O Denatran, autoridade máxima do trânsito, tem receita “infalível” para reduzir os acidentes: encolher a frota circulante….
Quem respeita a faixa de pedestre? No Brasil, verbas para campanhas de educação no trânsito são sistematicamente desviadas pelo governo, apesar de ser o caminho mais simples e barato para disciplinar o trânsito e conscientizar o motorista. Tanto que, há exatos 20 anos (1996) fez-se uma campanha em Brasília (Paz no Trânsito) que incluiu o respeito à faixa: o número de mortos por atropelamento caiu 40% em um ano. Mas, no resto do país, ela não passa de elemento decorativo no asfalto: motorista que a respeita corre o risco de parar na faixa e levar uma batida na traseira.
Em janeiro deste ano, o Código de Trânsito Brasileiro completou 18 anos. Legislação fundamental para caracterizar infrações e punições aos motoristas, o CTB estabeleceu a política para a educação no trânsito, regras gerais de mobilidade, bases para aumentar a segurança nas ruas e reduzir o número de mortos e feridos. Entretanto, nada a comemorar: neste período, foram registrados 700 mil mortos e 600 mil inválidos no país.
Quase todas as famílias brasileiras já tiveram algum parente vítima do trânsito. E pergunta-se o porquê desta tragédia anunciada, porque tanta negligência diante de números assustadores. A imprensa destaca um desastre aéreo com 200 mortos, mas parece ignorar que o trânsito faz mesmo número de vítimas fatais a cada dois dias.
Tudo começa pela incompetência do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e dos órgãos policiais que aparentemente ignoram o CTB e a legislação específica. Lei da balança não é respeitada com as balanças desativadas. A Lei Seca já foi reduzida a blitze esporádicas em algumas capitais. Obrigatoriedade da cadeirinha na van escolar virou piada depois que um “técnico” do Denatran, diante da dificuldade prática de se aplicar a lei, sugeriu improvisar mais um ponto de fixação do cinto de segurança nas vans.
Tão ignorante no assunto quanto seu diretor, que “explicou” recentemente o aumento do número de acidentes no país: “É porque aumenta também o número de veículos…” A suprema autoridade de trânsito no Brasil imagina ser impossível reduzir acidentes se a frota aumenta. Ignora os resultados surpreendentes das campanhas educativas e fiscalização objetiva em outros países.
Órgãos de trânsito americanos anunciaram queda da mortalidade em 25% desde 2010 sem que se tenha notícia de redução de frota. Mas, nos EUA os motoristas respeitam as leis, pois caso contrário, a punição vem a galope. Além disso, ao contrário do Brasil, lá aprova-se com rapidez a obrigatoriedade de dispositivos de segurança nos automóveis.
O CTB estabeleceu a inspeção veicular para restringir a circulação de veículos caindo aos pedaços que ameaçam a segurança, a qualidade do ar e o fluxo de trânsito. Ela já existe há décadas no Primeiro Mundo, mas aqui continua no papel tantos os entraves….
O governo se diz preocupado com a segurança mas jamais tomou atitude contra fábricas “fundo de quintal” que produzem itens de segurança, oficinas que recuperam rodas de liga leve, “recondicionam” amortecedores ou reparam automóveis acidentados com “Perda Total” que são leiloados e depois recolocados criminosamente à venda.
A tragédia brasileira avança sem rédeas e estabelece novos recordes mundiais, sem nenhum programa efetivo para disciplinar o trânsito urbano e rodoviário. Nem uma pesquisa científica para identificar causas e estabelecer programas de educação para motoristas, motociclistas e pedestres. Para se alinhar as manifestações das autoridades, a ação da polícia, a atitude da imprensa e o comportamento do cidadão.
BF