Já havia vazamento de informação, mas agora está consumado. Nesta terça-feira (19), em Mogi das Cruzes (SP), a Toyota apresentou à imprensa especializada o Etios 2017, em que a maior (e mais aparente) novidade é novo quadro de instrumentos digital (foto de abertura) em substituição ao analógico que tantas reclamações gerou — menos de proprietários, mais dos críticos por esporte — mas que mudou a cara do Etios, mudou, e para muito melhor. O visor do quadro é em TFT (Thin Film Transistor), de notável visibilidade, além do desenho primoroso.
Como já comentei aqui, há exatamente um ano um pequeno grupo de jornalistas, o AE incluído, foi convidado para um jantar na casa do presidente e executivo-chefe da Toyota América Latina, o americano de ascendência italiana e nascido em Detroit, Steve St. Angelo Jr. Na ocasião eu disse ao presidente que não era necessário mexer na posição do quadro do instrumentos, que apenas trocar os instrumentos analógicos por digitais teria um custo relativamente baixo e daria novo ar ao Etios, derrubando todas as reclamações de má leitura do velocímetro e do conta-giros. Pelo visto, valeu a sugestão.
Mas não ficou só nisso. Quatro anos depois de lançado, o Etios passa a ser disponível com câmbio automático epicicloidal de quatro marchas. Novidade também no câmbio manual, que passa a ser de seis marchas com sexta sobremarcha (v/1000 38,6 km/h, 3.100 rpm a 120 km/h), tudo disponível desde a versão base, o Etios X.
Mudança importante, os motores estão mais potentes. Com gasolina, o 1,3-litro (1.329 cm³) agora desenvolve 88 cv a 5.600 rpm (era 84 cv, mesma rotação) e 12,3 m·kgf a 4.000 rpm (antes, 11,9 m·kgf a 3.100 rpm). Com álcool, vai a 98 cv (era 90 cv/5.600 rpm) e 12,8 m·kgf (torque não mudou e a rotação passou de 3.100 para 4.000 rpm também).
No motor 1,5-litro (1.496 cm³), com gasolina, a potência subiu para 102 cv (era 92 cv, às mesmas 5.600 rpm) e o torque, para 14,3 m·kgf a 4.000 rpm (antes, 13,9 m.kgf a 3.100 rpm). Com álcool, a potência agora é de 107 cv a 5.600 rpm (antes, 96,5 cv à mesma rotação) e o torque passou para 14,7 m·kgf, também a 4.000 rpm (antes o torque era igual com gasolina e álcool, a 3.100 rpm).
Para chegar ao novos números foi adicionado variador de fase na admissão e escapamento (nenhum antes), atuação de válvulas indireta por alavanca-dedo roletada com fulcrum hidráulico (era atuação direta por tucho-copo sem compensação de folga), revestimento das saias dos pistões com carbono endurecido (DLC, diamond-like carbon) para redução de atrito e taxa de compressão mais alta, 13:1 em lugar de 12,2:1 no 1,3 e 12,1 no 1,5. Novo coletor de admissão tem formato que leva a mistura ar-combustível (a injeção é no duto) a dar uma “cambalhota” (tumble), homogeneizando-a ainda mais. Como antes, o acionamento dos comandos de válvulas é por corrente.
O resultado é que os motores, que já tinham bloco e cabeçote de alumínio e eram bons, ficaram melhores e ainda mais elásticos em função dos comandos variáveis. Mas o corte de rotação é muito baixo, ocorre a 5.800 rpm, quando poderia ser a 400 rpm acima sem nenhum problema. O maior curso de pistões, o do 1,5-litro, é 90,6 mm e a 6.200 rpm a velocidade média do pistão ainda é contida, 18,7 m/s. O curioso é que no Etios 2012 o corte era a 6.000 rpm.
Não existe mais injeção de gasolina para partidas a frio com álcool sob temperaturas inferiores a 18 ºC, sendo o pré-aquecimento do álcool feito pela válvulas de injeção com aquecedor (fornecedor Denso).
