pintura é “Piz Bernina” (Suíça), de Gottardo Segantini. Com a permissão da Kunstverlag Gebrüder Stehli, Zurique:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
Suíça — Piz Bernina! É um dos mais belos picos dos Alpes Réticos: um poderoso maciço de granito primordial em um campo de mais de trinta geleiras. Em Maloja, onde o pintor desse quadro, Gottardo Segantini, vive até hoje, ele o tem constantemente diante de seus olhos. A antiga estrada postal de Maloja a Chiavenna, agora ampliada e transformada em uma excelente autoestrada, é a rota ideal para uma viagem tranquila para o sul na época do degelo – agora em abril – quando prímulas, sinos e açafrões começam a tomar posse das encostas descongeladas do Engadin para os climas amenos do Lago de Como, que nessa época do ano já estão cheios do aroma de mimosa.
Maio
A pintura é “Primavera em Eskdale” (Inglaterra) por James Mcintosh Patrick A. R.S. A. Reprodução baseada na impressão A. B. C. com permissão do editor de arte Franz Hanfstaengl, Munique:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
Ilhas Britânicas – “Primavera em Eskdale” é como o pintor escocês James McIntosh Patrick, de Dundee, chama a imagem que forma o fundo do VW Karmann Ghia branco na página do calendário. O Vale Esk é um dos vales mais bonitos do Lake District, no norte da Inglaterra. Sua primavera tornou-se parte integrante da literatura inglesa através da poesia dos poetas de Lake Wordsworth, Coleridge e Southey. As “outras estradas”, com excelente manutenção, dão aos motoristas a oportunidade de conhecer a paisagem selvagem e romântica, que se assemelha a uma reserva natural, por caminhos tranquilos e sonhadores.
Junho
A pintura é detalhe de “Aldeia de montanha no Peru” (América do Sul) por Frederick Ashley Hannon. Com a permissão da Educational Posters, Nova York:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
América do Sul — Este quadro do pintor americano F. A. Hannon mostra toda a magia de um vilarejo peruano. Embora uma VW Kombi Pick-Up não seja mais uma sensação por aqui, a lhama ainda é um importante meio de transporte. Dezembro marca o início do verão no Peru, e julho é o mês mais frio do ano. Qualquer pessoa familiarizada com a culinária peruana não ficará surpresa ao saber que o “comedor de pimenta” vive aqui ao lado dos mais belos beija-flores e papagaios. Há pouquíssimos pratos sem o ingrediente saboroso da pimenta vermelha espanhola. Se fizer uma parada em uma taberna do vilarejo, não se esqueça de experimentar a “chicha morada”: um vinho feito de milho azul-violeta, uma especialidade do país.
Julho
A pintura é “Ponte de Arles” (França), de Vincent van Gogh (1853-1890). Com a permissão da Kunstverlag Franz Hanfstaengl, Munique:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
França — O retratista imortal da beleza da Provence é o pintor Vincent van Gogh, que também pintou este quadro: “A Ponte de Arles”. As cartas que ele escreveu de Arles são tão coloridas e luminosas quanto suas pinturas do período de Arles (1888/89). “Todos os verdadeiros coloristas deveriam vir aqui, ele escreve para seu irmão Theo. Os jardins são rosa e brancos. Os campos são amarelos. O mar é azul – um azul que não oscila. Outra coisa muito calma e bonita: uma jovem com pele como café com leite, cabelos cor de cinza, olhos cinzentos, um corpete de musselina azul-petróleo. Isso contra o verde-esmeralda de uma figueira!”
Agosto
A pintura é “Monte Eisenhower nas Montanhas Rochosas Canadenses” (Canadá) por A. C. Leighton R. A. C. Com permissão do Governo Canadense, Departamento de Assuntos do Norte e Recursos Nacionais, Ottawa:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
Canadá — As Montanhas Rochosas Canadenses são a parte canadense da enorme cordilheira arcaica que atravessa os Estados Unidos como as Montanhas Rochosas. A orgulhosa cordilheira da pintura de A. C. Leighton é um dos picos mais característicos das Montanhas Rochosas canadenses: o Monte Eisenhower (3.130 metros). Duas das mais belas reservas naturais estão a seus pés: o Parque Nacional Banff e o Parque Nacional Kootenay, que parecem uma coleção das maiores maravilhas que a natureza produziu. Lagos onde flutuam icebergs, nascentes ferventes de onde nascem fontes como as do parque de Versalhes; Florestas virgens no verdadeiro sentido da palavra, onde ainda vivem ursos, pumas e coiotes.
