Cada vez mais está difícil de se comprar carros novos no Brasil. Tanto pelos preços absurdos como pela falta de opções decentes a um preço acessível. Muitas vezes a opção é partir para um semi-novo ou mesmo um usado. E pensando assim, é possível encontrar carros usados bem legais.
Certamente, um carro usado mais barato já está rodado, pode ter mais de dez anos de vida, e manutenção já começa a se tornar uma preocupação constante no orçamento de gastos anuais. Mas às vezes, como opção de segundo carro, um usado em ordem é um bom negócio, se entendermos que gastos de rodagem serão um pouco maiores que de um carro novo.
Abaixo segue a minha lista de carros usados que eu compraria, de acordo com o meu gosto. Não quer dizer que são melhores ou piores que outros modelos, mas são os que me agradam por algum motivo. E para não deixar a lista abrir muito, restringi o valor máximo para R$ 35.000 no mercado local, que é próximo do valor dos carros zero-km mais baratos que temos. A seqüência é aleatória.
– Volvo 850 R Turbo
Já falei em diversas oportunidades aqui no Ae o quanto peruas me agradam, ainda mais se forem versões esportivas. E nada mais legal do que um Volvo dos anos 1990, quadradão e sem graça, com um motor turbo 5-cilindros de 250 cv e em algumas versões até mesmo um diferencial Torsen. E claro, o fato de ter sido usado pela equipe de Tom Walkinshaw no Campeonato Inglês de Turismo (BTCC, a sigla em inglês) em 1994.
Espaçosa, segura e rápida, a perua do 850 R pode ser encontrada no mercado por valores perto dos R$ 24 mil, ano 1997. A manutenção, pelo o que já ouvi de alguns donos, não é alta. É um automóvel confiável, mas o problema é encontrar uma em boas condições. Carros turbo usados são um problema, geralmente foram usados sem os cuidados especiais que um turbo pede e uma troca de turbina pode custar caro. Problemas no ABS também não são raros nestes carros.
Se fosse para ter um, seria preto, discreto e com cara de tiozão. Ou azul e branco todo adesivado, réplica do modelo do BTCC. Por que não?
– Audi S6 perua
Mais uma perua na lista, desta vez um Audi, modelo S6, a versão esportiva da linha A6. Assim como o Volvo, em 1997, a opção esportiva da perua S6 pode ser encontrada no nosso mercado por valores próximos de R$ 33 mil. Com tração integral e motor V-8 de 290 cv, a S6 acelera forte, com 0-100 km/h na casa dos seis segundos. A caixa automática Tiptronic não é lá grande coisa, lerda e indecisa, mas dá para se divertir mesmo assim. Dificilmente encontra-se uma perua com transmissão manual, além de ser mais cara.
Também um carro que precisa ter sido bem cuidado, pois quase quinze anos de uso em um V-8 de 32 válvulas pode custar caro para se fazer uma manutenção. Não é exatamente bonita também, mas não passa desapercebida no meio do trânsito, ainda mais se for prata ou preta. Perto de um modelo atual é uma perua barata, o mesmo se comparada à lendária RS2 com motor Porsche, que passa fácil dos R$ 80 mil.
– BMW 540i
Talvez o mais legal da lista, junto com o 850 R, o BMW 540i da geração E39 (1995-2003) é praticamente a versão menos nervosa do M5. Equipado com um V-8, assim como o M5, porém com “apenas” 290 cv contra os 400 cv da versão M, o 540i é discreto e confiável. Acelera até os 100 km/h em seis segundos e chega a 250 km/h tranquilamente.
As unidades dos primeiros anos, que começou a produção em 1997, têm as lanternas traseiras com piscas âmbar e sem os faróis dianteiros com iluminação circular, os famosos angel eyes (olhos de anjos). São os mais baratos, em torno de R$ 30 mil para os mais antigos e mais rodados, podendo chegar a R$ 35 mil em um modelo 2001. Há modelos com o pacote Sport Package, com kit aerodinâmico e rodas de 17″, que é bem bonito, além de um leve aumento do torque do motor.
O interior sóbrio dos BMW do começo dos anos 2000 e a aparência discreta do carro fazem dele uma opção muito boa. Vale fugir dos blindados, pois além de serem mais barulhentos em termos de acabamento, são mais pesados e o consumo de combustível e o desempenho pioram.
– BMW 750i
Outro BMW na lista, agora um dos grandalhões da marca. O 750i (geração E 38) foi o carro-chefe da BMW de 1995 a 2001. Era o carro de chefes de Estado, presidentes, ditadores e generais mundo afora, disputando mercado com os Mercedes classe S. O 750i era o modelo mais caro, mais refinado, e equipado com o maior motor disponível, um V-12 de 5,4-litros e 325 cv. Este é o mesmo motor que equipava os Rolls-Royces da mesma época.