Os motores do Etios, a partir de agora, são fabricados no Brasil na nova fábrica de motores da Toyota em Porto Feliz (SP), a pouco menos de 40 quilômetros da fábrica do modelo em Sorocaba, no mesmo estado. O câmbio manual, fabricado pela Aisin, em Itu (SP), a 38 km de Sorocaba, utiliza sincronizador 1ª-2ª de cone triplo, de três cones de frenagem em vez do normal de cone único.
A caixa manual traz duas novidades. Uma, a embreagem de comando hidráulico. Outra é o que a fábrica chama de Monitor Inteligente de Aceleração, sistema que evita que motor morra numa arrancada menos cuidadosa.
Houve recalibração da suspensão para aumentar o conforto de rodagem e foram adotados amortecedores dianteiros com batente hidráulico na distensão para evitar a pancada quando a roda “cai” ao passar por uma lombada (prática generalizada na indústria nacional). A assistência elétrica da direção também passou por recalibração para reduzir ainda mais o esforço em manobras, mas sem comprometer o “peso” adequado em velocidades de rodovia. Vale lembrar que o excepcional diâmetro mínimo de curva do Etios foi mantido, 9,6 metros no hatchback e 9,8 metros, no sedã.
Preços
O início de comercialização nas concessionárias é no dia 28 p.v. e os preços, em média R$ 2.000 mais altos, são:
Hatchback
X 1,3 manual R$ 43.990
X 1,3 automático R$ 47.490
XS 1,5 manual R$ 48.995
XS 1,5 automático R$ 52.495
XLS 1,5 manual R$ 53.895
XLS 1,5 automático R$ 60.895
Cross 1,5 manual R$ 57.395
Cross 1,5 automático R$ 60.895
Sedã
X 1,5 manual R$ 48.495
X 1,5 automático R$ 51.995
XS 1,5 manual R$ 51.696XS 1,5 automático R$ 55.195
XLS 1,5 manual R$ 56.795
XLS 1,5 automático R$ 60.295
Vale notar que o câmbio automático acresce o preço em R$ 3.500, qualquer versão. É um desenvolvimento do antigo do Corolla e tem software de gerenciamento capaz de interpretar várias situações de tráfego (subidas, descidas, trânsito, etc.), a demanda de potência segundo o pedal do acelerador e desse modo determinar a marcha mais adequada para cada situação. Não há o recurso de trocas manuais sequenciais, mas o motorista pode escolher ficar nas quatro marchas automáticas ou ir até à 3ª (D3), até à 2ª (2) e até à 1ª (L), no caso de querer usar freio-mot0r numa descida de serra, por exemplo. Em 4ª a v/1000 é 37 km/h, para 120 km/h a 3.250 rpm, rotação ligeiramente superior apenas à sexta do câmbio manual.
As versões X, XS e XLS são as mesmas do lançamento em 2012 e desaparece a Platinum (que está sob teste de 30 dias com o AE). Saliente-se que por não haver versão 1-litro, o Etios recolhe IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) com alíquota de 13% e não 7%.
Andando com X 1,3
Fiz questão da andar com a versão base da escala, o Etios X hatchback 1,3 manual. Excelente, especialmente motor, câmbio e conforto de rodagem. O motor é liso, tem uma elasticidade de respeito. Todos os carros estavam com álcool. Pena que o corte de rotação seja tão antecipado, embora sejam pouco os proprietários que vão usar toda a potência.
O câmbio tem padrão de seleção, engate e carga da alavanca, com manopla tipo pera, e “padrão Wolfsburg”. A ida para o canal 5ª-6ª é muito bem definida e fácil, e o movimento de 5ª para 6ª não requer atenção. A ré é vizinha à 1ª com pescoço na alavanca para chegar ao seu canal.
