Calibrar com nitrogênio até que valeria a pena para pobres mortais ao volante, mas a relação custo-benefício deixa a desejar
Tem posto correto, honesto e com frentistas atenciosos e gentis. Mas tem também uma minoria com uma equipe de funcionários maltreinados, malvestidos e até instruídos pelo patrão para praticar a empurroterapia. As mais usuais:
Aditivos – Pura malandragem: oferecem “poções mágicas” para o óleo do motor que reduzem o atrito, restauram peças metálicas desgastadas e permitem que o carro rode dezenas de quilômetros sem óleo nenhum. Ou aumentam a eficiência da bateria. Ou da direção hidráulica. Tem até aditivo norte-americano (booster) para gasolina que aumenta o desempenho do motor, um sucesso nos EUA, onde pode mesmo ser eficiente pois reforça sua oxigenação. Nada disso funciona: óleos e outros líquidos são aditivados de acordo com as especificações da fabrica do automóvel. No Brasil, o booster não funciona pois nossa gasolina já tem quase 30% de etanol. Aditivos recomendados são apenas o da gasolina (para quem abastece com a comum) com agentes dispersantes e detergentes e o etilenoglicol que se mistura na água do sistema de arrefecimento do motor.
Óleo – Mesmo o motorista mais apático à manutenção do carro tem noção da importância de se verificar o nível e trocar o óleo do motor. Frentistas ansiosos para faturar são dotados do “raro” talento de perceber — com uma gotinha entre os dedos — que a viscosidade está fora do padrão. Como se fosse possível avaliar a viscosidade sem um sofisticado aparelho específico. Outros alertam: “Madame, o óleo do motor está muito escuro e já passou da hora de trocá-lo”. Madame nem imagina ser normal o óleo escurecer e só necessitar de substituição na quilometragem ou prazo recomendado no manual.
A “troca” – Se o posto não for conhecido e de confiança, é um perigo pedir a troca do óleo do motor. Entre as malandragens, pode ser cobrada a troca sem que ela tenha sido feita. Ou ter substituído o óleo recomendado no manual por outro de qualidade inferior. Ou fora das especificações do fabricante. Ou ter usado óleo recuperado. Sabem os deuses em que condições…
O dedo – Vale tudo na ânsia de faturar: até colocar o dedo para “calçar” a vareta de óleo ao aferir o nível, causando a falsa impressão de que falta óleo no cárter…
Adulteração – Combustível adulterado é uma das maiores safadezas de um posto. Que aumenta a quantidade de etanol na gasolina, ou de água no etanol e outras. Aproveita-se da deficiente fiscalização da ANP para prejudicar o cliente.
Arredondar – No passado, era mais prático, ao abastecer na bomba, chegar a um valor “redondo” enchendo o tanque até a boca. Hoje, praticamente só se paga com dinheiro eletrônico e perdeu sentido continuar a abastecer mesmo depois do desligamento automático da bomba. Que danifica o cânister (filtro projetado para receber e limpar os gases do tanque, mas não o combustível em estado líquido…). Além do risco de vazar e manchar a pintura.
Nitrogênio – Nem imaginava que vários postos ainda oferecem nitrogênio para calibrar pneus, uma antiga tentativa da White Martins de faturar algum às custas dos motoristas. Vale a pena pagar por ele em vez do ar que — em geral — é de graça? Sim, caso seu automóvel seja um Fórmula 1, onde é essencial manter a calibragem inalterada mesmo em elevadas velocidades. E evitar a umidade do ar. Ou então se você costuma rodar com frequência acima dos 200 km/h. Ou seja, ate que valeria a pena se fosse gratuito, mas a relação custo-benefício para pobres mortais ao volante não justifica a despesa.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.