Rubens Florentino Júnior é um colaborador desta coluna de longa data, e desta vez ele nos traz um causo com seu pai que tem uma longa vida dedicada aos VW Fuscas, dedicação que virou hobby.
O Fusca predileto de meu pai
Por: Rubens Florentino Júnior
Não é fácil tentar resumir a importância do Fusca no Brasil, afinal, o carro ajudou a transformar o país em uma nação motorizada. Com ele nós aprendemos não somente a dirigir, mas também como consertá-lo, como tratá-lo com carinho e naturalmente, como amá-lo com todo nosso coração.
O primeiro Fusca brasileiro deixou a linha de montagem no dia 3 de janeiro de 1959. Ele ainda tinha 46% de suas peças importadas da Alemanha, mas não demoraria muito para se tornar 100% nacional. E agora, em 2023, a Volkswagen do Brasil completa 70 anos, pois ela foi fundada no dia 23 de março de 1953.
As qualidades do Fusca no “off-road” vieram bem a calhar num país em que estradas pavimentadas eram um luxo. O carro era ainda confiável, barato e de fácil manutenção. Não é de se admirar que nos apaixonamos tanto por ele.
Meu pai, Rubens Florentino Sênior, que durante a sua vida profissional manteve uma oficina para instrumentos automobilísticos, sempre foi um fã incondicional do Fusca. Para ele o “Besouro” já foi um companheiro fiel não só no dia a dia — ele teve vários. O VW Fusca também o acompanhou em competições. E agora, para o meu pai que já está aposentado, o Fusca se transformou em hobby.
Alguns anos atrás meu pai recebeu um presente muito especial, um Speed 1600 que pertenceu ao seu irmão, já falecido. Esse causo foi contado aqui em “Falando de Fuscas & Afins” com o título: “O ‘VW Fusca’ e como nós o pilotamos em competições“.
Após reformar este carro, meu pai pegou gosto pela coisa e começou a comprar e restaurar alguns Fuscas e agora ele conta com uma pequena coleção de quatro Besouros.
Algumas semanas atrás ele me mandou umas fotos do seu Fusca 1978, vermelho, que é o melhor exemplar de sua pequena coleção e que aparece com ele na foto de abertura, tirada na frente de sua casa. Este é o “predileto” de sua coleção.
Meu pai comprou esse carro em uma loja de usados na cidade de Luiz Alves, SC, que é vizinha de Barra Velha, onde ele mora desde que se aposentou. Não é novidade para ninguém que o antigomobilismo é um hobby para pessoas que, em sua maioria, têm uma conta bancária com fundos ilimitados, porém meu pai não se encaixa nessa categoria de maneira alguma. Tudo que ele faz nesse hobby é dentro de um orçamento bem apertado.
Quando ele encontrou o “predileto”, o estado geral dele era muito bom e o preço que estavam pedindo era bem razoável. Mesmo assim meu pai negociou o preço por semanas até chegar a um valor que ele se sentiu confortável em pagar.
De acordo com o dono da loja, esse Fusca ficou à venda por meses e nenhum comprador sério se interessou por ele, o que é uma surpresa. Acredito que o carro estava predestinado a ser do meu pai.
O Fusca não está 100% original. O dono anterior fez algumas alterações para que ele ficasse parecido com o modelo “Itamar”, que foi fabricado entre 1993 e1996. Os para-lamas traseiros com lanternas em estilo “Fafᔹ, faróis auxiliares, para-choques na cor do carro e o volante não pertencem ao ano-modelo 1978. Porém meu pai não está preocupado com estas alterações, afinal de contas o carro está bonito e se ele quiser voltar o carro ao original será um trabalho fácil de se fazer.
Este VW Fusca não tem pontos de ferrugem e nunca foi envolvido em acidente.
O motor 1300 foi todo retificado e os demais componentes mecânicos como transmissão, suspensão, freios e caixa de direção foram todos devidamente revisados.
O Fusca recebeu apenas uma nova forração de teto, pois o resto estava em boas condições. O rádio eu não acredito que seja original, mas é um “acessório de época”.
As rodas de liga de alumínio foram retiradas de um outro Fusca de sua “coleção” e receberam um jogo de pneus Kumho 185/70R14. Abaixo, a foto do VW Fusca que doou as rodas para o “predileto”. Esta foto foi feita no dia em que meu pai comprou esse Fusca 1981, que é o último VW Fusca que ele comprou, até agora… O carro não estava andando e ele o rebocou, usando o mesmo cambão que ele usava para puxar o Speed 1600.
O “Rubão”, que é como os amigos conhecem meu pai, faz a maioria dos trabalhos de restauro sozinho. Confesso que as vezes fico preocupado, afinal ele está com 73 anos e não deveria estar retirando e instalando motores e transmissões sem ajuda de alguém.
Na foto abaixo meu pai está com a mão na massa no câmbio do VW Fusca 1968 amarelo que aparece no fundo da foto. O dono anterior desse Fusca o transformou para 1980. Este VW Fusca foi comprado para servir de doador de peças, mas o coração falou mais alto e ele acabou decidindo restaurá-lo também.
Mas ao mesmo tempo fico muito feliz por saber que ele está fazendo o que sempre gostou. Carros fazem parte de sua vida desde que ele era garoto.
Esse Fusca é resultado de toda a sua dedicação e trabalho duro. O carro ficou lindo e anda como se fosse novo.
Ah, em tempo: falo na maneira que o carro anda. Quando a mecânica do “predileto” ficou pronta, meu pai ficou ansioso para testar o carro e decidiu ir com ele visitar meu irmão em Curitiba, que fica no planalto a 175 quilômetros ao norte de Barra Velha, que fica no litoral de Santa Catarina. Mesmo com três pessoas no carro e rodando com as rodas originais aro 15, o motor 1300 não decepcionou e deixou muitos carros modernos para trás na subida da serra. E ainda provou que meu pai, mesmo aos 73 anos, ainda sabe como “tocar” um Fusca.
Ele não podia estar mais orgulhoso.
Parabéns, pai!
(¹) – Em especial para nossos leitores do estrangeiro: Fafá de Belém é uma cantora brasileira, muito popular no final dos anos 70 e início dos anos 80. Ela era conhecida não apenas por sua voz, mas também por seus seios avantajados. Em 1980, a VW lançou um VW Fusca redesenhado, com para-lamas traseiros mais protuberantes e lanternas traseiras bem maiores e arredondadas. Não demorou muito para algum espirituoso chamar o novo modelo de “Fafá”. O apelido pegou e mesmo depois de todos esses anos ainda é amplamente utilizado.
AG
Agradeço ao Rubens Florentino Júnior, que mora no Canadá, por mais esta participação em minha coluna. Nos comunicamos por WhatsApp, e-mail e telefone.
Aproveito para enviar meus parabéns ao Rubens Florentino Sênior pelo vigor com o qual ele tem conduzido as restaurações de seus Fuscas.
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