Esta semana a Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores) divulgou o balanço de 2024. Foram 15.777.594 unidades comercializadas e para quem não acompanha este mercado, um recorde.
Segundo Enilson Sales, presidente da instituição, “o crescimento e fortalecimento do setor foi apoiado pelo empenho da Fenauto em várias frentes de trabalho (…) participamos ativamente em debates sobre o crescimento do crédito, interagimos decididamente junto ao universo on-line, marcamos presença nos principais fóruns do ambiente automobilístico e nos posicionamos fortemente em assuntos nacionais como a Reforma Tributária, o Renave e o Marco Legal de Garantias. Por isso, nos sentimos orgulhosos por temos contribuído intensamente para promover este crescimento registrado em 2024.”
Em um ambiente mais restrito, Enilson comemorou: “Este número expressivo é o retrato de um trabalho mais profissional dos empresários do setor, da disponibilização de crédito e da maior confiança do consumidor.” Parabéns, Fenauto!
Interessante observar como ocorreu a distribuição destas vendas:
– seminovos entre 0 e 3 anos: 2.541.872 unidades;
– 4 a 8 anos: 3.982.867 unidades;
– 9 a 12 anos: 3.531.095 unidades;
– 13 anos ou + de idade: 5.721.760 de unidades.
Também relevante entender os motivos que levaram ao recorde…
Fiz uma entrevista para a TV Cultura ontem e expus os seguintes fatores para este recorde: preço, juros e liberação de crédito restringindo o mercado de novos e uma análise mais apurada sobre o veículo usado passando pela depreciação e manutenção. Nem toda a matéria foi disponibilizada, mas o recorte da matéria pode ser acessado aqui.
O principal ponto é sem dúvida o elevado preço dos automóveis de passeio 0-km para o padrão brasileiro. Apenas como referência, o tíquete médio em 2017 era pouco superior a R$ 72.000 e terminou 2024 na casa dos R$ 150.000, mais do que dobrou considerando que a inflação no período ficou abaixo dos 50% (IPCA). Em 2024 chegamos na casa dos 14 mil dólares para os veículos novos de entrada e agora com o dólar em alta, este valor retornou para a casa dos 12 mil dólares… alto ainda para o padrão brasileiro mas aceitável sob o ponto de vista do que os produtos atualmente oferecem.
Outro fator predominante diz respeito aos elevados juros no Brasil que tiveram uma queda no último ano, mas para conter o consumo, e a por consequência a inflação, tiveram um novo ciclo de alta nos últimos meses sem qualquer perspectiva de baixa (provavelmente apenas em 2026). Atualmente a taxa básica de juros (Selic) está em 12,25% com viés de alta. Ruim para o brasileiro em geral, entretanto boa notícia para o mercado de usados que por terem preços de veículos menores, demandam um valor de financiamento igualmente menor facilitando o processo de crédito e compra.
Outro ponto considerado é o veículo usado possuir menor depreciação em relação ao veículo novo e o consumidor mais consciente que não pretende perder tanto dinheiro parte para o veículo usado (em geral o seminovo). Aqui apenas o dever de observar a questão da manutenção para que o barato não saia caro. A recomendação é comprar carro com procedência e mínimas garantias além das legais e de preferência com algum especialista apoiando o processo de compra.
Entre as opções, os seminovos em geral apresentam menor desgaste e ainda estão em período de garantia possibilitando ao consumidor escolher um veículo mais equipado com preços semelhantes aos dos veículos novos garantindo uma relação custo-benefício superior.
Com a pandemia iniciou-se uma busca por transporte individual em detrimento ao coletivo por motivos de distanciamento social. A demanda por veículos usados de menor valor subiu com a população sem emprego buscando novas opções de renda. Não somente carros e comerciais leves mas as motos tiveram grandes vendas naquela época.
Empreendedores que necessitaram atuar no mercado de transporte por aplicativo, setor de entregas e outros serviços que utilizam veículos também buscaram opções menos onerosas dentro do mercado de veículos usados. Este processo continua até hoje!
Além disto, a velha e tradicional percepção do brasileiro pela posse do veículo automotor como símbolo de status e ascensão social… para galgar a evolução social, compra uma moto usada, evolui para um veículo usado dos mais antigos e vai permanecendo nos usados até ter condições de compra de um veículo novo. Esta percepção está se alterando nas classes A e B que buscam outras alternativas, mas ainda está muito enraizada nas classes com menos informações econômico-financeiras.
Para finalizar, perspectivas para 2025! Existe uma correlação que indica a razão entre os dados de usados divulgados pela Fenabrave e de novos divulgados pela Anfavea. Esta razão varia conforme a situação do mercado; se o mercado de novos tem bom desempenho, o de usados ‘piora’ e vice-versa. Não necessariamente em números absolutos mas a razão em si é impactada.
Para este ano é esperado um aumento das vendas de veículos novos ao mesmo tempo em que observaremos o aumento das taxas de juros que tendem a impactar positivamente o mercado de usados… Assim, a expectativa é que o mercado de usados possa atingir a casa das 17 milhões de unidades não ocorrendo qualquer contratempo! Seria um novo recorde…
É aguardar para ver o desenrolar do mercado nos próximos meses!
MKN
A coluna “Visão estratégica” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.