Setembro
A pintura é “No Lago Biwa” (Japão) por Ando Hiroshige (1797-1858):
O texto da ilustração da página de baixo diz:
Ásia — “Veleiros em Yabase” – esta é uma das oito mais belas vistas pintadas pelo pintor japonês Hiroshige (1797-1858) do Lago Biwa, um dos lagos mais famosos perto da antiga cidade imperial de Kyoto. A inscrição no canto superior direito diz: “No início da manhã – a garota canta enquanto os barcos de pesca de Yabase navegam no lago. Um após o outro. Eu vejo seu barco. Depois do seu vem outro…” Na história de Max Dauthendey sobre as “oito faces do Lago Biwa”, a garota Hanake lê as palavras nas dobras das velas: “Eu o saúdo. Eu amo você. Eu mato você”. Sobre a canção do Lago Biwa que ela canta, está escrito: “Quem quer que a escreva, só pode escrevê-la em seda branca”.
Outubro
A pintura é “Catarata do Niagara” (EUA), de Robert R. Whale (1805-1887):
O texto da ilustração da página de baixo diz:
USA — Entre as maravilhas da América, as Cataratas do Niágara são uma das maiores e mais belas. Trinta quilômetros ao norte de Buffalo, o Niágara oferece um espetáculo gigantesco e um drama sonoro, mergulhando verticalmente em duas enormes cataratas a uma profundidade de quase 50 metros com um rugido que ainda pode ser ouvido a 60 quilômetros de distância. A bela e atemporal pintura de Robert R. Whale (1805-1887) também mostra uma maravilha técnica da jovem América por trás da nuvem de respingos da cachoeira: a ponte suspensa construída por Röbling para a New York Central Railway em 1855. A pequena cidade de Niagara Falls é um local de peregrinação para três milhões de turistas todos os anos, metade dos quais são casais em lua-de-mel. Dizem que, depois de ver as Cataratas do Niágara, nada pode surpreendê-lo ou assustá-lo!
Novembro
A pintura é “Western McDonnel Ranges” (Austrália) por Albert Namatjira (1902-1959). Com a permissão da The Legend Press, Artarmon N.S.W. Austrália:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
Austrália — A Cordilheira Macdonnel é uma cadeia de montanhas de 1.500 metros de altura no coração morto da Austrália. O pintor do quadro é um “verdadeiro australiano”: Namatjira, um bosquímano da tribo Aranda, que nasceu no mato e já teve fama especial como caçador e era particularmente habilidoso com o “woomera” (o bumerangue). A cordilheira Macdonnel está situada em uma estepe espessa, cujo principal arbusto é o espinhoso arbusto mulga: uma acácia pouco exigente. A grama spinifex é tão dura que o pássaro só pode comer as sementes. A árvore mais australiana é o eucalipto, que ocorre em 500 espécies diferentes.
Dezembro
A pintura é “Paisagem de inverno com patinadores” (Holanda), de Pieter Brueghel, o Velho (1529-1569). Com a permissão dos editores de arte Anton Schroll & Co, Viena:
O texto da ilustração da página de baixo diz:
Benelux – O inverno é uma imagem bela de maneira atemporal, não apenas da estação branca, mas também da pacífica e alegre paisagem de Brabante. O pintor da pintura, que já tem 400 anos, é Pieter Brueghel, o Velho (1529 a 1569), que se autodenomina em homenagem à aldeia onde nasceu: o pequeno Brueghel, perto de Breda. Ele foi um retratador incansável das alegrias da vida, nesta foto: as alegrias da patinação no gelo. A patinação no gelo e, se você olhar mais de perto, uma espécie de jogo de hóquei no gelo que já estava no auge na Holanda naquela época, enquanto a patinação no gelo ainda era quase desconhecida nos outros países da Europa.
Assim termina a reprodução deste lindo calendário que usou de maneira inteligente quadros cuja perspectiva permitiu as fotocomposições que o compõem. Normalmente calendários são descartados passado o ano de sua vigência, mas em casos como este eles viram objetos de coleção.
Uma curiosidade do passado
Quando eu estava pesquisando meu acervo com vistas à matéria desta semana, encontrei uma carta do Heinz-Willi Lotterman ele respondia a uma carta que eu havia enviado a ele com fotos do evento em Bad Camberg de junho de 1991 e ele me enviou uma reportagem da imprensa de Bad Camberg sobre o evento.
O papel da carta dele tinha uma reprodução de 6 das raridades que compunham a sua grande coleção de veículos Volkswagen veteranos, a saber: Kübelwagen, Cabriolé, Fusca veterano, Fusca de 4 portas (táxi de Berlim), Hebmüller e Schwimmwagen. E isto era só uma amostra do acervo dele. Abaixo das fotos destes carros estava o nome dele e abaixo dele a frase “Freund alter Volkswagen” que quer dizer “Amigo de Volkswagens antigos”.
Segue a reprodução da carta dele de 19 de julho de 1991:
Na carta ele se refere à minha fala durante o jantar de congraçamento do evento que foi o “Käfer Abend” — “Noite do VW Fusca” quando eu lancei a ideia do Dia Mundial do VW Fusca. Eu sublinhei a frase em questão em vermelho e a sua tradução é: “Obrigado novamente por seu discurso no Käfer Abend, ele foi muito bem recebido”. Foi muito bom receber este feedback.
AG
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