Nem uma concessionária Rolls-Royce é capaz de pintar um carro com a mesma qualidade que a fábrica.
Ninguém ignora os cuidados a se tomar na compra de um carro usado. O que poucos imaginam é que se deve ficar de olho vivo até ao adquirir um carro zero. Corre-se riscos?
Quase ninguém confere, por exemplo, os pneus. Que podem se tornar uma fonte de problemas. É raro, mas o sobressalente pode ter marca diferente dos outros quatro. porque estava baixo o estoque de pneus na fábrica e ela decidiu não equipar os carros naquele dia (ou semana) com o estepe. Vão desprovidos dele para o pátio até chegar uma nova remessa de pneus. Que pode ser de outro fabricante…
Outro problema complicado do pneu é a marca. Pode ser de ótima qualidade, mas produzido num país asiático e sem rede local de lojas. Quando se desgastam por igual, nenhum problema: compra-se um jogo de outra marca. Mas, se apenas um deles se rasga num buraco, como substituí-lo? Questionada, a fábrica do automóvel alega estarem disponíveis nas concessionárias. Mas, e se for encontrado numa autorizada a 4.000 km de distância e que decide cobrar uma “nota preta”?
Se você perceber um dano na pintura do carro zero km, um pequeno amassado ou risco profundo, devolva-o. Não acredite que a concessionária tenha condições de repará-lo, pois nenhuma oficina de marca nenhuma do mundo, nem uma autorizada Rolls-Royce, é capaz de repintar um automóvel com a mesma qualidade que a fábrica. Basta imaginar que, na linha de montagem, a carroceria limpa e desprovida de qualquer revestimento é mergulhada num tanque para aplicar a tinta básica de proteção. Depois, levada para a secagem da tinta numa estufa a quase 100 graus Celsius. Como fazer o mesmo com o carro pronto?
Por falar em pintura, alguns vendedores são treinados para oferecer uma série de produtos e serviços durante a entrega do carro zero. Entre eles, a chamada polimerização, (ou vitrificação, ou espelhamento etc) para “proteger e dar brilho”. Uma operação realmente recomendada quando o carro já tiver dois ou três anos de fabricação e a pintura original começar a perder o brilho. Mas jamais num automóvel zero km pois, na fábrica, ele recebeu um verniz especial para proteção e brilho. No serviço sugerido pelo vendedor (que será comissionado se fizer a venda…), a primeira operação será passar uma lixa na pintura, removendo a camada aplicada na fábrica.
Acessórios também dão “pano para manga”. Se a fábrica não instala, ela tem os produtos homologados para serem aplicados na concessionária. Mas existem também dezenas de outras marcas disponíveis no mercado, não reconhecidos pelo fabricante do automóvel. Que podem ou não ter qualidade, mas quase sempre custam menos que os homologados. Se o dono do carro instala um equipamento de som, por exemplo, numa loja de acessórios, perde-se a garantia de fábrica, pois houve interferência no circuito (chicote) elétrico. Mas, o grande problema é a concessionária instalar um acessório não homologado, apesar de cobrar como se o fosse. Se o carro apresentar um problema, a revenda que o instalou se responsabiliza.
Mas, imagine o carro numa outra cidade levado à concessionária local por algum problema: ela simplesmente negará a garantia alegando a instalação de um equipamento não homologado. Já houve casos assim levados à Justiça e a decisão foi de que a fábrica tem que se responsabilizar pelos atos praticados por qualquer revenda autorizada. É para isso, disse o Juiz, que tem o logotipo da marca dependurado lá fora…
Finalmente, o prezado consegue distinguir couro verdadeiro do “sintético”? Tem certeza de estar pagando pelo primeiro ou verá em pouco meses o segundo se esfarelando?
BF