Quem ainda associa a McLaren às cores da Marlboro, com o clássico vermelho e branco dos tempos áureos de Senna? Ou a Lotus ao preto e dourado da JPS de quando Emerson foi campeão do mundo pela primeira vez, ou talvez ao amarelo da Camel? Ainda teriam os Lancias de rali nas cores da Martini Racing se existissem?
Todos estes citados são carros de corrida que ficaram famosos e marcaram sua época com pintura tradicionais que se tornaram clássicos, quase que marcas registradas, de tanto que aparecerem e tiveram destaque nas pistas.
As pinturas dos carros de corrida nada mais são do que uma forma de identificação visual com o nome e logomarca do patrocinador. Quase que um outdoor ambulante. Mas algumas pinturas foram tão bem criadas que todos lembram, independentemente dos resultados das corridas.
A seleção das cores dos carros começou como uma forma de identificar visualmente a nacionalidade das equipes, ainda no começo do século XX. A primeira vez que se utilizaram as cores registradas para cada nação foi na prova chamada Gordon Bennett Cup de 1900, na França, onde as equipes representavam suas origens, não os próprios pilotos.
Como nesta prova as equipes corriam defendendo seu país, cada uma com até três carros inscritos, deveriam ter as cores escolhidas para seus respectivos países, e assim que a Alemanha ganhou o branco, Bélgica ficou com o amarelo, a França com o azul e os Estados Unidos com o vermelho. Dois anos depois a Inglaterra teria o famoso verde oliva, cor que era utilizada na pintura de equipamentos pesados e locomotivas produzidos no país. A Itália ganharia o vermelho só depois de sete anos.
Com o passar do tempo, a necessidade de levantar mais fundos para bancar os custos das equipes trouxe a prática do patrocínio de empresas em troca de promoção das marcas. Esta forma de propaganda já era usada nos Estados Unidos em algumas corridas como a Nascar, mas apenas o nome ou no máximo a logomarca do patrocinador era colocada no carro, que tinha uma cor qualquer.
Na Fórmula 1, os patrocínios chegaram em 1968 com o Brabham de John Love que carregava o nome dos cigarros Gunston, mas quem popularizou os carros pintados completamente com as cores do patrocinador foi Colin Chapman com o Lotus 49 vermelho e dourado dos cigarros Gold Leaf.
Depois do Lotus, a F-1 e muitas outras categorias nunca mais foram as mesmas, e as tradicionais cores dos países de origem abriram caminho para as cores das empresas que pagavam para ter seu nome nos carros. Tudo em nome do dinheiro, afinal, era isso que mantinha uma equipe viva e fazia o mundo do automobilismo girar.
Aqui listamos alguns carros que são mundialmente conhecidos por um determinado esquema de cores e patrocínio, mas que tiveram outras versões, algumas mais outras menos conhecidas, mas diferentes da principal lembrança de cada um.
Ferrari 158 azul – 1964
Talvez a cor mais conhecida de um carro de corrida seja o vermelho, que até virou nome de cor, o famoso “vermelho Ferrari”. Desde os primórdios da equipe, quando ainda era um embrião dentro da Alfa Romeo nas corridas de Grand Prix, os carros já eram vermelhos, e até hoje são assim na F-1.
Em 1964, os pilotos oficiais da Ferrari eram Lorenzo Bandini e John Surtees, este último que foi campeão mundial da temporada com o modelo 158 da equipe italiana. A pintura normal dos carros era o tradicional vermelho, ainda no esquema das cores por nacionalidade, mas em determinado momento, Surtees apareceu com um Ferrari azul e branco. No caso, no Grande Prêmio dos Estados Unidos em Watkins Glen.
Por conta de um grande rolo entre Enzo Ferrari e os órgãos italianos organizadores dos campeonatos mundiais associados a FIA, a contragosto de algumas limitações impostas a ele na homologação do novo carro esporte 250 LM, sua revolta se transformou em uma expressão de ódio nacionalista.
Para mostrar sua indignação contra o Automóvel Clube da ItáliaI, o braço italiano da FIA que não o apoiou, afirmou que nunca mais correria com o vermelho da Itália em seus carros. Em Watkins Glen, os dois carros da equipe foram inscritos sob o nome da NART (North America Racing Team), a equipe de Luigi Chinetti, e pintados de azul e branco, cores da equipe americana.
As coisas logo voltaram ao normal e a Ferrari voltou ao clássico Rosso Corsa.
Porsche 917 Lucky Strike – 1971
O 917 é um dos Porsches mais famosos do mundo, depois do 911. É certo que a primeira imagem que vem à mente quando falamos de 917 é um carro azul e laranja nas cores da Gulf, imortalizado nas telas do cinema com o filme de Steve McQueen.
Além do carro nas cores da Gulf, o 917 também ficou bem conhecido nas cores da Martini Racing, outra marca muito famosa no meio automobilístico. No caso do 917 em questão nesta lista, falaremos do carro que pertenceu ao piloto inglês David Piper.
