A notícia saiu ontem. As vacinas contra o coronavírus precisam ser armazenadas a uma temperatura de – 75 ºC. A única maneira de fazer isso na escala necessária e urgente é por meio de câmaras com gelo-seco no seu interior. É exatamente como se fazia antes da chegada dos refrigeradores, armários herméticos nos quais se colocavam grandes blocos de gelo muitas vezes vendidos em domicílio pelos geleiros — cheguei a vê-los ainda criança no bairro em que eu morava com a família, a Gávea, no Rio de Janeiro. Os blocos de gelo eram transportados em bicicletas numa grande caixa apoiada sobre o guidão e o geleiro seguia anunciando seu produto, “Geleiro!!!”
Mas, como produzir o gelo-seco? O processo é simples. O gás dióxido de carbono solidifica-se ao ser resfriado a uma temperatura inferior a – 78 ºC. Pronto. Colocado o bloco de gelo-seco num ambiente hermético (contendo as vacinas) estas ficam devidamente resfriadas e prontas para aplicação. Como os alimentos nas “geladeiras” do passado. Ou refrigerantes e cerveja nas caixas de Isopor cheias de gelo.
Para quem não sabe, aquela linda névoa usada no palco nas festividades é gelo seco, que ao receber ar quente, passa direto do estado sólido para gasoso, a chamada sublimação, e que é nada mais que CO2.
O problema para produzir o gelo-seco é conseguir a matéria-prima em grandes volumes e com a necessária rapidez, conforme a Pfizer apontou nas matérias veiculadas na imprensa ontem.
O leitor do AE já está acostumado com nossas recorrentes críticas à desenfreada e histérica luta para reduzir as emissões de CO2, tanto ao estimular o carro elétrico quanto ao pretender banir o motor a combustão, já havendo até data marcada para isso. A culpa é dos combustíveis fósseis, alegam.
Sem tal redução de emissões de CO2, dizem especialistas e climatologistas, o CO2 cada vez mais acumulado na troposfera agirá como capa térmica da Terra impedindo a dissipação do calor no espaço, o que elevará a temperatura média do planeta e ocasionará mudanças climáticas.
Há até um termo para o elenco de medidas para reduzir o CO2: descarbonização…
Como aproveitá-lo da queima de combustíveis fósseis, deixo para os químicos resolverem. Maneira deve haver. Da mesma forma que um dia bem no começo do século 20 o suíço Alfred Buchi pensou em aproveitar a energia dos gases queimados que eram lançados na atmosfera para impulsionar uma turbina e esta, um compressor, nascendo o turbocompressor.
O inimigo CO2, portanto, mostra a sua face amiga do Homem e contribuirá inequivocamente para salvar bilhões de vidas nesse lar chamado Terra. Olhemo-lo com outros olhos.
BS