(¹) Explicando: o nome completo da empresa é “Karosseriewerke Joseph Hebmüller Söhne” – Fábrica de carrocerias dos filhos do Joseph Hebmüller, formada em 1919 depois da morte do patriarca Joseph Hebmüller, quando quatro de seus filhos assumiram a empresa.
Um pouco de história
Ivan Hirst chegou à Alemanha no verão de 1945, junto com seu colega e superior, o coronel Charles Radclyffe, quando o exército britânico assumiu o controle da cidade de Fallersleben. A Segunda Guerra Mundial estava se aproximando do final.
As forças terrestres russas já haviam localizado a fábrica, então na cidade que ainda se chamava Fallersleben, depois de cruzar o canal Mittelland (mais longo canal navegável alemão com 326 km), mas não se interessaram por ela. Em seguida, o exército dos EUA a encontrou, mas, mais uma vez, ela não despertou interesse; eles ficaram pouco tempo, mudaram o nome da cidade para Wolfsburg e a deixaram.
Quando os britânicos chegaram à fábrica, Hirst, sentindo que algo não estava certo, rapidamente retirou alguns detritos do prédio da usina geradora de eletricidade (termoelétrica a carvão) e descobriu que eles haviam sido colocados lá para disfarçar o fato de que ela ainda estava em funcionamento.
Em seguida, Hirst encontrou um protótipo de Volkswagen de antes da guerra em uma oficina remota localizada no terreno da fábrica e percebeu que a fábrica poderia ser usada para produzir carros para o exército britânico. Assim, Hirst e Radclyffe lançaram as bases para o bem-sucedido negócio automobilístico da Volkswagen, pois ali iniciava o salvamento daquela fábrica, apesar dos severos danos infligidos pelos pesados bombardeios dos aliados.
Grande parte do maquinário sobreviveu ao bombardeio, tendo sido armazenado em vários prédios externos. Os carros eram montados com estoque antigo de peças e tudo o que podia ser encontrado, muitos foram montados usando peças do Kübelwagen até 1946, quando a fábrica produzia cerca de 1.000 carros por mês.
Hirst ficou fascinado com o potencial de um “Kommandeurwagen” com tração nas quatro rodas, que ele tinha certeza de que seria vendido para os setores florestais da França e do Canadá, mas esta versão nunca entrou em produção. Ele também gostava da versatilidade comprovada da mecânica Volkswagen, demonstrada pela Ambi Budd, Karmann e outros fabricantes de carrocerias. Hirst terminou a guerra como major.
Ele sabia que seria incrivelmente difícil criar um fabricante de carros bem-sucedido com apenas um modelo, por isso foram encomendados alguns protótipos pensando em diversificar os produtos. Isto visava a exportação de carros, já que naquela época o alemão médio não tinha como comprar um carro.
Disso resultaram os dois dos carros “especiais” mais significativos desenvolvidos pela Volkswagen enquanto estava sob o controle dos britânicos que foram o “Radclyffe Roadster” e um conversível de quatro lugares, ambos construídos sob medida por Rudolph Ringel (antigo funcionário que tinha uma “oficina mágica” no terreno da fábrica). O “Radclyffe Roadster” era um carro de dois lugares que foi o transporte pessoal do Coronel Charles Radclyffe durante os meses de verão de 1946. Já o conversível de quatro lugares foi o transporte pessoal de Ivan Hirst.
História da Karosserie Hebmüller e do VW 14A
A empresa foi fundada em 1889 por Joseph Hebmüller em Wuppertal, Alemanha, como construtora de carrocerias de carruagens puxadas a cavalo. Quando Joseph faleceu em 1919, quatro filhos assumiram a empresa e começaram a fabricar carrocerias para automóveis. A empresa foi muito bem-sucedida durante as décadas de 1920 e 1930, fabricando cupês e conversíveis para Hanomag, Delahaye, Ford e outros.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as habilidades de marcenaria da empresa foram utilizadas para fazer grandes aviões de engodo de madeira (eram usados para enganar os inimigos) e, no final da guerra, a empresa estava com dificuldades financeiras. A empresa precisava voltar a construir carros para se recuperar.