A equipe de Piper correu em 1971 com Porsches nas cores dos cigarros Lucky Strike, com os pilotos Richard Attwood, ingês, e Dave Charlton, nascido na Inglaterra e nacionalizado sul-africano. Em outro carro correram o americano Tony Adamowicz e o italiano Mario Casoni.
A cor mais conhecida nos carros de David Piper é o verde, mas este 917 branco e vermelho se destaca no meio de tantos outros.
Lotus 72D Lucky Strike – 1972
O lendário Lotus 72, uma das maiores criações de Colin Chapman, é facilmente reconhecido pelo bico extremamente baixo em forma de cunha e também pela cor preta. O patrocínio da John Player Special escrito em dourado no fundo preto do Lotus marcou gerações.
Emerson Fittipaldi ganhou seu primeiro título mundial com este carro, que ele mesmo dizia que só faltavam as alças para carregar o caixão, que era o que ele se lembrava ao ver o carro preto com detalhes dourados.
O 72 também teve outras cores na sua história, uma delas, a dos cigarros Lucky Strike. A equipe particular sul-africana chama Scuderia Scribante, criada por Neville Lederle e Aldo Scribante, correu com este carro com o piloto Dave Charlton (o mesmo que correu com o 917 de David Piper).
Na Fórmula-1, não conseguiu terminar nenhuma corrida com o 72D nas cores da Lucky Strike. Mas não deixa de ser um belo carro que agrada aos olhos.
Porsche 917/30 Vaillant – 1975
A era dos motores turbo começou nos anos 70, com destaque especial para o 917/30 que já falamos aqui no AE anteriormente. Foi uma loucura. Mesmo os poderosos McLaren V-8 não conseguiam acompanhar os quase 1.600 cv de potência germânica.
O 917 turbo mais famoso de todos foi o azul e amarelo da equipe de Roger Penske, patrocinado pela Sunoco, o qual teve muito sucesso nas mãos do americano Mark Donohue. Antes do /30, a Porsche apresentou o 917/10, que ficou muito conhecido nas cores da tabaqueira americana Liggett & Myerse que produzia os cigarros L&M.
Outro patrocinador conhecido dos fãs da Porsche dos anos 70 e 80 foi a Vaillant, empresa alemã fabricante de aquecedores residenciais. Este nome também passou pelos 917 turbo que disputou o campeonato chamado Interseries na Europa em 1975, com o piloto suíço Herbert “Herbie” Müller, campeão da categoria por três anos consecutivos (1974 a 1976).
Uma pintura muito chamativa, quase que podemos chamar de psicodélica, com tantas cores contrastantes. Não apareceu muitas vezes na forma dos 917, mas nos derivados do 911 foi mais conhecida.
McLaren M23 L&M – 1977
O M23 ficou mundialmente conhecido como o primeiro McLaren de F-1 a levar a marca Marlboro no esquema de cores que durou até os anos 90. O branco e vermelho na forma da bandeira da marca de cigarros marcou gerações, especialmente para nós, brasileiros. Emerson Fittipaldi foi campeão com este carro, Senna foi campeão com esta pintura. Até Nelson Piquet começou sua carreira na F-1 com um M23.
Outro M23 que ficou muito conhecido foi o que antecedeu a cores da Marlboro, no caso, o carro branco patrocinado pela Yardley, uma empresa britânica de produtos de cuidados pessoais. Mas, todavia, este não é o M23 em destaque aqui.
Como uma prática comum na época, muitas equipes grandes vendiam seus carros para equipes menores, e no caso, a McLaren vendeu um para a BS Fabricantions/Chesterfield Racing, uma pequena equipe independente da Inglaterra.
O piloto que usou o carro foi o americano Brett Lunger, que correu com alguns patrocínios diferentes, entre eles os cigarros L&M, patrocínio mais comum nos Estados Unidos.
Lotus 78 Imperial International – 1977
O 78 é outro caso que o preto e dourado dominam a memória de todos os fãs de F-1. Marcado como um dos primeiros carros-asa de grande sucesso na categoria, o patrocínio da JPS era referência já conhecida.
O marketing das grandes empresas sabe bem o que fazer, e principalmente como atacar os mercados de forma mais eficiente. No caso do patrocínio da Lotus na temporada de 1977, a JPS fazia parte de um grupo chamado Imperial International. Na corrida do Japão, em Fuji, a empresa decidiu pintar o carro de outra cor.
Por que fazer uma mudanças desta? Simples, no Japão os cigarros da marca Imperial eram muito mais conhecidos que os da John Player Special. Por ser do mesmo grupo, foi apenas uma questão de trocar a cor do carro e o nome. O carro de Gunnar Nilson foi pintado de vermelho e recebeu os logos da Imperial.
