Foi um verdadeiro furor entre os amantes do carro em nível global, pois a imprensa de todo o mundo publicou esta notícia com destaque. A imprensa brasileira não ficou para trás como a matéria assinada pelo jornalista Fernando Saliba, publicada no Caderno de Automóveis do jornal Diário Popular, publicada em 19 de janeiro de 1991, reproduzida abaixo:
Ainda hoje existem e são comercializados, por exemplo no Mercado Livre, adesivos que muitos colocam em seu carro, com a pergunta: “O seu é do ano? O meu é do Século!” Como o da ilustração apresentada na foto de abertura e na foto abaixo:
Estou reportando um acontecimento de 30 anos atrás e a pesquisa não foi tão simples assim. Eu tenho vários jornais e revistas da época, mas eu queria encontrar informações mais completas.
Dei uma pesquisada no material nacional, depois de experimentar vários critérios de busca e cheguei a um jornal canadense, o Calgary Herald, de Calgary, Alberta, que na página 74 da edição de 8 de fevereiro de 1991, seção Wheels, publicou a notícia conforme a ilustração abaixo:
Dentre os demais materiais brasileiros de meu arquivo eu selecionei este dois para ilustrar esta matéria, iniciando pela revista Oficina Mecânica:
Passo para a nota do Jornal da Tarde que na parte do Carro do Século informa corretamente. Já na parte em que a nota diz que o dia 20 (de janeiro) é a data que marca o momento que o carro (Fusca) deixou de ser fabricado em 1986 o Jornal da Tarde fez confusão. A data do Dia Nacional do Fusca, 20 de janeiro, não tem conexão alguma com a história do Fusca como explicado na matéria “Vinte de janeiro, Dia Nacional do Fusca, mas por quê?”.
Mas o melhor material que eu encontrei acabou sendo do site do Club Vee Dub, de Sydney, na Austrália, fundado em 1985, que manteve a reportagem em seu arquivo por todo este tempo. Isto mostra a abrangência da notícia desta eleição para Carro do Século pelo mundo.
A revista francesa Auto Moto, escolheu arbitrariamente 100 carros para que entre eles fosse eleito o Carro do Século. Curiosamente o Fusca que foi colocado nesta lista foi a primeira versão apresentada à imprensa me 1939, mas como o Fusca se manteve fiel à sua identidade até o seu final de fabricação, a eleição se referiu ao Fusca em geral.
A escolha dos 100 carros, entre os quais as respectivas eleições iriam ser feitas, seguiu apenas duas diretrizes principais: deveriam ser veículos de passageiros de produção em massa e tinham que ter estado à venda ao público em geral.
O júri internacional composto por 100 jornalistas especialistas em automóveis foi escolhido em 37 países ao redor do mundo, na América do Norte e do Sul, na Europa e na Escandinávia, na África, no Sudeste Asiático, na então União Soviética, na Ásia e na Australásia.
Esta pesquisa foi ideia de Lionel Robert, editor da Auto Moto, uma publicação de automobilismo líder na França. Os jornalistas participaram a convite em 1990, e tinham até 5 de novembro para enviar suas indicações.
Na categoria principal, que elegeu o “Carro do Século”, o Fusca ganhou a pesquisa com 22 votos, seguido pelos Modelo T Ford com 19 votos, Citroën DS19 com 12 votos, Mini com 11 votos, Porsche 911 com 6 votos e Daimler 1886, Citroën Ligière 15 e Citroën 2CV, com três votos cada. Depois disso, com dois votos cada, estavam a Bugatti 35, o Chevrolet Corvette, o Mercedes SSK, o Mercedes 300SL e o Volkswagen Golf GTI.
Com um voto cada, entre os finalistas ficaram: BMW Z1, NSU Ro80, AC Cobra 427, Duesenberg J, Bugatti 57, Citroën XM, Renault Espace, Cisitalia 202, Ferrari F40, Lancia Lambda e Honda Civic; fechando a quantidade de 100 votos dados aos carros escrutinados.
Também foi escolhido o “Fabricante de Automóveis do Século”, vencido pela Citroën, depois a Mercedes, a Ford, e a Volkswagen em quarto (e a Ferrari em nono!).
Na seleção de “Acontecimento Social do Século” (diferente de Carro do Século), a Volkswagen foi ultrapassada pelo Modelo T da Ford, com o Mini em terceiro.
Na categoria “Eventos Tecnológicos do Século”, a “Família Volkswagen” alcançou o segundo lugar com o Audi Quattro, e em quarto o NSU Ro80. O 25º (último lugar) foi o bugre de praia Meyers Manx, que normalmente tinha um motor VW. O vencedor nesta categoria foi o Citroën DS19.
A “Família Volkswagen” passou em branco na categoria “Prestígio e Esporte do Século”, embora o seu “primo” Porsche 911 tenha sido declarado Vencedor (naquela época a Porsche ainda não pertencia à família).
Na esteira da escolha do Fusca como Carro do Século surgiram livros que usaram este epiteto como título, propagando mais ainda esta conquista, abaixo dois exemplos.
O livro artesanal em quatro volumes de J. T. Garwood, considerado a bíblia técnica dos Fuscas exportados para os EUA (depois ampliados e passados para edição em meio digital em PDF devido aos custos de impressão) chamado: “Volkswagen Beetle The Car Of The Century” — Fusca o Carro do Século (Garwood faleceu em 2016, mas ainda hoje este livro é muito procurado).
O outro apresenta um novo enfoque sobre a história do Fusca, fazendo uma repaginação do que já havia sido apresentado em outros livros, que é o livro de Richard Copping chamado de: “Volkswagen Beetle: The Car of the 20th Century”.
Quem é do meio dos apaixonados por Fusca e viveu o anúncio da escolha do Fusca como “Carro do Século” pela Auto Moto em 1991, mesmo talvez não conhecendo todos os detalhes descritos acima, certamente recebeu a notícia com muito orgulho e, como o fato do adesivo citado acima ainda estar à venda, esta classificação permanece válida no meio Fuscamaniaco até hoje.
Independentemente de eleições semelhantes posteriores, organizadas por outras entidades poderem ter dado resultados diversos, e do ceticismo daqueles que não acompanharam esta história toda, permanece válido aquele dito popular: “quem foi rei jamais perde a majestade”.
E o Fusca permanece sendo o “Carro do Século”.
AG
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