O 750i era extremamente moderno, já tinha sistema de navegação por GPS integrado, bancos elétricos com massageadores, controle de ar-condicionado de duas zonas, câmbio automático com a opção de troca de marchas manual. Além do mais, o 750i foi estrela do filme 007 – O Amanhã Nunca Morre, onde Bond pilotava o carro pelo celular.
Infelizmente este carro é relativamente raro, e para chegar ao valor de R$ 35 mil, apenas os modelos dos primeiros anos e blindados por empresas independentes. A manutenção é bem cara. Para se ter uma idéia, um buraco na estrada pode causar estragos de até R$ 15 mil em peças e mão de obra. É um investimento mais arriscado, mas se bem investigado na hora da compra e o carro for usado com cautela, é um preço para se pagar por um V-12 de alto nível.
– Mitsubishi Eclipse GST Turbo
Os japoneses também têm opções para quem procura um usado alternativo e diferente. O Eclipse foi um sucesso nos anos 1990, com um carro com cara esportiva, carroceria de duas portas muito bem desenhada, e um bom desempenho. A segunda geração do carro, fabricada de 1995 a 1999, tinha como um dos motores um quatro cilindros em linha turbocomprimido de 215 cv. O interior é simples porém funcional, sem luxo inútil.
O complicador para a compra de um Eclipse turbo é encontrar um que nunca tenha sido modificado. Graças a geração “Velozes e Furiosos”, muitos destes Mitsubishis foram rebaixadas, tiveram motores mexidos, adaptações de carroceria etc. Um exemplar original dos primeiros anos de produção pode custar entre R$ 27 mil e R$ 30 mil. E, novamente, motores turbo usados requerem atenção especial.
– Peugeot 406 Coupé V-6
A Pininfarina é um dos maiores, se não o maior, estúdios de design de todos os tempos. Ponto. Praticamente tudo o que eles assinaram foi muito bem feito, independentemente de para qual fabricante. No caso da Peugeot, a Pininfarina desenhou a versão duas-portas do 406, e ficou um show. Além do desenho, a fabricação da carroceria também era feita pelo estúdio italiano. O motor V-6 de 3 litros e 210 cv não impressionam tanto, o carro é pesado e o câmbio automático que equipa a maioria dos modelos importados também não ajuda em uma tocada esportiva.
Para um modelo 1999, o preço é de aproximadamente R$ 34 mil. Em uma breve pesquisa feita pela internet, quase todos os anunciados que encontrei se diziam 100% originais e com revisões feitas em concessionária, o que indica que o Coupé não fez muito sucesso entre os fãs do tuning, o que é muito bom. A confiabilidade deste carros é questionada no quesito suspensão, como a maioria dos carros franceses importados desta época, porém um carro bem cuidado pelos donos anteriores não deve apresentar problemas neste aspecto.
Mas ainda acima de tudo, é muito, muito bonito.
– Alfa Romeo 156 Sportwagon
Não poderia faltar um Alfa Romeo na lista. Aliás, em nenhuma lista pode faltar um, não importa qual seja. Pensei em colocar o 164, mas seria um pouco abaixo da faixa de preço e idade dos demais. Passei então para o 166, seu sucessor. Ambos são V-6, o mágico 3-litros multiválvulas que todos os Alfas deveriam ter, com escapamento esportivo dimensionado, claro, mas é um carro que não consigo gostar do desenho da dianteira.
Então temos a opção do 156 Sportwagon com motor 2-litros. É talvez a perua mais bonita de todos os tempos. Desenhada por pelo italiano Walter de Silva, o pai de muitos outros Alfas e do Audi TT (atualmente Walter é o chefe de estilo do Grupo Volkswagen). O Sportwagon teve opção de motor V-6, mas o custo já é maior, e mais difícil de encontrar no nosso mercado. Ainda existiu a versão GTA da perua, com o V-6 de 255 cv, que seria o supra-sumo deste carro.
Não só do exterior bonito o 156 ganha o apego dos apreciadores de Alfas. O interior, principalmente o painel, segue a clássica linha italiana, com o quadro de instrumentos ressaltado, com dois grandes mostradores, como nos antigos GTVs. Um modelo 2002 custa por volta de R$ 33 mil, na configuração quatro cilindros e câmbio manual. Como sempre, confiabilidade italiana é de se desconfiar, mas um carro bem cuidado dificilmente dá problemas.
O Sportwagon pode não ser rápido como o Volvo R, nem germanicamente confiável como o S6, mas é amolecer qualquer coração.