Não cumpri o roteiro de teste proposto, que compreendia subir a serra de Mogi, pegar um trecho da Ayrton Senna e voltar. Em vez disso, procurei usar o carro na rodovia SP-039 Eng. Cândido do Rêgo Chaves, onde fica o Paradise Golf and Convention Resort, o hotel-base do programa, e na cidade de Mogi das Cruzes, pegando lombadas fora de padrão e ruas de paralelepípedo.
Nessas rua, o carro como um todo (suspensão, buchas, pneus Pirelli P1) absorvem o piso à perfeição, não se escuta a suspensão funcionar, um louvável trabalho da engenharia de chassi de Toyota. Na rodovia, há algumas curvas de alta que deram para avaliar bem o comportamento, que se mostrou perfeito mesmo com pneus 175/65R14. O nível de ruído interno está mais baixo com providências como mais material fonoabsorvente, inclusive no capô, e até com o emprego de vidros mais espessos.
O novo quadro de instrumentos “mudou a marca do carro”, de tão bem-feito e atraente. Pode-se alterar sua configuração entre conta-giros circular ou de escala horizontal, neste caso para exibição dos dados do computador de bordo. O velocímetro digital está sempre presente e é muito fácil ler a velocidade num relance usando com a visão periférica.
Mas um problema é operar os controles do computador de bordo, feito por botões de empurrar no próprio instrumento, que não são tão próximos do motorista. É preciso certa “ginástica” para alcançá-los. Veja na foto de abertura sua localização.
Ao contrário do publicado no teste de lançamento em setembro de 2012, em que foi divulgada a aceleração 0-100 km/h, desta vez faltou esse importante dado de referência. Como os pesos permanecem na mesma faixa, de 955 a 970 kg, ante 940 a 980 kg, as acelerações certamente são melhores, e se percebe isso claramente. Na ocasião (2012) foram informadas como sendo de:
Etios 2012, 0-100 km/h, segundos | |
Hatchback 1,3 | 12,2 (G), 11,8 (A) |
Hatchback 1,5 | 11,5 (G), 11,1 (A) |
Sedã 1,5 | 11,8 (G), 11,3 (A) |
Na mesma matéria cheguei, por cálculo, à velocidade de 170 km/h para o hatchback 1,3-L e 173 km/h com motor 1,5-l. O sedã, de melhor aerodinâmica, pelo cálculo chegaria a 185 km/h. Agora, com mais potência, pode-se certamente esperar números superiores.
Desta vez, porém, havia a informação de consumo nas etiquetas do Programa de Etiquetagem Veicular com os consumos Inmetro. Veja abaixo como era em 2012 e como é hoje, lembrando que as fabricantes utilizam gasolina-padrão com 22% de álcool (E22):
Como era
Etios 2012, consumo | |||
Hatchback 1,3 | Hatchback 1,5 | Sedã 1,5 | |
Cidade (km/l) | 12,5 (G), 8,5 (A) | 12,4 (G), 8,5 (A) | 11,9 (G), 8,4 (A) |
Estrada (km/l) | 13,0 (G) 9,0 (A) | 13,4 (G), 8,9 (A) | 14,0 (G), 9,3 (A) |
Como é
Etios 2017, consumo | |||
Hatchback 1,3 | Hatchback 1,5 | Sedã 1,5 | |
Cidade (km/l) | 12,6 (G), 8,6 (A) | 12,4 (G), 8,3 (A) | n.d. |
Estrada (km/l) | 14,2 (G) 9,8 (A) | 14,1 (G), 9,8 (A) | n.d. |
O Etios, embora não figure entre os mais vendidos, comercializou 61.000 unidades no mercado interno em 2015 e exportou 22.000 para os países do Mercosul (os de verdade, Argentina, Paraguai e Uruguai, não a palhaçada de incluir a Venezuela nesse mercado comum). Com as mudanças aportadas, deverá atrair ainda mais compradores pelas suas qualidades intrínsecas e indiscutíveis. Agora ganhou cintos de três pontos e apoios de cabeça para os três ocupantes do banco traseiro (que viajam sem apertos) e, muito importante, tem agora dois pares de engates Isofix para bancos infantis, juntamente com ponto de fixação superior (top tether).