Lancia 037 Rothmans – 1985
A italiana Lancia deixou sua marca nas pistas de rali do mundo todo como uma das grandes marcas a disputar e vencer de forma heroica as mais duras provas do mundo. Entre seus principais modelos, vemos o Delta e o 037, este último, o derradeiro Lancia de rali de tração traseira que venceu os Audis quattro de tração integral.
O Lancia 037 foi um carro magnífico, construído de forma quase artesanal, ao melhor estilo de carro de corrida, ou seja, sem tanta atenção ao acabamento. O motor central e a tração traseira faziam dele um carro bem mais leve e simples se comparado ao complicado Audi quattro.
A Lancia ficou famosa nas pistas com carros pintados nas cores da Martini Racing e também da Alitalia, companhia aérea local. Seus principais rivais eram a Audi e a Peugeot. A Porsche também participava, numa categoria mais abaixo, com carros nas cores da Rothmans. Curiosamente, no Rali da Costa Brava (Espanha), a dupla formada pelo espanhóis Sabater Jordi e Servià Salvador correu com o 037 de número 4 patrocinado pela Rothmans, a principal patrocinadora da Porsche na época.
Era uma equipe independente, não oficial de fábrica, mas não deixa de ser curioso ver as cores da Porsche da época em um Lancia.
Porsche 962C Camel – 1988
Mais um Porsche na lista, desta vez o modelo 962C, um dos maiores vencedores da história da marca. Este carro foi um dos dominantes do extinto Grupo C, divisão de ponta da categoria dos carros de esporte protótipo. Quando chegou às pistas, ainda na primeira versão chamada 956, este Porsche equipado com motor de seis cilindros turbocarregado definiu um novo patamar para as corridas de longa duração.
A equipe oficial de fábrica correu com as cores do patrocinador Rothmans: azul, branco e dourado. Assim como muitas outras fábricas, a Porsche vendia seus carros para equipes particulares, muitos deles também bem conhecidos: a equipe Kremer com a pintura preta e vermelha da Kenwood, a Joest com o amarelo e preto da NewMan e também o vermelho e branco da Marlboro.
Um carro que para nós pode parecer mais diferente é o 962C usado pela equipe Brun nas cores da Camel, a mesma patrocinadora do Lotus amarelo de Ayrton Senna. Talvez mais conhecida pelo Porsche laranja patrocinado pela Jägermeister, a Brun teve diversas pinturas diferentes, mas a Camel é uma especial. Associada sempre à F-1 e a Lotus, o carro todo amarelo com os logos azuis da Camel chama a atenção.
Mazda 787B Efini – 1991
Quando fala-se de Mazda de corrida, imediatamente recordamos do clássico 787B que foi o primeiro carro japonês a vencer a 24 Horas de Le Mans, e o primeiro e único a vencer com um motor que não tem pistões convencionais de movimento retilíneo, mas rotativos, e quatro deles. E este carro é laranja e verde, cores associadas ao patrocínio da Renown, poderosa indústria têxtil e de vestuário japonesa. Aqui vamos mostrar o modelo que correu no Japão, no campeonato local de carros esporte protótipo do começo dos anos 90.
Com as cores verde e branco, sob o patrocínio da Efini, divisão da Mazda responsável por uma linha de luxo exclusivo para o mercado japonês, que na verdade nada mais era do que alguns modelos da própria Mazda renomeados e que não atendiam totalmente aos requerimentos legais locais, o 787B destaca-se novamente não apenas pelo motor rotativo, mas também pela engenharia aplicada na construção do carro como um todo que possui características tão únicas por conta do seu motor.
Correndo com esta pintura principalmente no Japão, o 787B teve relativo sucesso frente aos concorrente da Toyota e Nissan.
Audi R8 “crocodilo” – 2000
A Audi dominou a categoria de ponta dos carros protótipos nas corridas de longa duração desde a entrada do modelo R8.
Para a última corrida do ano de 2000, e a última corrida do século XX, chamada de A Corrida dos Mil Anos, a Audi decidiu fazer um carro com uma pintura especial, para “homenagear” a cidade de Adelaide e a Austrália, país tradicional por ter muitos crocodilos e grandes répteis. Um dos dois carros da equipe, o pilotado por Rinaldo Capello (italiano), Allan McNish (escocês) e Brad Jones (australiano) foi totalmente repintado para parecer um crocodilo.
A pintura chamou tanto a atenção de todos que até mesmo os competidores entraram na onda da brincadeira e apareceram no paddock e nos boxes com chapéus e chicotes estilo “Crocodile Dundee”, para dizer que iam domar o crocodilo da Audi.
A Audi, além de conseguir marcar o evento com o carro especial, não fez menos do que vencer a corrida com ele, depois de ter conquistado a pole nos treinos classificatórios.
Se você lembra de outros exemplos de carros com pinturas diferentes ou incomuns, poste uma foto nos comentários para enriquecermos esta matéria com belas fotos de carros de corrida de primeira linha.
MB