Pois é, andei nesta pista antiga de Nürburgring — o Nordschleife, também conhecido como Inferno Verde — com o meu Ford Taunus 15M, ano 1969, tração dianteira, motor V-4 (coisa mais gozada, um meio V-8) de 1,7 litro e 75 cv, pneus Pirelli Cinturato com cinta de aço — e tendo como copilota minha saudosa mãe!
Como curiosidade, o Taunus 12M, de 1962, foi o primeiro Ford de tração dianteira; o segundo foi o Corcel.
Isto foi durante o meu primeiro estágio na Alemanha na década de 70, 1973 mais exatamente. Minha mãe estava na Alemanha para ajudar minha irmã, também já falecida, que lá morava e que recém tinha recebido sua primeira filha, a Bárbara.
Foi num Dia das Mães e eu estava levando mamãe para tomar um café com bolo, minha irmã morava em Mayen, que fica bem próximo a Nürburgring.
Minha mãe foi sempre meio da pá virada… Ao chegarmos próximo do autódromo comentei onde estávamos chegando e mamãe perguntou: é aqui que o Fittipaldi corre? Eu disse que sim e perguntei: quer dar uma volta?
Naquele tempo a pista era aberta para o público em geral andar, custava 3,50 marcos alemães — veja que loucura destes patrícios.
Mamãe respondeu com um grito: quero sim!
Entramos no autódromo. Fechei o teto solar de aço, coloquei o único cinto de segurança que o carro tinha na mamãe (acho que o dono anterior do carro tinha algum parente incapacitado que necessitava ser atrelado ao carro, pois cintos ainda não eram obrigatórios naquele tempo).
Aí perguntei: como é mamãe, vai ser uma volta quente ou fria?
Adivinha a resposta: QUENTE!
Eu tinha uma enorme experiência de “andar como vaca brava” em estradinhas, tipo caminho para Ilhabela (estrada velha é lógico) e Nürburgring nos tempos dos 22,8 km a volta não passava de uma estradinha destas, acredite se quiser.
Fechei a volta em 14’40” pelo meu cronômetro, não necessariamente um recorde. E no Schwalbenschwanz (duas curvas em aclive leve formando o desenho de um rabo de andorinha) a frente de meu carro tentou levantar voo — nada que uma tirada controlada de pé do acelerador e um toquinho no freio não corrigissem.
Durante a volta toda mamãe ficou impassível, segurando no “PQP” do carro e falando normalmente. O gozado era ver a cara dos “urubus” que ficavam na beira da pista, espectadores ávidos por desastres, que costumavam acontecer com frequência, como bem se pode imaginar.
Estes “urubus” ficavam boquiabertos ao ver uma senhorinha toda arrumadinha ao lado de um “ás-no-volante” (mais para asno volante) aloprado que fazia somente manter a frente do carro no rumo sem se importar muito com o que a traseira decidia fazer.
O carro ia “entortando nas curvas” e lá fomos nós.
Mamãe sempre lembrou dos detalhes desta molecagem com o seu “filhoto”, como ela me chamava, até o fim de sua vida…
Feliz Dia da Mães, Dona Marguerite, onde a senhora estiver…
AG
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