Pode o Etios melhorar? Como todo carro, pode. Falta a faixa degradê no para-brisa, anotada pelo recém-nomeado e competente vice-presidente executivo de Vendas e Marketing, o português Miguel Fonseca, com quem conversei bastante. Aliás, sua apresentação técnica foi brilhante, mostrando trazer uma cultura europeia nessas questões e a quem parabenizei e roguei para “não se deixar contaminar” pelo jeito brasileiro de achar que os jornalistas brasileiros não precisam de informações detalhadas (salvo poucas exceções).
Pequenos detalhes são fáceis de corrigir, como colocar tampa corrediça nos espelhos de cortesia nos para-sóis e introduzir o prático pisca-3 no indicador de direção.
Chego ao exagero de vaticinar que o Etios, considerado “patinho feio” por muitos, poderá vir a ser vendido com ágio. O tempo dirá.
BS
Abaixo a ficha técnica e mais fotos a seguir.
FICHA TÉCNICA ETIOS 2017 | Hatchback | Sedã | ||||
X | XS | XLS | X | XS | XLS | |
MOTOR | ||||||
Tipo | 4 cilindros em linha, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, 16 válvulas, atuação indireta por alavancas roletas com compensação hidráulica de folga, variador de fase admissão e escapamento, bloco e cabeçote de alumínio; flex, transversal | |||||
Cilindrada | 1.329 cm³ | 1.496 cm³ | ||||
Diâmetro e curso | 72,5 x 80,5 mm | 72,5 x 90,6 mm | ||||
Taxa de compressão | 13:1 | |||||
Potência | 88 cv (G) e 98 cv, (A), a 5.600 rpm | 102 cv (G) e 107 cv (A), a 5.600 rpm | ||||
Torque | 12,5 m·kgf (G), 13,1 m·kgf (A), 4.000 rpm | 14,3 m·kgf (G) e 14,7 m·kgf A), a 4.000 rpm | ||||
Formação de mistura | Injeção no duto | |||||
TRANSMISSÃO | ||||||
Câmbio | Transeixo dianteiro de 6 marchas manuais, tração dianteira | |||||
Relações das marchas | 1ª 3,538:1; 2ª 1,913:1; 3ª 1,310:1; 4ª 0,971:1; 5ª 0,818:1; 6ª 0,700 ré 3,333:1 | |||||
Relação do diferencial | 3,944:1 | |||||
SUSPENSÃO | ||||||
DIANTEIRA | Independente, McPherson, braço triangular inferior, mola helicoidal e amortecedor pressurizado, barra estabilizadora | |||||
TRASEIRA | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado, barra estabilizadora incorporada ao eixo | |||||
DIREÇÃO | ||||||
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade | |||||
Diâmetro mínimo de giro | 9,6 m | 9,8 m | ||||
FREIOS | ||||||
Dianteiros | A disco ventilado | |||||
Traseiros | A tambor | |||||
RODAS E PNEUS | ||||||
Rodas | Aço, 5J x 14 | Alumínio, 5,5J x 15 | Aço, 5J x 14 | Alumínio, 5,5J x 15 | ||
Pneus | 175/65R14 | 185/60R15 | 175/65R14 | 185/60R15 | ||
DIMENSÕES | ||||||
Comprimento | 3.777 mm | 4.265 mm | ||||
Largura | 1.695 mm | |||||
Altura | 1.510 mm | |||||
Distância entre eixos | 2.460 mm | 2.550 mm | ||||
PESOS E CAPACIDADES | ||||||
Peso em ordem de marcha | 915 kg | 955 kg | 965 kg | 970 kg | ||
Porta-malas | 270 litros | 562 litros | ||||
Tanque de combustível | 45 litros |
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