O AUTOentusiastas convidou e recebe com prazer Milad kalume Neto, engenheiro mecânico formado pela Escola de Engenharia Mauá, advogado pela PUC/SP e pós-graduado em Administração pela FGV-SP. Entre 2001 e maio de 2024 trabalhou na JATO, consultoria especializada no mercado automobilístico com atuação direta em todo o seu ecossistema com destaque para fabricantes, importadoras, empresas de leasing, frotas e autopeças trazendo soluções inovadoras para o mercado brasileiro com ênfase para especificações, diferentes tipos de preços, incentivos, custo total de operação e volumes de vendas.
Milad assinará a coluna “Visão estratégica” sobre assuntos da sua especialidade, toda quarta-feira às 10h00.
Bem-vindo ao AE, Milad!
Paulo Manzano – editor-geral Bob Sharp – editor-chefe
O que muda no ambiente automobilístico brasileiro com Trump de volta?
Em minha primeira coluna para o AUTOentusiastas (AE) para falar de estratégia, fui honrado com uma oportunidade única abordando um tema relevante para nós, brasileiros.
Obrigado Paulo Manzano, Bob Sharp e a todos que participam e interagem com o AE. Para mim uma honra imensurável e uma oportunidade de grande aprendizado.
De forma polêmica e para pensar, começo afirmando que Trump II será similar ao Trump I. No primeiro governo existiu uma drástica diminuição da regulamentação ambiental culminando, inclusive, com a saída dos EUA do Acordo de Paris. Desrespeito ao processo de descarbonização favorecendo, nas entrelinhas, a exploração de petróleo e gás. Foi um governo nitidamente contrário à transição energética com investimentos proporcionalmente pequenos em energias alternativas (eólica e solar).
Então, para deixar claro, o segundo governo será o mesmo? Sim e com algumas implicações adicionais… Existe uma forte discussão de que Trump irá restringir exportações de automóveis provenientes do México.
Caso essas restrições de mercado americano ao México se concretizarem, o México passará a ter um grande problema pois não conseguirá fluir sua produção na sua completude. É neste momento que o Brasil poderá se beneficiar. Bons produtos hoje produzidos no México não chegam aqui pois a produção é destinada fundamentalmente a outros mercados como especialmente os Estados Unidos. Como estes veículos ficariam “sobrando” em solo mexicano, poderiam ser exportados para o Brasil.
Outra questão, e é aqui que desejo explorar, fabricantes chinesas como BYD e Dongfeng anunciaram planos de produção no México. Mas para que, ou melhor, para quem produzir se o mercado de mais de 16 milhões de veículos estará fechado?
Claramente EUA e Europa praticam uma política protecionista em relação as suas indústrias automobilísticas e são contrários aos veículos chineses. Estes fatores, todos somados, poderão fazer, a partir de agora, que essas empresas tenham um outro foco.
O Brasil está entre as 10 maiores potências de vendas de automóveis no mundo há mais de 10 anos. Ano passado fechou na 7ª posição, brigando de perto com Grã-Bretanha (6º) e França (8º) — 5ª e 9ª posições já estão mais distantes…
O MOVER, a Nova Política Industrial Brasileira e o novo Regime Tributário tendem a melhorar a competitividade do Brasil em relação a produto e custo até o início da próxima década. Então, neste contexto, por que não fazer do Brasil um hub de produção de veículos eletrificados para o mercado local e de exportação. Teremos incentivos, teremos estabilidade jurídica (esperamos), teremos investimentos, teremos uma infraestrutura muito mais adequada, entre tantos outros.
A capacidade produtiva total do Brasil gira em torno das 5 milhões de unidades. Nos últimos quatro anos o Brasil vende entre 2 e 2,3 milhões de unidades vendidas mais um pouco de exportação (entre 320 a 480 mil unidades) e 2024 tende a encerrar com números próximos a 2,6 milhões de vendas e outros 400 mil de exportações. Números entre 3 e 3,5 milhões de unidades são saudáveis para o Brasil e o excedente deve ser destinado à exportação.
Com as tarifas alfandegárias ainda mais altas para os veículos chineses nos EUA e as restrições na Europa, o Brasil poderá se fortalecer na produção de veículos elétricos sendo um polo de exportação. O México é, sem dúvida, o país preferencial mas eventual restrição de exportação ao mercado americano pode ser um elemento importante na decisão de produzir em outro local… e assim o Brasil se firmaria com grande potencial.
É aguardar o desenrolar da história…
MKN
A coluna “Visão estratégica” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.