A Mercedes-Benz decidiu produzir no Brasil o primeiro modelo compacto de sua história, o Classe A. Até então, seu de carro de menor comprimento era o Classe C.
O Classe A foi lançado na Europa em 1997 a partir de um projeto inovador e que jogava por terra todos os conceitos mecânicos e estilísticos adotados pela marca. Foi o primeiro Mercedes compacto, monovolume e com tração dianteira. Para ter agilidade no trânsito e fácil de estacionar, seu comprimento era de apenas 3,60 metros, semelhante ao de um Fiat 147.
Para compensar seu reduzido comprimento, sua altura foi elevada, possibilitando os passageiros do banco traseiro esticarem as pernas. Outro conceito revolucionário foi de direcionar o conjunto motor e caixa para baixo do carro no caso de um impacto frontal, evitando invadir a cabine.
Entretanto, meses depois de seu lançamento, capotou no “Teste do Alce” realizado pela revista sueca Mundo Tecnológico, exatamente por ser elevado. A fábrica recolheu os carros já vendidos, refez a suspensão e introduziu o controle eletrônico de estabilidade (ESP).
Dois anos depois, em junho de 1999, o Classe A inaugurou a fábrica de Juiz de Fora, MG, a primeira de automóveis Mercedes fora da Alemanha. Seu lançamento foi precedido de uma longa e inédita campanha publicitária com o tema “Você de Mercedes”. A fábrica mineira foi concebida para produzir 70 mil unidades anuais, mas não chegou a este número sequer na produção acumulada (63 mil exemplares) até 2005. Foi considerado durante muitos anos como o mais moderno automóvel do nosso mercado, pois oferecia toda a sofisticação e segurança dos Mercedes de segmentos superiores.
O fracasso do carro teve algumas explicações. A primeira, o estilo decepcionante, nada que lembrasse a imagem dos belos sedãs, marca registrada da Mercedes. Era, ao contrário, um monovolume, ou um hatch de quatro portas.
Em segundo lugar, pelo seu grande percentual de componentes importados e o dólar ter pulado de R$ 1,10 para R$ 1,90 em janeiro de 1999, o que tornou impossível manter os R$ 27 mil imaginados para seu lançamento. Ele chegou tabelado por R$ 33 mil, e só não foi ainda mais caro pois a fábrica decidiu assumir um prejuízo de cerca de 10% de seu valor.
O terceiro golpe a nocautear o Classe A no Brasil foi a reação negativa do mercado a um compacto, porém superssofisticado em termos de equipamentos de segurança e conforto. Não passava pela cabeça do brasileiro pagar tanto por um carro menor que um Fiat 147.
A produção do Classe A foi minguando até que se decidiu encerrar sua produção em agosto de 2005, sete anos após o início da fabricação em fevereiro de 1999.
Duas histórias coincidentes
Exatamente quinze anos após a Mercedes ter iniciado a produção do Classe A em Juiz de Fora (fevereiro de 1999), a Volkswagen começou, em fevereiro de 2014, a produção do up! no Brasil, na fábrica de Taubaté. O modelo europeu foi lançado em 2011 com projeto do designer brasileiro Marco Antônio Pavone. A VW cometia o mesmo engano da Mercedes ao trazer um modelo que definitivamente não caiu no gosto do brasileiro.
O up! tem exatamente os mesmos 3,60 metros de comprimento que o Classe A. E sua produção durou os mesmos sete anos, pois foi desativado no mês passado, em março.
O fracasso do subcompacto da Volkswagen segue a mesma linha de raciocínio do Classe A, a começar do estilo, com linhas simples e racionais, um projeto mais preocupado com a funcionalidade. E também se esquecendo, assim como a Mercedes, de que “beleza põe mesa”.
Assim como o Classe A, o VW up! foi também considerado o mais moderno subcompacto brasileiro. O primeiro a receber cinco estrelas no crash test e oferecer inúmeros dispositivos de segurança ativa e passiva. Direção assistida eletricamente. Motor 1,0 de três cilindros, turbo, comando duplo, injeção direta e 105 cv (álocol) conferia ao carro um desempenho excepcional e o menor consumo do nosso mercado. O pequeno VW dava um show de tecnologia, segurança, e conforto em seus concorrentes, Uno, Mobi e Kwid.
Entretanto, assim como o Classe A, seu preço não era competitivo (R$ 60 mil) e suas vendas jamais deslancharam. E o tiro de misericórdia foi disparado, pois o VW up! não era constituído da mesma plataforma hoje utilizada por todos os modelos compactos e médios do Grupo VW.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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