Ontem publicamos esta foto, para horror de quantos têm um mínimo de discernimento e conhecimento das questões de trânsito, e pergunto: por que tem que ser assim? Por que, como cidadãos, não podemos ter o assunto trânsito tratado com competência e seriedade? O que será que está nos faltando?
Essa medida tomada pela Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Transportes, por sua vez controladora da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), fere o mais elementar princípio de segurança viária, e no entanto, está aí, alardeada por toda a imprensa e, pasme, teve gente que gostou da esdrúxula idéia.
Alguém já viu postes de iluminação pública separando pistas ou faixas de rolamento? Eu nunca vi, aqui no nosso país ou em outros que tenho visitado. Árvores são como postes nessa aplicação, se um carro bate numa, é um acidente sério. Por isso é que se usam defensas metálicas (guard-rails) para essa finalidade, para manter o carro na pista sem que isso implique em colisão frontal.
É como se estivéssemos num estado de demência coletiva, que não sabemos como resolver as mais elementares questões do dia a dia.
O dirigir hoje no Brasil, todos ou a maioria sabe, virou uma atividade de alto risco, seja por acidentes de toda ordem, seja por uma implacável perseguição aos motoristas — leia-se população — por meio de medidas absolutamente imorais, caso da famosa armadilha no acesso à Ponte das Bandeiras, em São Paulo, já bastante comentada e discutida aqui.
Temos um rodízio pelo final da placa absolutamente ilegal e ele está aí há 18 anos, sem que o Ministério Público Estadual dê a menor atenção a esse abuso da Prefeitura. Imagine o leitor, tirar (teoricamente) de circulação 20% da frota quando ela era de pouco mais de 3 milhões de veículos e manter o mesmo porcentual quando hoje são perto de 5,5 milhões, coisa de 80% mais. Está mais do que evidente que a medida é inócua há muito tempo — menos para os cofres da Prefeitura, dado o que se multa “por trafegar em via e horário não permitido – Operação Horário de Pico”.
A sem-vergonhice do rodízio é tamanha que a proibição acima não é sinalizada, como deveria obrigatoriamente ser, daí resultando que quem é de fora e não conhece a medida — não tem obrigação de saber — e vem a São Paulo, nem que seja de passagem, é multado sem dó, e ainda tem pontos anotados no prontuário da CNH. É a mais completa insanidade ou então roubalheira no sentido estrito.
Engenharia de tráfego no país é apenas um nome, pois ela, de fato, não existe. O controle dos semáforos com emprego da toda a tecnologia de informação do nosso tempo simplesmente é desprezada. Tal tecnologia só existe para captar imagens que são mostradas nos “centros de controle” — para multar, claro.
Outro dia assisti pela tevê como as autoridades de trânsito de Londres fazem para assegurar a fluidez do tráfego. Quando detectam que uma rua está acumulando carros demais, interferem nos tempos dos semáforos do entorno para atenuar o congestionamento. Veja o leitor o sentimento de dever, a preocupação com o cidadão, dos ingleses. Acontecer o mesmo aqui, nem em sonho. Especialmente quando à menor chuvinha semáforos ficam inoperantes — mas não os detectores de velocidade, vulgo “pardais”.
E o que dizer da “Grande Amsterdã” que o incompetente e inconseqüente (“nós pega o peixe”) prefeito Fernando Haddad que fazer de São Paulo? Quatrocentos quilômetros de pistas para bicicletas! Ruas e mais ruas em que não pode mais parar o carro na porta de casa nem mesmo para um simples embarque/desembarque devido a faixas para bicicletas parcamente utilizadas!
E o que dizer de duas faixas para bicicletas, uma em cada lado da rua?
O pior é que este “vírus” está se espalhando endemicamente pelo país inteiro, nas capitais e cidades grandes e médias. O que será que se passa na cabeça desses prefeitos?
Das lombadas, creio ser desnecessário martelar o assunto. Somos a “Pátria da Lombada”, parafraseando o burro mote da presidente da República, certamente criação de um marqueteiro mais burro ainda. Pátria não educa, quem educa é o país, são as instituições de ensino.
Enquanto isso, o automóvel vai sendo cada vez mais demonizado, e isso seguramente é uma das componentes da queda de vendas que vem se registrando no s últimos meses, mostrou o último relatório da Anfavea. “É, acho que não vou comprar carro não”, muitos devem pensar.
Como estamos num regime capitalista, menos vendas, menos produção, menos empregos. É isso o que queremos? Claro que não. Mas tem gente que parece querer. Soa a orquestração.
Quanto à pergunta-título, será que aquilo que costumo dizer, brincando, que somos um país amaldiçoado, é fato? Estou cada vez mais certo disso.
BS