– Jeep Grand Cherokee Limited LX 5.9
Particularmente não gosto muito de SUVs. São grandes, desajeitados, caros demais. Entretanto, o Cherokee do fim dos anos 1990 me agrada. Ao contrário do 406 Coupé, onde a beleza do carro sobrepõe outros pontos negativos, o Cherokee passa longe no quesito beleza. A cara de Uno superdesenvolvido não atrai muito olhares mesmo. O que gosto do Cherokee é a versatilidade. O carro é confortável, bem macio ao estilo barca americana, bem espaçoso e mesmo assim não é enorme por fora, o que significa que não é trambolho para estacionar. E quando necessário, o sistema de tração 4×4 é muito eficiente e robusto, graças aos dois eixos rígidos.
A versão Limited da primeira geração que foi fabricada de 1993 a 1998 veio ao Brasil com motor V-8 5,2-litros, ou para os íntimos da família Chrysler, o 318-pol³. Graças às leis de emissões, nada mais de 220 cv eram extraídos do motor, mas o torque era impressionante. Já era um carro interessante, até que no último ano da produção, a Jeep lançou a versão LX.
Com o motor 5,9-litros (360 pol³) OHV e 250 cv, o ganho de performance não foi lá essas coisas, mas ainda assim por ser um SUV, era rápido. A própria Jeep anunciava o LX como o SUV mais rápido do mundo. E o ronco do V-8 é de impor respeito ao seu redor. Não é um carro para se fazer um trackday, mas é divertido para dar umas aceleradas. E a confiabilidade tende a ser maior que nos europeus e japoneses desta lista. Pode-se encontrar um exemplar por volta de R$ 31 mil.
– Mercedes-Benz E430 V-8
Procurei alguns exemplares de Mercedes para esta lista, mas para a minha surpresa, o preço de alguns aumentou bastante, enquanto que o de outros caiu. Os classe C do começo dos anos 2000 baixaram de preço, junto com o E430 da geração W210 (1995-2002). O classe E é um marco alemão de sofisticação e confiabilidade, sendo o segundo modelo topo abaixo apenas da classe S. Por menos de R$ 35 mil, as opções de E430 são na sua grande maioria blindados, feitos por empresas independentes. Muito raro encontrar um modelo que esteja nessa faixa de preço sem blindagem. O V-8 de 4,3-litros e 280 cv faz com que o desempenho seja praticamente igual ao do E36 AMG de motor seis cilindros.
Conforto a bordo do E430 é garantido, porém este é um raro caso de carro alemão com histórico desfavorável de qualidade. Diversos problemas marcaram esta geração do classe E, como muitos casos de ferrugem e defeitos de suspensão dianteira e motor. O custo de manutenção é salgado, bem salgado, como de um MB novo. Este vejo como o pior problema do carro. Considerando que por aproximadamente R$ 30 mil é possível comprar um modelo 1998 (blindado), talvez o risco de morrer na conta da revisão valha a pena pelo carro que é.
– Chrysler 300M
Outro carro na categoria barca americana, o 300M trouxe de volta a lendária família 300 da Chrysler, que nasceu há décadas atrás e fez muito sucesso. O 300M, diferente de seus antecessores, tem motor V-6 e tração dianteira. Com 260 cv, não é um carro fraco, mas é bem grande e a caia automática bem americana é pouco empolgante.
Mas o legal deste carro, para mim, é o visual. Arrojado e bem aerodinâmico, este Chrysler é muito espaçoso e confortável. Não é nenhum campeão de dinâmica veicular, sua suspensão macia prioriza o conforto e não a esportividade, então não esperamos uma agilidade de Lotus Elise nele. Um modelo 2000 é encontrado no mercado por mais ou menos R$ 32 mil, sem blindagem.
A manutenção é um pouco problemática por falta de peças, mas não é um carro que apresenta muitos históricos de problemas, pelo menos ao que pude pesquisar. Como um 300C V-8 Hemi ainda está bem fora do alcance em termos de preço, o 300M cobre muito bem esta lacuna de banheira americana.
Como vemos, opções existem aos montes, estas foram as minhas. Cada um ao seu gosto, com suas listas de prioridades, desejos e requisitos. Com uma boa investigada no mercado é possível encontrar um usado legal e que agrade. Basta lembrar sempre que a manutenção vai ser algo a se pensar, pois peças e mão de obra nestes casos são caras, e são carros já bem rodados. E os blindados precisam de manutenção especial e cuidados constantes, como evitar de deixar estacionado ao sol por muito tempo, além da validade da blindagem.
Curiosamente, minha lista rodeia muito carros do fim dos anos 1990, quando a eletrônica embarcada estava crescendo bastante, então as panes elétricas e eletrônicas podem ser outro problema.
MB