Empresários emitem previsões opostas a respeito da recuperação da economia brasileira.
Matéria da The Economist sobre o Brasil cita uma declaração recente do megaempresário Abílio Diniz, de que a economia brasileira estaria saindo do buraco. Mas a revista inglesa observa que o otimismo de Diniz não encontra respaldo em outros líderes empresariais. Um deles chega a ser bem objetivo e diz que não bastam boas expectativas para a economia reagir. E que o Brasil só vai crescer de fato se atacar deficiências estruturais como o custo do dinheiro, qualificação de mão de obra, legislação trabalhista e a histórica e cruel burocracia do governo.
Sérgio Habib, um dos mais brilhantes empresários do Brasil, não concorda com Diniz. Ele trouxe a Citroën para o Brasil na década de 90, montou uma rede de concessionárias da marca, e decidiu — recentemente — importar os automóveis e implantar uma fábrica da chinesa JAC. Planejou com precisão seu empreendimento, mas quase foi nocauteado por Dilma Rousseff, quando a presidente decidiu “proteger” a indústria nacional (em 2011) acrescentando 30 pontos fatais no IPI para a importação de marcas sem fábrica no país. Uma medida tão inesperada quanto tortuosa: o Brasil acaba de ser condenado pela OMC Organização Mundial de Comércio) por este recurso que vai de encontro às normas internacionais do comércio.
Habib encolheu mas não entregou os pontos. Redimensionou seus projetos e segue em frente. E fez no mês passado uma análise bastante realista do mercado de automóveis e suas perspectivas. Na sua visão, quatro pilares determinam o comportamento do consumidor e do empresário : confiança, renda per capita, preço e taxa de juros.
1 – “Dos quatro”, diz Habib, “só o primeiro deu sinais de reversão nos últimos meses, com a troca de comando no governo federal. Dá para sentir que o mercado está um pouco mais confiante de um virada na economia”.
2 – Não vê sinal positivo nos outros três. A renda, por exemplo, está intimamente relacionada com o desemprego. Diz ele que, neste aspecto, o Brasil vai “piorar menos” pois o numero de desempregados ainda não se reduz, apenas aumenta mais lentamente. Então, por mais otimista que seja o quadro, serão necessários muitos meses até uma sensível redução do número atual que já ultrapassa 12 milhões de desempregados.
3 – Os preços dos automóveis estão subindo pressionados pela inflação e nada indica uma reversão de tendência. Habib tem razão: a gordura que as fábricas tinham no passado já foi queimada há tempos, pois depois de dezenas de anos deitando e rolando com apenas quatro marcas, o Brasil é palco hoje de uma concorrência feroz que reduziu sensivelmente as margens pois passou a ter número recorde de fábricas de automóveis. Com a competição entre elas e a queda do mercado, várias perdem dinheiro nesta crise, a mais profunda na história da nossa indústria. Quase ninguém acredita, mas teve fábrica que recorreu este ano à matriz para pagar a folha mensal. Aliás, é difícil descobrir quais empresas do setor realizaram remessa de lucros para suas matrizes recentemente.
4 – Juros: diz Habib que estava mês passado na China, reunido com empresários locais. Um deles comentou ter lido uma notícia positiva do Brasil, de que o Banco Central determinara uma redução dos juros (taxa Selic). E perguntou ao Habib se os empresários brasileiros não tinham se entusiasmado com a notícia. Ele tentou então explicar aos chineses que a “redução de juros” não era tão significativa como eles imaginavam. De 0,25% em outubro e outros 0,25% em novembro. Insignificantes diante de uma taxa anual de 14%….
Mas, mesmo no setor, não há unanimidade: Carlos Zarlenga, presidente da GM Brasil, prevê um crescimento do nosso mercado de cerca de 10% a partir do segundo semestre de 2017. Será?
BF