Entre as melhores do mundo?
Sem dúvida. Antes mesmo das novas regras estabelecidas pela ANP (Agencia Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), já tínhamos uma gasolina de excelente qualidade. Mas ficava devendo a densidade mínima, que deverá ser de 715 g/L a partir de novembro (diz a Petrobrás que a dela já era). A octanagem está entre as melhores do mundo (RON 102 na Podium da BR, 103 RON na Octapro da Ipiranga, RON 93 na comum da BR). E seu teor de enxofre foi reduzido (2014) de 800 para 50 ppm (30 ppm há anos na Podium).
Sua desvantagem em relação às do Primeiro Mundo é conter 27,5% de álcool (25% nas premium), que faz cair seu poder calorífico. Porém, o maior problema ainda é a ineficiência de fiscalização: sai das refinarias com padrão internacional, mas a adulteração faz baixar sua qualidade na bomba.
Adição de álcool é prejudicial?
Motoristas alegam ser impossível comparar nossa gasolina com a de outros países: recebem gato por lebre (“alcolina”) na bomba, pois lá fora ela não contem álcool. Só estão certos em parte. Primeiro porque a mistura não é exclusividade nossa, mas tem também em outros países. Como nos EUA e na União Europeia, onde o conteúdo de álcool é 10% e quando tem é devida e honestamente informado na bomba. Mas estão mais do que certos quando se trata de percentual: 27,5% é um exagero, de fato.
Mas o álcool traz vantagens: se, por um lado, reduz o pode calorífico, por outro aumenta a octanagem, dispensando, assim, a produção de gasolina básica (a “A”) com maior octanagem
Problema: adulteração
Nosso combustível sofre com a desonestidade praticada em larga escala quase impunemente e até com tecnologia sofisticada. A gasolina é adulterada, ou com solventes, ou com álcool além do estipulado. Além disso, tem posto que também burla o volume entregue.
O álcool também é vítima, “batizado” com água em percentual acima dos 7% estabelecidos. Já vi, na Bosch (Campinas), bomba e bicos danificados por água do mar adicionada ao álcool hidratado!
Parte da culpa dos próprios motoristas que não exigem, como deveriam, os testes presenciais no posto, que determinam qualidade (e quantidade) do combustível.
Mais cara do mundo?
Longe disso: o litro de nossa gasolina custa, em média, 0,75 de dólar. Existem mais baratas, sem dúvida. Mas várias outras muito mais caras no México, Cuba, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Mônaco, Islândia. A mais cara do mundo está em Hong Kong: quase US$ 2 o litro. A nossa poderia ser bem mais barata, não fossem nossos impostos.
E a aditivação?
Ficou na intenção…
A ANP bem que tentou, com uma resolução que deveria vigorar em janeiro de 2014, a aditivação de toda nossa gasolina. Adiou para julho de 2015, mais uma vez para julho de 2016, mas acabou desistindo da idéia por absoluta falta de entendimento entre Petrobrás e distribuidoras.
Aumenta o consumo
Afirmar que o motor a gasolina no Brasil supera o consumo em outros países é meia-verdade. O motor bebe um pouco mais devido aos 27,5% do álcool. Porém, muitos ignoram que a gasolina pode, por desonestidade, conter percentuais de álcool muito maiores que os 27%, o que aumenta o consumo.
Quem determina o percentual de álcool?
A ANP é acusada de determinar os elevados percentuais de álcool na gasolina. Não é decisão dela, mas do governo. Muito mais política que técnica: a mistura subiu para 27,5% durante o primeiro mandado de Dilma Rousseff, que cedeu à pressão dos usineiros.
Octanagem não “subiu” de 87 para 92
Motoristas suspeitam não ter havido aumento de octanagem de 87 para 92, conforme anunciado, pois não perceberam mudança no desempenho do motor. Mas é porque não aumentou mesmo: a octanagem era definida pelo IAD (média entre os sistemas RON e MON), o mesmo usado nos EUA. A ANP mudou para o sistema RON (como na Europa). Então, permaneceu a mesma pois IAD 87 é o mesmo que RON 92. Aliás, diz a Petrobrás que já fornecia gasolina RON 93 (que só será exigida a partir de 2022) antes mesmo das novas regras.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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