Em 1948, a Hebmüller estava em negociações com a Volkswagen, então controlada pelos britânicos, juntamente com a Karmann, para criar uma versão conversível do Beetle. A Karmann construiria a versão de 4 lugares e a Hebmüller construiria uma versão roadster de dois lugares baseada no “Radclyffe Roadster”.
Seguem alguns estudos de carroceria da Hebmüller (Fotos: Hacksaw-BoB/The Samba):
Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las
Na foto abaixo o único exemplar de um Hebmüller cupê de que se tem conhecimento, resultado dos estudos apresentados acima, ele foi produzido em 1949:
Em fevereiro de 1949 a Hebmüller já tinha feito dois protótipos conhecidos como 14-1, 14-2. Esses carros foram para o programa de testes, mas falharam. A Volkswagen encomendou outro protótipo em março de 1949 para ser testado.
Nesse ponto, a Volkswagen já encomendara à Hebmüller uma configuração completa segundo o modelo de exportação do Sedan que foi colocado à venda em junho de 1949, com friso lateral com nervuras (não na tampa do motor), botões de painel em marfim, relógio de 100 mm de diâmetro, gradinha da buzina circular e todas as outras peças da versão de exportação.
Antecipando um pouco a história vamos ver o detalhe que foi mudado na versão final que foi a posição e modelo da entrada de ar para o motor, que migrou de venezianas na tampa do motor para uma grade bipartida na carroceria do carro acima do limite superior da tampa do motor como se pode ver na foto abaixo:
É interessante observar que nos Hebmüllers, ao contrário do que ocorre nos cabriolés da Karmann, a capota fica recolhida dentro da carroceria, como se pode ver na foto abaixo:
Como os engenheiros da Volkswagen ainda não estavam satisfeitos, eles encomendaram o quarto protótipo em algum momento no início de 1949, mas desta vez Rudolph Ringel fez o carro em sua oficina especial em Wolfsburg. Foi esse carro que se tornou o padrão da Hebmüller. Neste carro eles ajustaram os planos e desenhos a serem utilizados na produção.
Outro detalhe que chama a atenção neste tipo de carro é a enorme tampa do motor. Sim, no caso do “Radclyffe Roadster” esta tampa foi feita de um capô dianteiro enxertado com chapa e trabalhado para chegar à forma desejada. Já nos primeiros protótipos da Hebmüller as tampas do motor foram feitas de chapa rebatida sobre um molde de madeira. Mas nos carros de pré-série e nos de produção foi feita uma matriz para prensa e elas foram estampadas, como se pode ver abaixo:
A produção do roadster Hebmüller começou em junho de 1949, vamos ver algumas fotos da fábrica:
Porém, logo após o início da produção, em 23 de julho de 1949, houve um incêndio na oficina de pintura que rapidamente se espalhou para outras áreas por falta de água e danificou alguns dos carros. Em poucas semanas, os danos foram reparados e a produção foi retomada em uma fábrica renovada com maquinário atualizado. O Type VW 14A seriam fabricados por mais um tempo, mas a produção seria encerrada em 1952, desta vez definitivamente.
A empresa ainda estava lutando para se reerguer após a guerra e não tinha seguro para o incêndio, e acabou não tendo outra opção a não ser declarar falência em maio de 1952. Um total de 682 Tipo 14A foi fabricado na fábrica da Karrosserie Hebmüller e as peças de outros 14 carros foram enviadas à Karmann, em Osnabrück, para acabamento, totalizando 696.
Atualmente, o Hebmüller Type 14A é considerado um dos mais raros e desejáveis Volkswagens arrefecidos a ar, já que se estima que só uma centena sobreviveu.
Folheto de propaganda do VW 14A
AG
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