O mês de agosto passou e deixou algumas notícias positivas importantes. Logo no seu início surgiram rumores de que o Banco Central sinalizava que a taxa Selic seria mantida no patamar de 14,25% a.a. até o final do ano. Se confirmado, novos financiamentos de automóveis não devem ficar mais caros nem mais restritivos, uma vez a que inadimplência também vem se mantendo estável.
Por outro lado, o fator confiança seguiu igualmente comprometido, isto é, o brasileiro não viu sinais que a crise política e institucional se desfaça no curto ou médio prazos. Alguns fabricantes ajustaram os preços dos automóveis ligeiramente para cima, pressionados pela elevação de custos, principalmente no impacto do dólar sobre seus componentes importados.
Nesses cenários as vendas mantiveram-se praticamente no mesmo ritmo que em julho. Os emplacamentos diários de automóveis e comerciais leves ficaram em 9.516 (em julho foi 9.539/dia).
Segue o risco de que a perdurar longamente a crise política, outros setores de atividade econômica se contaminem ou sofram reveses negativos, trazendo as vendas a patamares ainda mais baixos. Torçamos para que não, pois já existem alguns compromissos firmados entre sindicatos e fabricantes para manutenção do nível de emprego. O PPE (Plano de Proteção ao Emprego) lançado pelo governo federal e também a sinalização de que as empresas que permanecerem nesse programa teriam acesso a taxas de juros subsidiadas, é uma situação somente possível de se sustentar numa crise passageira.
O empresariado encontra-se dividido. Enquanto a Anfavea, na coletiva da última sexta-feira (4/9) mostrou que segue apostando numa recuperação a partir do segundo semestre de 2016, no Sindipeças as vozes são outras: no ano que vem é bem possível as vendas comecem a se recuperar, mas o volume de negócios que vimos em 2013, isto é, um total de 3,6 milhões de veículos por ano, deve voltar somente em 2020. Ainda bem o consumidor não os consulta antes de se decidir se vai comprar um carro 0-km…
O ranking de vendas também segue mudando. O Chevrolet Onix ocupou a liderança de emplacamentos do mês com 10.998 unidades, Palio em segundo posto (9.259) seguidos bem de perto pelo Hyundai HB20 (9.168). Nos sedãzinhos compactos a GM também faz das suas, Prisma com 4.788 unidades vendidas encostou nos Sienas (sim, eles também são dois modelos diferentes), com 4.990 veículos. Mais que isso, para preocupar as Três Grandes a participação no bolo total de automóveis e comerciais leves seguiu em 45,69%. Desde o início do ano os demais lhes tomaram quase 5%, asiáticos principalmente.
Outro fator que mereceu destaque na tabela da Fenabrave foi a divisão de vendas por regiões do país, a região Sudeste voltando a ultrapassar os 50% do bolo, 52,2% em agosto, tomando espaço das regiões Nordeste e Sul, seguindo a tendência de reversão observada no início do ano (vide gráfico).
Contramão positiva
Temos citado há alguns meses a febre dos crossovers, a vinda do Honda HR-V e Jeep Renegade mudaram a ordem do segmento e o seguem liderando. Este mês emplacaram respectivamente 5.435 e 4.598 unidades, seguidos do Duster (3.005) e EcoSport (2.965). Não estão sozinhos, pois a despeito de o segmento de luxo não figurar modelos no mercado de grande volume de vendas, o trio de marcas alemãs vendeu junto mais 34% este ano, comparado com mesmo período do ano passado — seus clientes parecem desconhecer a crise. De janeiro a agosto Audi emplacou 11.006 de seus modelos (alta de 40%), Mercedes-Benz 10.817 (+68%) e BMW 9.864 (+5,4%), cada uma com estratégias de produto distintas, mas todas deram esse salto depois de centrar foco em novos consumidores que buscavam modelos de luxo de pouco mais de cem mil reais e mais ainda os crossovers. Mercedes com a alta mais expressiva das três graças à renovação do sedã Classe C, que dobrou suas vendas nos primeiros oito meses, e de seu crossover GLA, que sequer existia um ano atrás. A Audi, que já vinha forte com o A3 sedã também (+ 154%), deve subir ainda mais no ranking depois do lançamento do Q3 1,4 TFSI; BMW trabalhando fortemente na nacionalização de seus carros-chefe Série 3 e na nova geração do X1, prestes a sair da sua fábrica de Araquari (SC).
As férias coletivas dos fabricantes não devem cessar até o final do ano, talvez diminua a freqüência das paralisações, uma semana ou dez dias a cada dois meses.
Se todos achavam tínhamos chegado ao fundo do poço, nas palavras do presidente da Anfavea, Luiz Moan Yabiku Jr,, acabamos descobrindo um porão nele. Tomara não se encontro outro ainda mais abaixo.
Até mês que vem.
MAS