A excelente matéria de Alexander Gromow desta segunda-feira (30/3) veio ao encontro do que sempre pensei: não poderia haver sucessor para o Fusca. Impossível. Pode-se chegar perto, caso do Fiat 500, mas o espírito do pequeno carro italiano de 1957, com seu motor traseiro biclindro de 479 cm³ arrefecido ar, não passou ao seu sucessor de 2007, apesar de ser um carro notável.
A foto de abertura foi feita no dia 26 de maio de 1938, quando do lançamento da pedra fundamental da Volkswagenwerk (a fábrica do carro do povo) em Fallersleben, que terminada a Segunda Guerra Mundial teria seu nome trocado para Wolfsburg.
Na cerimônia estavam exibidos, em sua forma congelada, isto é, prontos para produção, três versões do “carros do povo”: sedã, conversível (cabriolé, a capota não se recolhe) e, parcialmente oculto, um sedã com teto solar de lona. Essas três versões acabariam sendo cultuadas nos anos à frente.
Pela foto fica evidente que criar um sucessor seria uma tarefa hercúlea, se não impossível, para qualquer designer. Mexer o que nessas linhas? Bem que foi tentado com o New Beetle em 1998 e o Beetle em 2011, mas era só carroceria, a base era Golf nos dois casos, por isso o motor dianteiro. Não eram exatamente Fuscas.
Sabe-se que o Porsche 911 sucedeu ao 356 e deu certo. Enquanto o 356 ficou 19 anos em produção, o 911 já passou de 55 anos. A configuração de motor traseiro, “pendurado”, foi sabiamente mantida, certamente a chave do seu sucesso, embora o carro como um todo seja completamente diferente. Já o formato único do 356 não teve sucessor. Não teria como. O mesmo com o Fusca.
Não dá para imaginar um sucessor do Fusca que mantivesse seu espírito, seu jeito único de envolver e apaixonar seu dono-motorista e o som único do seu motor boxer arrefecido a ar.
Posso dizer que fui um dos primeiros brasileiros a conhecer o Fusca — ter nascido em novembro de 1942 ajudou nisso, claro — e o impacto que deixou em mim não acredito que se repita na minha e nas gerações que vieram e virão.
BS